A sensação de estar com a corda no pescoço já é
comum para muitas empresas, principalmente quando se trata do pequeno e médio
negócio. Em 2015, uma pesquisa do JPMorgan Chase Institute revelou que metade
das pequenas empresas nos Estados Unidos tinha caixa para sobreviver por apenas
27 dias sem novas receitas. De lá para cá, pouca coisa mudou e ainda fomos
surpreendidos com a pandemia do Covid-19.
A falta de planejamento nas empresas é atemporal.
Quando pensamos em quantas famílias dependem do funcionamento de um mercado de
bairro, uma mercearia ou pizzaria, entendemos a gravidade que é a fonte de
receita de tantas pessoas ser bruscamente interrompida, como no caso de uma
determinação de isolamento.
As demandas do dia a dia, naturalmente, consomem
tanto o empresário que acaba sobrando pouco tempo para preparar os passos para
os próximos meses. Bom, “falta de tempo” para planejar tem sido a desculpa dos
empresários, mas o que se observa é que fazer planejamento dá trabalho,
exercitar a capacidade de prever acontecimentos não é fácil, então eles vivem o
dia-a-dia, resolvendo os problemas conforme aparecem, sem se preocupar em
preveni-los. Além disso, a falta de conhecimento sobre como fazer um
planejamento bem estruturado também é prejudicial. Há ainda quem o faça
corretamente, mas que acabe não seguindo o que foi planejado ou abandonando o
plano no meio do caminho.
A lógica é mais simples do que parece: se, em
tempos de abundância, eu fizer um planejamento financeiro, nas épocas de
escassez, terei plenas condições de passar pelas adversidades sem tantos
impactos. Mas, se nunca me planejo para fortalecer meu caixa, quando as vendas
caírem fortemente, terei que tomar ações de urgência, como demissões,
empréstimos, entre outras.
Um bom planejamento, seguido à risca, é capaz de
evitar que o empresário viva pela urgência e é o remédio para evitar que os
problemas continuem aparecendo no dia a dia. Ele deve conter objetivos claros e
específicos, estratégias com foco nesses objetivos e o passo a passo para que
elas sejam atingidas. Também é recomendado reunir semanal ou quinzenalmente
todos os envolvidos no planejamento para fazer o acompanhamento dessas
atividades, medindo sua eficácia e fazendo os ajustes necessários. Além disso,
a empresa deve pensar, pelo menos, para os próximos seis meses – o ideal mesmo
são planejamentos trimestrais, uma vez que os anuais e até os semestrais tendem
a ser deixados de lado.
Uma empresa deveria ter pelo menos três meses de
caixa a custos e despesas fixas (idealmente seis meses) como reserva para
passar por períodos de baixa. Alguns acreditam que este parâmetro é impossível
de se obter. Normalmente, estes são os mesmos que não se planejam para tanto, e
de modo geral, não conhecem de forma precisa seus custos e despesas. Todos
sabem da necessidade de se apurar, medir, analisar e gerir os custos e
despesas, mas a prática é bem diferente da teoria na esmagadora maioria dos
casos.
Por fim, um ponto importante é que não dá para
culpar o coronavírus pela falta de planejamento. Um dado divulgado ao IBGE
referente a 2014 mostra que, de cada 10 empresas abertas no Brasil, seis fecham
as portas antes de completar cinco anos. Ou seja, o problema não é de hoje.
Claro que a pandemia do Covid-19 atingiu a humanidade de maneira absurda, mas,
como todas as outras, faz parte de um ciclo com início e fim, e as empresas que
souberem enxergar uma oportunidade neste momento sairão dessa crise ainda mais
fortes. O que podemos esperar é que empresas que já possuíam uma cultura de
planejamento conseguirão driblar as dificuldades com mais tranquilidade e
fazendo menos sacrifícios. Sem dúvidas, o planejamento é o que poderá salvar as
empresas da crise do coronavírus. Só que agora o planejamento é de contingência
para a crise e precisa ser feito imediatamente. Então, nunca foi tão importante
fazer planejamento, mesmo parecendo um paradoxo agora que a incerteza é alta.
Marcos
Yabuno Guglielmi - coach empresarial certificado da ActionCOACH,
empresa número 1 do mundo em coaching empresarial.