1º de agosto foi a data criada em 1992 pela
Aliança Mundial de Ação Pró-amamentação e ressalta a importância do aleitamento
materno para o desenvolvimento do bebê
A fonoaudióloga Flávia Puccini, em conjunto com a
Universidade de São Paulo, desenvolveu um estudo para mostrar como o bebê
retira o leite da mama, e como esses movimentos ocorrem e fazem com que a
amamentação seja efetiva.
Nos últimos
anos, com a internet e um acesso facilitado à informação, veio à tona a
realidade sobre amamentação: não é nada simples, muito pelo contrário. A ideia
de que amamentar é algo natural e intuitivo e que, ao nascer, o pequeno já
automaticamente vai saber o que precisa fazer para mamar é bem distante do que
realmente acontece. É por isso que o tempo todo temos visto tristes depoimentos
sobre o quanto é dolorido, frustrante e a culpa que sentem as mães que
decidiram parar ou não conseguiram amamentar.
Segundo
dados da UNICEF, os problemas mais frequentes na amamentação são a fissura, o
ingurgitamento – quando a mãe produz mais leite do que o bebê consegue mamar,
ou quando o bebê não consegue retirar todo o leite da mama, causando empedramento -, mastite – uma
inflamação dos seios – ou secar o leite.
“A grande
questão é que, imaginem um seio machucado, com fissuras e feridas, e um bebê
que precisa mamar em cerca de 2 em 2 horas...as fissuras são tratadas, a pega é
avaliada e aparentemente está tudo certo, mesmo assim, o bebê continua
machucando, continua não ganhando peso e não mamando direito. Em alguns casos
essa dor fica tão insuportável que a mãe não tem mais condições de amamentar”,
afirma a fonoaudióloga, mestre em processos e distúrbios da comunicação pela
USP e consultora em amamentação Flávia Puccini.
E é nesse
momento que começam as frustrações e o sentimento de culpa. Será que não me
preparei direito? Comi algo que não poderia durante a gestação? Será que o
problema é comigo? Eu não produzo leite o suficiente? O que foi que fiz de
errado?
As mães
chegam no consultório aflitas sempre pensando que o problema está com elas
quando, na realidade, isso acontece na grande minoria dos casos. Sim. É claro
que existem exceções, mas o problema, geralmente, não está na mãe e sim no
padrão de sucção do bebê. Isso mesmo, não é nem a pega, e sim, a sucção.
A
profissional realizou um estudo pela Faculdade de de Odontologia de Bauru em
parceria com a Telemedicina da Universidade de São Paulo, que ajudou a
desenvolver um bebê em computação gráfica em 3D para demonstrar como funciona a
anatomia e fisiologia da sucção e deglutição durante a amamentação.
Por meio da
reprodução fiel dos sistemas orofaríngeo de um recém-nascido, foi desenvolvido
o “Bebê Virtual”, material didático, original e dinâmico, que permitiu analisar
o organismo do bebê no momento em que suga o leite da mama e o movimento que
faz para engolir, e permitiu quebrar alguns antigos paradigmas e facilitar a
solução de problemas e mudar, de uma vez por todas, o momento mais importante
entre a mãe e seu bebê.
De acordo
com o estudo, o leite é extraído pelo vácuo criado na boca do neném através dos
movimentos feitos pela língua, fazendo com que o leite seja transferido da mama
para a sua boquinha. Para Flávia, a correção e prevenção de problemas dolorosos
na amamentação, como os traumas mamilares, por exemplo, acontece pela avaliação
e análise dos movimentos da linguinha do bebê e pela reeducação dessa
movimentação.
“O que
acontece é que a maioria das mães ainda não têm acesso a essa informação. Os
principais problemas de amamentação poderiam ser resolvidos por essa avaliação”
afirma Flávia. “Se o movimento é feito corretamente dificilmente vão surgir
fissuras no seio da mãe” completa. Quando a questão é a produção de leite, a
profissional explica que a produção da mãe está diretamente ligada à demanda.
Então se o bebê não esvazia todo o leite da mama, a produção diminui ou causa
empedramento, e isso também depende dele estar sugando corretamente. Já a
mastite é uma inflamação que acontece quando esse quadro é agravado.
Os
benefícios da amamentação
Insistir em
encontrar o problema e fazer a intervenção o mais rapidamente possível é muito
importante pelos benefícios que a amamentação traz para o bebê e para a mãe. É
recomendado pela OMS que o aleitamento materno seja exclusivo até os 6 meses e,
depois, intercalado com outros alimentos até cerca de 2 anos de idade, mas, a
nível mundial, somente 40% dos bebês com menos de seis meses é amamentado
exclusivamente pelo leite materno. De acordo com a organização essa prática
melhora a imunidade do bebê e previne doenças como câncer de mama e ovário nas
mães.
Um estudo
recente realizado por pesquisadores da Austrália e Ásia indica que se as mães
conseguissem amamentar por mais tempo, além dos benefícios já citados,
existiria uma economia anual de U$S341 bilhões no mundo.
O estudo,
que levou seis anos para ser concluído, leva o nome de “O custo de não
amamentar” e teve o objetivo de disponibilizar dados para incentivar políticas
públicas e formadores de opinião a entender a importância do apoio ao
aleitamento materno tanto em relação à saúde dos bebês e das mães, quanto à
economia.
Nota:
A criação e modelagem de computação gráfica em 3D da amamentação do Bebê
Virtual foi realizada por uma equipe interdisciplinar, a partir da análise de
estudos publicados em periódicos científicos dos últimos anos que fizeram uso
de ultrassom para analisar a movimentação da língua, bem como em livros de
anatomia e fisiologia.
Flávia Puccini -
Fonoaudióloga formada pela Puc Campinas, a Flávia Puccini é
mestre em processos e distúrbios da comunicação (voz, fala e funções
orofaciais) pela USP, especialista em motricidade orofacial pelo Conselho
Federal de Fonoaudiologia. A profissional é consultora de amamentação e
laserterapeuta e se coloca à disposição para ser fonte de informação de temas
como amamentação, problemas alimentares, fala, disfagia e teste da linguinha.