Pessoas são diferentes umas
das outras e alguns estudos têm demonstrado que as variações genéticas entre as
mulheres interferem na resposta à estimulação hormonal e, consequentemente, na
produção dos óvulos (oócitos) durante os tratamentos de infertilidade.
“O gene do Receptor do
Hormônio Folículos Estimulante (FSHR) tem um papel chave na função
ovariana. Variações deste gene (polimorfismos) podem ter relação direta com a
escolha da medicação ideal para a paciente, interferindo nos resultados
dos tratamentos de infertilidade”, aponta Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro
de Reprodução Humana do IPGO.
A pesquisa de polimorfismos
do receptor de FSH é um exame de sangue que auxilia a estimar a resposta
individual ao tratamento de estimulação ovariana e na escolha do protocolo mais
efetivo para cada mulher. O resultado do exame mostra qual gene a mulher expressa.
Dependendo do genótipo da paciente, a medicação ideal será melhor
indicada. Este exame permite individualizar ainda mais os protocolos de
estimulação baseando-se no perfil genético da paciente.
“Lembrando que os genes são as
unidades fundamentais da hereditariedade e são constituídos
basicamente de DNA, uma molécula composta de sequências
complexas de nucleotídeos. Polimorfismos genéticos são variações genéticas
nessas sequências que ocorrem na população de forma estável, sendo encontrados
com frequência de 1% ou superior”, afirma Cambiaghi.
Em um ciclo de fertilização
in vitro (FIV),
normalmente utiliza-se uma estimulação ovariana para se obter um desenvolvimento
folicular múltiplo e, assim,
conseguir uma quantidade mínima
de óvulos que forme pelo menos um embrião de boa qualidade,
de preferência blastocisto. Entretanto, uma parcela
das mulheres submetidas a um ciclo de FIV
recruta um número
pequeno de folículos (más
respondedoras) e de má
qualidade, impedindo que se alcance o sucesso desejado de uma gravidez.
Muitos protocolos e terapias
adjuvantes já foram
propostos para o tratamento com resultados controversos na literatura. Uma das grandes dificuldades
de avaliação
dos reais benefícios das diferentes condutas
propostas é o fato de os estudos serem muito
heterogêneos, dificultando as
meta-análises.
Existem várias opções de drogas indutoras da ovulação, entre elas
o FSH urinário - HP-FSH purificado e ultrapurificado
(Fostimon e Menopur) e o FSH recombinante - r-FSH (Gonal
, Puregon, Elonva e Pergoveris). Todas elas têm suas indicações e resultados
satisfatórios na indução da ovulação. Porém, nem sempre é fácil a decisão de
qual será o melhor medicamento para uma determinada paciente.
De acordo com o genótipo da
paciente (isto é, o perfil genético do gene para este receptor), o perfil
na Pesquisa de Polimorfismos do gene receptor de FSH varia
conforme a posição dos aminoácidos Aspargina (denominado pela letra N) e Serina
(denominado pela letra S) em relação à posição 680 da proteína, que pode ser: SS,
NS e NN.
Genótipo
SS: Serina680Serina ou
Ser680Ser – responde melhor a HP-FSH
Genótipo NS: Aspargina680Serina
ou Asp680Ser – responde melhor a r-FSH
Genótipo NN: Aspargina680
Aspargina ou Asp680 Asp – responde igual
As
pacientes com genótipo SS responderam melhor com o FSH purificado HP-FSH,
enquanto aquelas com genótipo NS obtiveram mais óvulos com o uso do FSH r-FSH
(Gonal, Puregon e Elonva). No grupo de pacientes com genótipo NN não houve
diferença. Além disso, observou-se que o genótipo SS precisa de uma
dosagem de medicação maior que os outros genótipos.
“Com isto, é possível
individualizar os tratamentos para que, desde a primeira fertilização que a
paciente se submeter, saibamos a melhor opção de medicamentos, minimizando os
custos, oferecendo um prognóstico mais direcionado e um resultado mais rápido”,
finaliza o médico.
IMPORTANTE: a PESQUISA DE POLIMORFISMOS DO GENE
RECEPTOR DE FSH é um parâmetro para nortear a escolha da melhor medicação para
a estimulação dos ovários, mas não garante resultados. Só é recomendada após
uma investigação criteriosa da saúde reprodutiva da paciente, principalmente
pelos exames que avaliam a reserva ovariana como FSH (3º dia), contagem dos
folículos antrais e Hormônio antimulleriano (AMH).
Arnaldo Schizzi Cambiaghi - Diretor do Centro de reprodução humana do IPGO,
ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela
Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela
AAGL, Illinois,
EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área
médica como Fertilidade Natural, Grávida Feliz, Obstetra Feliz, Fertilização um
ato de amor, e Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões, Fertilidade e
Alimentação, todos pela Editora LaVida Press e Manual da Gestante, pela Editora
Madras. Criou também os sites: www.ipgo.com.br; www.fertilidadedohomem.com.br;
www.fertilidadenatural.com.br,
onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina,
especialmente sobre infertilidade. Apresenta seu trabalho em congressos no
exterior, o que confere a ele um reconhecimento internacional.
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