Existem
diversos tipos de prazer, porém todos eles estão ancorados em uma sensação ou
emoção agradável, ligada à satisfação de uma vontade ou necessidade que se
encontra nos domínios físicos, emocionais e/ou mentais.
Porém
nenhum prazer, saudável, é mais polêmico do que o sexual. Para muitos de nós o
prazer sexual é tratado com tabu, superficialidade e com o único objetivo, o
gozo. Não falo apenas das mulheres, que certamente estão em situação de
desigualdade em relação aos homens.
Criamos
homens com a liberdade de e estímulo para verem pornografia, se estimularem
desde cedo e a serem satisfeitos na relação sexual, cujo maior objetivo é o
gozo.
Criamos
meninas para serem tratadas igualmente em casa, na escola, no emprego, mas não
em suas vidas pessoais. A maioria das mulheres não experienciam orgasmo durante
a relação sexual até os 20 ou até os 30 anos.
Um estudo
com mais de 8 mil mulheres, do Prof. Osmo Kotunla, um finlandês, demonstrou que
4 fatores são importantes para o orgasmo: a importância que tem o orgasmo para
a pessoa; o tamanho do desejo sexual; a autoestima e autoconfiança sexual; e a
abertura para a comunicação sexual com o parceiro.
Ele aponta
como um fator importantíssimo para o orgasmo, a capacidade de prestar atenção
no presente. Ou seja a atenção, pode fazer toda a diferença entre o gozo e o
orgasmo. Explico. O gozo é a capacidade de chegar ao “fim” da relação sexual,
tanto para homens quanto para mulheres. É a experiência do prazer físico e tudo
que ele traz, como o relaxamento, a ejaculação, o “alívio” e com sorte o
carinho, a gratidão pelo momento.
Já o
orgasmo é tudo isso com o plus emocional, a conexão, a intimidade, o
alcance de um espaço no qual não há sujeito, não há diferença entre os
parceiros, o lugar da união física e emocional. No qual os pensamentos dão
lugar ao flow, à sensação de total presença no aqui e agora, ao silêncio
e quietude.
Lições do
Kamasutra, escrito pelo indiano Vatsyayana Mailanaga, em 1883. Kamasutra está
longe de tratar de posições sexuais, como muitos de nós conhecemos ou pensamos.
Kama significa prazer, desejo e está relacionado aos 4 objetivos, finalidade da
vida humana, denominado pelo termo purushartha. São eles, entender a
natureza do amor, encontrar um parceiro, manter uma vida sexual saudável e
outros aspectos de prazer na vida humana.
A maioria
do livro é sobre a praticidade do amor, métodos para o cortejo e namoro, um
estudo do que detona o desejo e o mantém.
Ele
discorre como tornar-se atraente, descreve diferentes uniões sexuais: abraços,
beijos, arranhões, mordidas, posições, atos, estimulações orais e genitais em
detalhes, parte esta que tem a maior atenção do público mundial.
Descreve, também, como encontrar um parceiro, aprofundar na arte da sedução,
causas de resistências, inclinações sexuais e reconstrução de relações
quebradas, métodos de identificação de relutância ou paixão e, por fim, conta a
medicina da atração, fertilidade e da saúde sexual.
Não é
incrível há 1400 anos, Vatsyayana escreveu um livro explorando a sexualidade
que, ainda hoje, muitos de nós considera um tabu e hesita em falar sobre isso
abertamente?
É hora de
mudar nossa atitude, rever nosso preconceitos, conceitos equivocados,
incluirmos e expressarmos o erotismo em nosso cotidiano e tratarmos o assunto
com a maturidade e a profundidade que ele pode nos oferecer de
autoconhecimento, criatividade e comunicação. verbal e não verbal. Em outras
palavras, construir intimidade, entrega e confiança.
Você pode
me perguntar, então qual o primeiro passo? Eu lhe respondo, é simples.
Aproveite o dia dos namorados para experimentar colocar toda a sua atenção no
momento presente e perceber o que seu corpo pede a cada momento da sua relação
e quem sabe ela possa lhe agraciar com um orgasmo.
Roberta Ribeiro - Médica infectologista (Unifesp), Instrutora de
Mindfulness pela Escola Médica da Universidade de Massachusetts e podcaster do
Mindful Moment.
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