Apesar de
proclamado pela Assembleia das Nações Unidas em 2007, o Dia Mundial da Justiça
Social traz um caminho repleto de curvas e de espaços a serem preenchidos. A
data, estipulada para que se promova a conscientização de igualdade entre os
povos, respeito às diversidades culturais e promoção do desenvolvimento social,
traz à tona um debate incansável: de que forma é possível estimular que os
povos se integrem e se desenvolvam simultaneamente?
Historicamente,
sabemos que esse desenvolvimento não pode ser feito única e exclusivamente por
grupos isolados. Da mesma forma, esperar que a solução para esse crescimento
seja oferecida por um “salvador” externo não é uma situação real. É necessário
que se entenda que o desenvolvimento só é sustentável se for construído em
todas as esferas da sociedade, de maneira coletiva, e que precisa da
participação de todos os envolvidos para que se instaure e seja permanente.
Em que medida
cada setor da sociedade depende desse desenvolvimento? Que interesses governo,
empresas e sociedade civil defendem, e como eles podem se articular? Em que
medida cada setor pode contribuir para conquistar o almejado bem comum?
Apesar de
parecer utopia, há no Brasil casos de sucesso dessa articulação. O município de
Eusébio, localizado na região metropolitana de Fortaleza (CE), é um deles. O
diferencial conquistado pelo município está justamente na participação popular
nos processos decisórios. Em projetos co-criados entrecomunidade civil,
empresas e município, com mediação do terceiro setor, uniram forças para
estruturar ações que reverberam para a população como um todo. A implantação da
coleta seletiva foi uma dessas conquistas recentes na cidade. Intermediada pela
Fundação Alphaville, a mobilização liderada pela associação de catadores de
materiais recicláveis gerou profissionalização, captação de recursos com o
setor privado, promoção da conscientização popular pela Educação Ambiental e
retirada de mais de 630 toneladas de resíduos no primeiro ano, gerando aumento
de 100% na renda mensal dos catadores, se comparado ao início do projeto.
Apesar de
significativo, o incremento de renda não foi o principal diferencial
conquistado pelos catadores. A partir da melhoria nas condições de saúde e
higiene, promovida por um ambiente organizado de coleta, houve a redução no
número de acidentes de trabalho e da necessidade por atendimento na saúde
municipal. Em 2017, um convênio entre associação de catadores e Prefeitura
Municipal foi firmado a fim de que a coleta seletiva se tornasse um serviço
oficial na cidade, garantindo renda mensal fixa e benefícios ao grupo de
catadores associados.
O sucesso na articulação entre os setores público, privado e sociedade
civil trouxe visibilidade para a atuação da associação e já rendeu um
reconhecimento pelo Selo Benchmarking, certificação oferecida pelo Instituto
Mais que premia as melhores práticas sustentáveis do ano por todo o país. Como
saída para as desigualdades, não há o mito do grande herói. A conquista de um
passa a ser a luta de todos eassim o senso de justiça se torna mais palpável.
Fernanda Toledo - gerente de Sustentabilidade da Fundação
Alphaville.
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