Desde 1999, existe um dia internacional
inteiramente dedicado aos homens, mas pouca gente sabe disso. Segundo a
psicanalista Débora Damasceno – diretora da Escola de Psicanálise de São Paulo
– essa pouca representatividade, em comparação com o Dia Internacional da
Mulher, é compreensível. “O homem não aparece muito no nosso discurso como
uma figura que também precisa de reconhecimento”.
E falando em discurso social, o da atualidade vem
enxergando o homem como um agressor em sua essência. “Falamos mais do homem
como objeto de desejo, mas ninguém parou para pensar que ele não é uma entidade
pronta. É um ser humano com angústias e medos. Porém, quando nos referimos ao
homem, repetem-se apenas aqueles rótulos tão antigos como ‘não presta’, ‘só
pensa naquilo’, ‘não quer compromisso’”, completa Débora.
O que vem acontecendo, então? Por que o homem está
sendo tão ‘vilanizado’? Débora lembra que a situação social vem passando por
profundas transformações e o processo de educação – nas famílias, nas escolas e
demais núcleos – não acompanhou com a mesma velocidade. “A sociedade exige
um papel do homem – e também da mulher – para o qual eles não foram educados. E
aí está o grande desafio: educar as pessoas para dar conta das demandas atuais”,
ilustra a psicanalista. “Não nascemos prontos. Exigir algo do outro não o
torna capaz de realizar. Educação é um processo do qual todos temos de
participar”.
Débora faz, ainda, outra reflexão: “As mulheres
têm conquistado espaço social e, com muita naturalidade, fazem muitas coisas
que só os homens faziam. Diante desta nova realidade e do surgimento de tanta
tecnologia, não temos ideia do que fazer e para onde ir. Estão todos perdidos,
homens e mulheres. Neste conflito, é preciso encontrar conforto. E culpar
alguém é mais fácil do que admitir que estamos perdidos socialmente. É o que as
mulheres vêm fazendo em relação aos homens: eles são o ‘elemento mau’ e
sem eles a sociedade seria perfeita e poderia viver em paz”.
Para a psicanalista, a superioridade atribuída ao
homem ainda é visível não só em termos econômicos – lembrando que eles ainda
ganham mais do que elas mesmo em cargos semelhantes, estão em maior número
na política e à frente de grandes organizações e ainda gozam de mais
privilégios sociais. “Infelizmente, o machismo é um estilo de vida social
propagado também pelas mulheres, que tanto clamam por igualdade”, ilustra.
Considerando sua vivência em consultório, Débora
afirma que o grande medo do homem da atualidade é não ‘dar conta’. Ele não tem
claro o que está sendo exigido dele e, por isso, não sabe corresponder a isso.
“Ele pode abordar uma mulher na balada, elogiá-la, ou este ato será
interpretado como abusivo? Pode expressar livremente suas emoções sem ser
taxado como frouxo ou mesmo ter sua masculinidade questionada? São muitos os
conflitos relatados nas sessões de análise”.
O caminho para homens e mulheres, segundo a
psicanalista, é ambos se reconhecerem em suas necessidades e se enxergarem além
do discurso social. “A única chance de vivermos harmoniosamente é, por meio
da educação, não responsabilizar o outro por sua condição, mas sim, assumir as
responsabilidades do que somos e sentimos. É preciso dar as mãos, juntar
recursos e enfrentar esta nova realidade social – sem achar que existem
opressores e oprimidos. Assim como as mulheres, os homens também sofrem as
dores de sobreviver neste mundo caótico, o que mostra que, independentemente de
gênero, somos todos seres humanos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário