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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Prazer assim como o almoço, nunca é de graça.


Existem diversos tipos de prazer, porém todos eles estão ancorados em uma sensação ou emoção agradável, ligada à satisfação de uma vontade ou necessidade que se encontra nos domínios físicos, emocionais e/ou mentais.
Porém nenhum prazer, saudável, é mais polêmico do que o sexual. Para muitos de nós o prazer sexual é tratado com tabu, superficialidade e com o único objetivo, o gozo. Não falo apenas das mulheres, que certamente estão em situação de desigualdade em relação aos homens. 
Criamos homens com a liberdade de e estímulo para verem pornografia, se estimularem desde cedo e a serem satisfeitos na relação sexual, cujo maior objetivo é o gozo. 
Criamos meninas para serem tratadas igualmente em casa, na escola, no emprego, mas não em suas vidas pessoais. A maioria das mulheres não experienciam orgasmo durante a relação sexual até os 20 ou até os 30 anos. 
Um estudo com mais de 8 mil mulheres, do Prof. Osmo Kotunla, um finlandês, demonstrou que 4 fatores são importantes para o orgasmo: a importância que tem o orgasmo para a pessoa; o tamanho do desejo sexual; a autoestima e autoconfiança sexual; e a abertura para a comunicação sexual com o parceiro. 
Ele aponta como um fator importantíssimo para o orgasmo, a capacidade de prestar atenção no presente. Ou seja a atenção, pode fazer toda a diferença entre o gozo e o orgasmo. Explico. O gozo é a capacidade de chegar ao “fim” da relação sexual, tanto para homens quanto para mulheres. É a experiência do prazer físico e tudo que ele traz, como o relaxamento, a ejaculação, o “alívio”  e com sorte o carinho, a gratidão pelo momento. 
Já o orgasmo é tudo isso com o plus emocional, a conexão, a intimidade, o alcance de um espaço no qual não há sujeito, não há diferença entre os parceiros, o lugar da união física e emocional. No qual os pensamentos dão lugar ao flow, à sensação de total presença no aqui e agora, ao silêncio e quietude. 
Lições do Kamasutra, escrito pelo indiano Vatsyayana Mailanaga, em 1883. Kamasutra está longe de tratar de posições sexuais, como muitos de nós conhecemos ou pensamos. Kama significa prazer, desejo e está relacionado aos 4 objetivos, finalidade da vida humana, denominado pelo termo purushartha. São eles, entender a natureza do amor, encontrar um parceiro, manter uma vida sexual saudável e outros aspectos de prazer na vida humana. 
A maioria do livro é sobre a praticidade do amor, métodos para o cortejo e namoro, um estudo do que detona o desejo e o mantém. 
Ele discorre como tornar-se atraente, descreve diferentes uniões sexuais: abraços, beijos, arranhões, mordidas, posições, atos, estimulações orais e genitais em detalhes, parte esta que tem a maior atenção do público mundial.  Descreve, também, como encontrar um parceiro, aprofundar na arte da sedução, causas de resistências, inclinações sexuais e reconstrução de relações quebradas, métodos de identificação de relutância ou paixão e, por fim, conta a medicina da atração, fertilidade e da saúde sexual. 
Não é incrível há 1400 anos, Vatsyayana escreveu um livro explorando a sexualidade que, ainda hoje, muitos de nós considera um tabu e hesita em falar sobre isso abertamente? 
É hora de mudar nossa atitude, rever nosso preconceitos, conceitos equivocados, incluirmos e expressarmos o erotismo em nosso cotidiano e tratarmos o assunto com a maturidade e a profundidade que ele pode nos oferecer de autoconhecimento, criatividade e comunicação. verbal e não verbal. Em outras palavras, construir intimidade, entrega e confiança.  
Você pode me perguntar, então qual o primeiro passo? Eu lhe respondo, é simples. Aproveite o dia dos namorados para experimentar colocar toda a sua atenção no momento presente e perceber o que seu corpo pede a cada momento da sua relação e quem sabe ela possa lhe agraciar com um orgasmo. 





Roberta Ribeiro - Médica infectologista (Unifesp), Instrutora de Mindfulness pela Escola Médica da Universidade de Massachusetts e podcaster do Mindful Moment.


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