Adotar
uma criança é uma decisão que deve ser bem pensada e planejada. É preciso ter
em mente que esta escolha é permanente, e que não deve haver nenhuma dúvida sobre
a aceitação da criança, independentemente se o casal não pode ter filhos ou se
já tem outros filhos.
É
sempre possível que haja preconceito e/ou julgamento por parte da família e de
amigos, ainda mais se o casal tiver condições fisiológicas de gerar seus
próprios filhos. Mas a opção de adotar é única e exclusivamente do casal, e
ninguém tem o direito de interferir nesta decisão. Até porque a adoção é um
grande gesto de amor, se pensarmos quantas crianças foram abandonadas e merecem
um lar!
A adoção foi efetivada! E agora?
A
criança deve ser avaliada rotineiramente pelo pediatra. Nos casos em que não
haja informações concretas sobre o pré-natal, alguns exames especiais deverão
ser realizados. Dependendo da faixa de idade, o vínculo entre a criança e os
pais pode demorar um pouco. Tente não comparar seu filho a outras crianças da
mesma idade. É possível que ele tenha recebido menos estímulos e esteja se
desenvolvendo mais devagar, mas nada que não possa ser recuperado. Converse com
o pediatra para ver se há real motivo de preocupação.
Também
não espere sentir um amor imediato, ou se sentir mãe/pai desde o primeiro
instante. E a recíproca é verdadeira: não pense que a criança vai chegar dando
beijos e sorrisos. Tanto para o casal como para a criança, é um cenário cheio
de sentimentos contraditórios: felicidade, receio, ansiedade. Afinal, vocês são
pessoas diferentes, e precisam de tempo para se conhecerem, mesmo em se
tratando de um recém-nascido.
Fique
o máximo de tempo que puder com seu filho. Pelo menos nas primeiras semanas, os
pais devem ser os principais responsáveis pelos cuidados com a criança. Por
mais que todo mundo queira receber o novo integrante da família, limite o
número de visitas nos primeiros dias. É importante que a criança se ambiente
primeiro com seus pais (e seu novo lar) para depois conhecer, aos poucos, o
restante da família.
Já
comece a criar rotinas para seu filho. Isso é fundamental para qualquer
criança, mas para quem já passou por tantas mudanças inesperadas, o
planejamento de uma rotina trará mais conforto e segurança.
Momentos ruins também poderão acontecer...
É
compreensível que uma mãe adotiva duvide de seu instinto materno,
principalmente se a criança já for maior. Isso pode ocorrer pelo fato de a mãe
não ter vivenciado as etapas do recém-nascido. Ou o casal pode ter receio de
que, quando crescer, o filho sinta vontade de procurar os pais biológicos, o
que é natural, mesmo que ele seja amado e feliz com sua família adotiva. Sem
contar com as incertezas em relação aos aspectos legais do processo de adoção.
Todas
essas dúvidas são normais. Com o tempo, tanto a criança como os pais sentirão
mais proximidade, intimidade e segurança. Uma boa dica é conversar com outros
pais adotivos. Isso trará mais calma, pois vocês perceberão que determinadas
situações são comuns em famílias cujos filhos são adotados.
Quando e como devo contar ao meu filho que ele é adotado?
Verdade
e transparência são regras fundamentais quando se adota uma criança. A faixa de
idade em que começam as perguntas ou dúvidas é no período pré-escolar (2 a 7
anos). O ideal é não demorar muito para contar e, quando for a hora, a conversa
precisa ser em um momento tranquilo e da maneira mais simples possível, para
que a criança não sinta tristeza ou qualquer outro tipo de sentimento ruim.
Explique
que o fato de ser adotada não muda os sentimentos que os pais têm por ela.
Mostre outros casos de adoção, incluindo aqueles que vocês conheceram.
Apresente seu filho à família que também fez a adoção. Seria importante que ele
conversasse com outras crianças adotadas e percebesse que
a adoção foi um enorme ato de amor dos seus pais.
Obviamente que ela também terá curiosidade para saber qual a razão
de seus pais biológicos terem a “abandonado”. Para que não seja algo
traumático, o ideal é dizer que eles não tinham recursos para criar um filho, e
justamente por o amarem tanto, preferiram doá-lo a uma família que pudesse dar
as boas condições de vida que os pais biológicos jamais poderiam.
A
verdade é que a adoção acaba assombrando os pais adotivos, que vivem com medo
de serem rejeitados e até abandonados quando a verdade vem à tona. Normalmente,
depois que a adoção é revelada, a família toda passa por um período necessário
de acomodação das emoções.
A
boa notícia é que, passada essa fase, os laços familiares se fortalecem, e a
relação ganha mais amizade, amor e confiança. E a opinião de terapeutas,
psicólogos e especialistas no assunto é praticamente unânime: a criança tem o
direito de conhecer a história de sua vida, o mais cedo possível, de forma
verdadeira e natural!
Dr. Carlo Crivellaro - Pediatra com Título de Especialista
em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Membro da Sociedade
Brasileira de Pediatria; e Membro da Highway to Health International Healthcare
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