Tiroteio na
manhã de sexta (20) no Colégio Goyases, em Goiânia, deixou João Vitor Gomes e
João Pedro Calembo, dois jovens de 13 anos, mortos e mais quatro feridos.
O responsável pelos tiros, um aluno de 14 anos - 8º ano - da própria escola,
era filho de militares e afirma ter sofrido bullying pelos colegas.
No ano
passado entrou em vigor no Brasil a lei que criou o Programa Nacional de
Combate à Intimidação Sistemática, com o objetivo de oferecer mecanismos que
possibilitassem a mudança do comportamento hostil dos agressores. Mesmo com
programas governamentais, outra tragédia por conta do bullying aconteceu.
O bullying é
caracterizado por violência física ou psicológica que acontece de maneira
repetitiva, sistemática e sem motivação evidente.
No Brasil,
17,5% dos estudantes disseram sofrer alguma das formas de bullying
"algumas vezes por mês"; 7,8% disseram ser excluídos pelos colegas;
9,3%, ser alvo de piadas; 4,1%, serem ameaçados; 3,2%, empurrados e agredidos
fisicamente - de acordo com dados do terceiro volume do Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015.
Segundo Ana
Cássia Maturano, psicóloga e psicopedagoga clínica, a prática do bullying,
quando um colega hostiliza ou agride seu filho, é uma situação em que coloca a
prova o papel dos pais.
"A
atitude a tomar nessas ocasiões se transforma em um dilema para muitos:
instruem o filho a se defender, ensinando-o a "brigar", ou deixam que
ele se vire sozinho? Nem uma nem outra", relata a especialista.
"Passar
a evitar ir à escola ou mesmo falar sobre ela, mudança no humor, evitar certas
pessoas, aparecer com ferimentos ou hematomas sem explicação, ter problemas
para dormir e mesmo começar a apresentar comportamentos agressivos podem
indicar que a criança está sofrendo bullying", explica Luciana Barros de
Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp.
Os pais
precisam ajudar seus filhos a refletirem sobre as situações, questionando sobre
qual o motivo pelo qual a criança está sofrendo violência, para que se
fortaleçam para conseguir enfrentá-las. O adulto deve ser olhado como um ponto
de referência e orientação, instruindo como as crianças e adolescentes podem
agir.
"O mais
certo para os pais e os filhos é que juntos eles encontrem o melhor jeito de
lidar com a situação. Os adultos, por serem mais experientes, têm a obrigação
de orientar as crianças, que precisam muito de proteção. Num contexto de
aprendizagem que servirá para toda a vida", comenta a psicóloga Ana
Cássia.
Para a
presidente da ABPp, o problema é antigo e ganha mais voz por conta da internet,
além de ser potencializado pelo individualismo que impera como uma forte
característica da sociedade atual.
Os casos de
bullying retornam as mídias com a tragédia de Goiânia, porém este não é o
primeiro aviso à sociedade de que as agressões físicas ou psicológicas sofridas
em sala de aula podem levar a outras, como o massacre em Realengo, no Rio de
Janeiro.
A internet é
capaz de denunciar estes casos, o governo precisa criar soluções práticas
dentro dos ambientes escolares, e os pais devem conversar com seus filhos sobre
o cotidiano nas escolas, como se comportam e são tratados.
"O que
não dá é ignorar quando sentimos que as coisas não vão bem", comenta Ana
Cássia Maturano. "Em muitos casos, antes de atos extremos como o da semana
passada, a pessoa dá pistas de que precisa de ajuda. Postergar decisões em
geral não é um bom caminho".
Associação
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp)
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Cj 11
Pinheiros, São Paulo/SP - Cep. 05405-000 São Paulo/SP
Ana Cássia
Maturano -
psicóloga e psicopedagoga clínica, coautora do livro Puericultura
Princípios e Práticas (Ed, Atheneu)
Clínica: Edifício Morumbi Medical
Center
Nenhum comentário:
Postar um comentário