Pesquisa sobre valores da
população aponta ainda que há maior conscientização em relação aos problemas da
sociedade
Essas são algumas das principais características do
perfil do brasileiro médio desenhado pela Pesquisa Nacional de Valores 2017,
realizada pela consultoria paulistana de recursos humanos Crescimentum e
apresentada hoje (24) no evento CL Summit, na capital paulista. A pesquisa
utilizou metodologia do instituto inglês Barrett Values Centre e foi executada
pelo DataFolha, que entrevistou 2.422 pessoas acima de 16 anos, em todas as
regiões, numa amostra que reflete as segmentações de renda, classe social e
escolaridade atualmente existentes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
De acordo o head da Crescimentum para cultura organizacional, Guilherme Marback, o perfil descrito no início desse texto pode ser depreendido pelas escolhas dos entrevistados entre os valores que melhor descrevem a si mesmos, a sociedade em que vivem e a sociedade por eles desejada futuramente. Essas escolhas em três etapas foi a metodologia básica usada na pesquisa.
A imagem traçada pelo levantamento fica ainda mais
nítida se o resultado for comparado com uma pesquisa de 2010 feita com a mesma
metodologia.
"Quando analisamos o brasileiro de 2017 frente ao de 2010,
encontramos o mesmo cidadão gregário, amigável, que se crê honesto e humilde.
No entanto, o de 2017 deixa para trás o desejo por justiça e a esperança,
comummente expressado por pessoas que tem poucos meios de transformar a própria
realidade. Ao contrário, o brasileiro de 2017 sente-se mais empoderado,
confiante, e passou a valorizar a educação como meio de transformação pessoal,
talvez até mais que o funcionamento das instituições do País onde vive. Em
outras palavras, o brasileiro de 2017 tem um senso de protagonismo mais forte
que antes", afirma.
Avanços sociais - Nos
anos 1950, o psicólogo norte-americano Abraham Maslow elaborou a teoria da
Hierarquia das Necessidades Humanas, que descrevia em essência um processo para
a realização pessoal a partir do atendimento das necessidades individuais mais
básicas até aquelas que dizem respeito à coletividade. A medida que o indivíduo
progredia nessa escala de necessidades, faziam-se presentes as condições para
transformações ainda maiores que impactariam a sociedade como um todo.
Marback ressalta que a mudança observada no campo dos
valores individuais pode estar relacionada a uma melhora no atendimento das
necessidades básicas dos brasileiros no período observado (2010 e 2017). Nesse
período, no entanto, o brasileiro conservou os valores que tradicionalmente o
definem como ser humano: a alegria, a valorização da família, dos amigos e a
crença na honestidade individual. A diferença é que passou a incorporar outros
valores entre os que o definem, como a "coragem" e a
"confiança".
Essa mudança no campo dos valores pessoais também já é
perceptível na pesquisa na parte que analisa a forma como o brasileiro vê o
Brasil e o país que deseja para si no futuro. Um indicativo disso é a troca de
valores entre 2010 e 2017. "Sai Justiça social, redução da pobreza e
moradia para entrar com maior importância oportunidades de emprego. Aparece
também com grande importância as oportunidades educacionais, que começam
aparecer como preocupação inclusive nas camadas mais pobres, um indicativo
substancial de transformação", diz Guilherme.
Maior consciência de si e do mundo -
A pesquisa de 2017, assim como a de 2010, calculou a taxa de entropia cultural
do Brasil, que é um valor representativo da energia gasta desnecessariamente na
resolução de problemas. O cálculo é simples. Os votos totais nos valores que o
brasileiro acredita serem nocivos ao País foram divididos pelos votos totais
nos valores e comportamentos positivos, formando um resultado percentual. Essa
taxa passou de 51% na pesquisa de 2010 para 61% em 2017.
No processo de seleção de valores nocivos, a corrupção
foi de longe o comportamento que segundo os brasileiros mais atrapalha o
desenvolvimento do País (1754 votos num universo de 2422 respondentes), seguido
da violência (1504), da pobreza (1292) e da degradação do meio ambiente (1026).
De acordo com Marback, a elevação da taxa de entropia não significa
necessariamente que o brasileiro se vê vivendo num país pior comparado ao
Brasil de 2010. Para o executivo, significa principalmente que o brasileiro
está mais consciente dos problemas que enfrenta.
Determinar a extensão dessa conscientização é o
desafio, diz Marback. Se de um lado o brasileiro se vê vivendo num país
profundamente afetado pela corrupção, de outro, acredita ser um ser humano
honesto, uma contradição que aparece com frequência nas análises de valores
para o Brasil feitas pelo Barrett Values Centre. Por isso, Marback está
convocando especialistas em diversas áreas para analisar os resultados. Seja
como for, já há elementos suficientes para dizer que a relação dos brasileiros
com as instituições democráticas está em transformação e há necessidades que
deveriam receber a prioridade dos líderes do País.
Entre as prioridades objetivas elencadas pela pesquisa
estão a saúde, a justiça e a segurança pública, expressa nos valores desejados
"paz", "justiça", "cuidado com os idosos". Este
último, diz Marback é um chamamento global, encontrado em muitos países onde a
pesquisa já foi realizada. Mas há ainda um outro chamamento dos brasileiros:
pela ética, expresso no aparecimento de valores como "compromisso",
"cidadania" e "honestidade", que parecem ser mais urgentes
hoje que valores materiais identificados em 2010.
"A expressão do desejo por cidadania também indica
que o brasileiro quer uma sociedade formada por pessoas que entendem a
responsabilidade que devemos ter uns com os outros quando se vive em
sociedade", diz Marback. O executivo também diz que ao trocar redução da
pobreza e justiça social por mais oportunidades de emprego e de educação, o
brasileiro de hoje se vê mais responsável por melhorar suas próprias condições
de vida e vive uma lógica mais distante do paternalismo de outrora.
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