Os últimos tempos apontam novos modelos e novas
formas de utilização da tecnologia e das redes virtuais. A internet teve seus
acessos intensificados e mostra-se cada vez mais indispensável na vida das
pessoas. Atualizando notícias, apresentando atividades de entretenimento,
aproximando pessoas e ampliando o afeto virtual, onde o físico precisou ser
reinventado. É a tecnologia dominando o cotidiano e trazendo impactos positivos
e negativos para os seus usuários.
A mudança no perfil de consumo está diretamente
associada ao fato de que, por conta do isolamento, os hábitos foram totalmente
transformados. A modalidade Home Office está sendo amplamente utilizada por
diversas empresas e demonstra que veio para ficar. A utilização de aplicativos
de abastecimento por delivery também cresceu assustadoramente. A aula on
line hoje já é uma realidade para muitas crianças, jovens e adultos. Além de
vídeo chamadas, lives e inúmeras plataformas que já existiam, mas que
adquiriram um status de ferramentas habituais e corriqueiras, fazendo parte do
dia a dia de um número muito maior de pessoas.
Do ponto de vista psicológico, destaco a precaução
com essa dependência tecnológica como sendo um fator de alerta para que a
utilização das mídias não se torne uma doença e se associe a outros distúrbios
psíquicos nocivos ao ser humano. Quando o consumo de tecnologia atende às
necessidades profissionais ou do entretenimento e lazer - sem substituir
prazeres simples como a interação familiar, sem descuidar do trabalho ou dos
estudos, sem conflito com os relacionamentos pessoais -, não há o risco de uma
dependência cibernética. No entanto, devemos ficar atentos a tudo que foge do
controle. Se o pouco tempo em que não se está conectado vem a sensação de
vazio, dor, sofrimento e angústia, devemos acionar o botão vermelho, pois algo
pode estar errado. Sofrer pela abstinência e demonstrar desconforto
diante da impossibilidade de uso das redes, pode ser um sinal de que o indivíduo
está criando amarrações mentais e psicológicas em relação ao consumo desta
tecnologia.
O consumidor tecnológico compulsivo acha sem graça
a vida sem a internet. Se irrita quando o acesso é restrito. Perde horas de
sono conectado e até deixa de se alimentar ou se alimenta mal - com o rosto
colado às telas e teclando -, o que impossibilita uma mastigação correta e
pausada, sem apreciar o sabor dos alimentos, uma vez que a atenção não está
voltada para a refeição. E só de imaginar que pode estar perdendo as
atualizações das redes, já demonstra mal-estar ao sentir-se excluído.
Que fique claro que o mundo tecnológico também nos
apresentou muitas vantagens: aproxima as pessoas em qualquer lugar do mundo;
fornece a informação atualizada sobre o que está acontecendo em todos os
continentes; permite a realização de trabalhos em casa, perto da família, no
conforto do lar, com segurança e proteção, sem enfrentar horas de trânsito;
traz comodidade e nos transporta a um mundo de infinitas possibilidades.
No entanto, temos a inversão destes valores quando
o excesso é implantado, tornando urgente a adaptação do uso dessas ferramentas.
Essa relação deve ser repensada, pois substituir o afeto de quem está próximo,
deixar de fazer atividades diárias (algumas necessárias até para a higiene),
deixar de alimentar o corpo e a alma com atitudes benéficas, dormir apenas duas
ou três horas por noite (ou até menos), com certeza não são hábitos saudáveis -
e o seu organismo vai reagir a isso de uma forma nada agradável, trazendo
sérios riscos para sua saúde.
A dependência tecnológica pode estar de mãos dadas
com sintomas de ansiedade, baixa autoestima, depressão, fobias sociais, solidão
e pânico. Além da taquicardia, dos tremores e da xerostomia (famosa boca seca),
sintomas físicos desenvolvidos por usuários compulsivos das redes. E em uma
escala associativa, destaco também os problemas posturais, visuais, as lesões
repetitivas, a insônia, obesidade e as dores musculares.
Portanto, a utilização da tecnologia com
responsabilidade é imprescindível para evitar o rótulo do uso compulsório.
Controle seus horários e perceba se está sendo afetado pela perda de interesse
por interações sociais. Busque fazer um “detox digital”, ficando horas e até
dias sem utilizar celulares, tabletes, computadores ou qualquer tipo de
aparelho que possibilite a conexão. Contribua para a manutenção da sua saúde
mental e do corpo. Encontre seu equilíbrio em atividades simples como a leitura
de um livro, ouvindo uma música, colocando no papel suas emoções e promovendo
seu autoconhecimento. Cuide de você e tire o dia para relaxar, sem o auxílio da
internet. Sim, isso é possível. Alimente o simples e resgate o que há de melhor
em si mesmo, promovendo sua capacidade de interagir, sonhar e realizar. Sem a
intoxicação digital que nos expõe a potencialização de sentimentos e ações nada
saudáveis.
Enfim, se todo excesso esconde uma falta, faça uma
reflexão e descubra se o seu excesso tecnológico camufla a fuga de uma
realidade e a busca de opções externas desnecessárias para alimentar um vazio
interior. Utilize a internet a seu favor, usando somente o necessário, e não se
torne um zumbi cibernético acometido por diversos transtornos físicos e
psíquicos.
Dra. Andréa Ladislau – Psicanalista. * Doutora em
Psicanálise * Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de
Ciências Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde * Pós Graduada
em Psicopedagogia e Inclusão Social * Professora na Graduação em Psicanálise *
Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In
Niterói * Membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional
do Instituto Miesperanza * Professora Associada no Instituto Universitário de
Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. *
Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint
Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.
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