Estudar História é uma das melhores formas de
aprender. Quase tudo o que ocorre atualmente de alguma forma já ocorreu no
passado. Se formos capazes de aprender com os erros dos outros, o conhecimento
da história nos permite, pelo menos em tese, evitar a repetição dos erros. A
situação de crise que o Brasil vive guarda semelhanças com a ascensão e queda
do Império Romano.
Os romanos desenvolveram eficiente tecnologia para
conquistar e tributar outros povos. Nisso residiu a base de seu império.
Embriagada pelo sucesso, Roma criou imensa burocracia estatal e encheu de
vantagens e privilégios os políticos e os burocratas. Tudo bancado por impostos
extorsivos. Isso levou os povos conquistados a migrarem de seus territórios
para a capital do império.
Roma começou a crescer demasiadamente, e os líderes
romanos passaram a temer por revoltas da massa urbana em razão da falta de
trabalho, alimento e moradia para todos. A solução encontrada foi dar comida e
diversão ao povo. Cresceram os centros de entretenimento, entre eles o Coliseu.
A população da cidade passou a exigir mais comida e diversão (pão e circo).
Quanto mais os problemas se agravavam, mais o governo crescia e a burocracia e
os impostos aumentavam, sob o jugo de exércitos opressores.
A vida no campo não fazia mais sentido, e a
população abandonava a zona rural rumo às cidades atrás de pão e circo de
graça. A produção rural começou a decrescer, os impostos diminuíam, os gastos
com o exército e a burocracia não paravam de aumentar, e o império baixou lei
proibindo os trabalhadores de deixarem suas terras, sob severas punições a eles
e suas famílias. Não deu certo. Roma não resolveu seus problemas, e o Império
Romano entrou em declínio.
Como não resolvemos nossos problemas
— incluindo a falência da Previdência Social, a privada e a pública —, a
história está se repetindo aqui, e o colapso financeiro está anunciado. Até a
maior potência mundial, os Estados Unidos, vem trilhando essa estrada: o país
está endividado, a burocracia estatal inchada, a moeda nacional enfraquecida, a
pobreza aumentando… enfim, é o Império Romano sendo revivido.
O estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), sobre o déficit de R$ 77,2 bilhões na Previdência
dos servidores dos estados, é assustador. É um rombo equivalente a 1,2% do
Produto Interno Bruto (PIB) do país. O estudo mostra que, nos últimos dez anos
até 2015, o total de servidores estaduais aposentados cresceu 38% enquanto o
total na ativa caiu 4%, e os salários cresceram em média 50% contra 21% no
setor privado.
Doze estados deram aumentos superiores a 60%, e o
campeão é o Ceará, com 78%. Como as aposentadorias dos servidores inativos são
vinculadas aos salários dos servidores ativos, os gastos com pessoal
explodiram, sem que isso beneficiasse a população. O rombo previdenciário é
enorme. Os estados foram excluídos do projeto de reforma da Previdência em
tramitação no Congresso Nacional, o que deixa dúvidas se irão fazer alguma
reforma.
Por falta de educação financeira ou por demagogia
política (ou ambas), os governantes e os legisladores do passado administraram
de forma trágica as finanças públicas, cuja situação atual agride a lógica mais
elementar de economia e finanças. Mesmo que o conserto comece agora, a
recuperação será tarefa de várias gerações. Uma coisa é certa: o declínio do Império
Romano não ensinou nada aos governantes brasileiros, salvo raras e honrosas
exceções.
José Pio Martins -
economista, é reitor da Universidade Positivo.
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