Tomar crédito
com bancos e financeiras é uma prática recorrente em muitas empresas. Os
motivos podem ser variados, como investir em novos equipamentos ou na expansão
da empresa. Entretanto, 90% das vezes essa medida é tomada para tirar as contas
do vermelho em tempos difíceis. De acordo com o Serasa, a demanda das empresas
por crédito cresceu 5,1% de dezembro de 2017 para janeiro de 2018. Se comparado
somente janeiro, nos dois anos, o avanço foi ainda maior, 11,9%.
A alta vem das
necessidades das micro e pequenas empresas, já que as médias e grandes
apresentaram queda na busca por crédito. Apesar disso, há de se considerar
diversos fatores antes de se requisitar o crédito. Isso porque o que deveria
ser uma solução, pode é ampliar o problema. O primeiro passo é analisar alguns
relatórios financeiros chave. É preciso saber onde estão os problemas de fluxo
de caixa para que outras medidas possam ser tomadas antes da contratação do
crédito, impedindo que essa ação seja meramente paliativa, ou se for, que seja
pelo menor tempo possível.
O empresário
precisa analisar relatórios como o fluxo de caixa, o demonstrativo de
resultados e o balanço da empresa. Infelizmente, há empresas que nem possuem
esses documentos, e para elas o primeiro passo é organizá-los. Há também
aquelas que possuem os documentos, mas não os utilizam ativamente - ou não se
preocupam tanto em entender por completo o que cada informação significa.
É preciso saber
o que é um ativo e um passivo dentro do negócio. Conhecer o caminho do dinheiro
que entra e que sai. Muitas vezes, existem saídas e entradas que o empresário
não se preocupou em colocar na documentação. Isso faz com que relatórios de
resultados fiquem incompletos. Um exemplo comum é quando o empresário não faz
distinção entre seu pró-labore e a retirada de lucro. Empresas familiares
sofrem muito com isso. Na maioria das vezes, a conta bancária, pessoal e
empresarial, é a mesma.
O pró-labore é
uma despesa da empresa. É o salário do proprietário, o mesmo que ele pagaria
para outro profissional ficar em seu lugar. Já a retirada de lucro é o que
resta após todas as despesas - incluindo o pró-labore. Ele pode retirar algo
daqui? Sim, claro, mas esse não é seu salário, ele não ganha mais ou menos de
acordo com o lucro da empresa. A empresa também tem necessidades a serem
atendidas pelo lucro, inclusive investimentos e emergências.
Outro aspecto
importante é saber a diferença entre faturar, vender e receber. Muitas empresas
não analisam isso e acabam não sabendo qual a diferença entre vender e receber,
se um valor acompanha exatamente o outro, e em quanto tempo. Isso é crucial
para tomada de decisão de solicitar, ou não, crédito.
Ainda deve-se
entender muito bem qual a margem de contribuição que a venda está
proporcionando para a empresa. Esta margem é um dos principais fatores do
acumulo, ou falta de caixa, que na final influencia na decisão de tomar crédito
ou não. Se o empresário não souber sua margem de contribuição, não saberá
praticamente nada para gestão financeira do negócio. Infelizmente há uma enorme
confusão entre conceitos de margem, assim é necessário aprender corretamente
qual, e como, aplicar.
Mas, será que
mesmo tomando esses cuidados, ainda é preciso contratar o crédito empresarial?
Urgências existem, e é preciso lidar com elas, então, se esse é o seu caso, é
preciso analisar as melhores opções.
Alternativas
como investir capital próprio, de maneira organizada, a juros baixos é uma boa
opção. Trazer um investidor de fora pode ser outra. Existem, também, linhas de
fomento, como o crédito do BNDES. De toda forma, é preciso estar bem alinhado
com a relação entre prazo e taxa de juros para que se faça um bom negócio.
Cheque
especial e cartão de crédito são sempre as piores opções. Os juros são muito
altos. Isso parece obvio, mas conheço muitos empresários que por falta de
análise e planejamento pagam juros muito caros.
Se você tiver
mesmo que recorrer a um banco, busque um crédito empresarial com juros mais
baixos, ou fixos, produtos que nem sempre estão à vista, mas o contador e o
gerente podem te informar a respeito. Esse passo precisa ser bem planejado.
Leia muito bem o contrato e certifique-se da relação entre prazo e taxa de
juros. Se não houver saída a não ser essa, que seja com o menor impacto para a
empresa. Só assim o crédito será uma solução e não um problema.
Marcos Guglielmi -
treinador de empresários, empresário e sócio fundador da ActionCOACH São Paulo.
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