As mulheres são
maioria nas escolas, universidades, cursos de qualificação, mas ainda recebem
menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades, e estão mais
sujeitas a trabalhos com menor remuneração e condições mais precárias.
Das mulheres ocupadas com 16 anos ou
mais de idade, 18,8% possuíam ensino superior completo, enquanto para homens,
na mesma categoria, este percentual é de 11%, apontam dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, realizada pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa indica ainda
que as mulheres são maioria para ensino médio completo ou superior incompleto:
39,1% das mulheres se enquadram nesta categoria, contra 33,5% dos homens.
Mas não só a escolaridade é maior entre
as mulheres no mundo do trabalho. Elas também são maioria nos cursos de
qualificação de mão de obra, indicam os dados do Plano Nacional de
Qualificação, do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). De 2003 e
2012, dos 1,8 milhão de alunos e alunas dos cursos de qualificação, 713 mil
eram mulheres, o que corresponde a mais de 60% do total.
Para as mulheres, no entanto, uma maior
escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores
rendimentos e, essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As
mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15
e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44, uma diferença de R$ 24%. Para
12 anos de estudo ou mais, esta diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$
22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.
"Os estudos apontam que as mulheres
têm mais escolaridade que os homens, mais isso não tem sido determinante para
que ela possa entrar em setores mais qualificados e, mesmo ela estando nesses
setores, ela recebe menos e não é valorizado o seu grau de instrução",
afirma Rosane da Silva, coordenadora do Núcleo de Gênero do MTPS.
No entanto, apesar desta diferenciação
por gênero ainda existir no mercado de trabalho brasileiro, as mulheres vêm
conquistando avanços e espaços e diminuindo, ainda que lentamente, a diferença
entre salários e rendimentos. Em 2004, ainda segundo dados da Pnad, a diferença
da remuneração por hora entre homens e mulheres foi, em média, de 38,53% para
trabalhadoras com 12 anos de estudo ou mais.
A busca por diminuir essa diferença é
contínua, e envolve o fortalecimento de políticas públicas que estimulem a
igualdade de gênero no mercado de trabalho, além de exemplos individuais de
superação, qualificação e avanços. Este é o caso da empresária Zeli D'Ambros,
de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Filha mais nova de uma família de
agricultores de nove irmãos, saiu do interior do estado com 13 anos para
trabalhar e estudar em Caxias, segunda maior cidade do estado. Entrou no mundo
do trabalho cuidando de crianças, e estudando para concluir o segundo grau.
Depois, trabalhou em uma malharia, onde passou por diversas funções até ser
contratada por uma empresa de logística, na qual chegou ao cargo de gerente,
mas não conseguia ser promovida.
"Não importava o que eu fizesse,
houve três oportunidades de promoção, e sempre traziam um homem para a vaga de
direção", lembra Zeli, acrescentando: "nas empresas que visito vejo
muitas mulheres gerentes, mas poucas diretoras. Hoje 51% das micro e pequenas
empresas de Caxias são lideradas por mulheres. Fico pensando se não é porque as
mulheres não são reconhecidas para cargos de direção, e acabam saindo para se
tornarem donas da própria empresa", conta Zeli.
A persistência, aliada a estudos e
disposição para encarar cursos noturnos de graduação e pós-graduação levaram
Zeli a se tornar dona de uma das subsidiárias da empresa de logística, e,
posteriormente, a abrir o próprio negócio. "Existe uma barreira, e parece
que a mulher tem que estar o tempo todo provando sua capacidade, e se fazer
reconhecida. Mas eu acho que a competência não está em uma calça ou uma saia. A
competência está em se qualificar e ver que, independente de gênero, as
capacidades são iguais", pondera a empresária.
Hoje a empresa de Zeli gera
trinta e cinco empregos diretos e indiretos, e muitos dos empregados são
homens.
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