Escolher
qual profissão seguir não é tarefa simples. Uma das grandes dificuldades nesse
processo é o aumento da quantidade de profissões disponíveis para o candidato
escolher, em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Além
disso, quando o candidato apresenta diferentes áreas de interesse (gostar de
música e de química ao mesmo tempo, por exemplo), deverá refletir sobre quais
dessas atividades gostaria de fazer profissionalmente, tendo que lidar com as
perdas resultantes de suas escolhas. Ao escolher trabalhar com música, a
princípio o indivíduo terá de abrir mão de seu interesse pela química.
Mas
o fato é que, apesar das dificuldades inerentes à escolha de qual profissão
seguir, tendemos a nos envolver em atividades que sejam compatíveis com nossas
habilidades. Pessoas que buscam profissões que estejam alinhadas a seus
interesses e à sua personalidade, tendem a ser mais satisfeitas
profissionalmente e a mudar menos de carreira.
Alguns
estudos da psicologia revelam que os interesses são uma expressão da
personalidade e que pessoas que seguem uma mesma profissão tendem a apresentar
características da personalidade semelhantes. Tais estudos consideram que
existem seis tipos de personalidade vocacional: Realista, Investigativo,
Artístico, Social, Empreendedor e Convencional
(RIASEC), conforme figura a seguir:
Figura 1. Tipos de personalidade vocacional RIASEC
Fonte: Holland (1985)
Veja
abaixo algumas das características comuns a cada tipo de personalidade
vocacional e alguns cursos correlatos:
(R)ealista: preferência por atividades práticas e concretas,
como o uso de máquinas, ferramentas e materiais. Pessoas com personalidade
realista tendem a ser introvertidas e a atribuir pouca importância aos valores
estéticos. Apresentam maior capacidade matemática e mecânica que capacidade
verba; e perceptiva.
Exemplos
de cursos: áreas da Engenharia
(I)nvestigativo: interesse e curiosidade por atividades analíticas
e intelectuais, buscando soluções para problemas comuns e satisfação em
atividades acadêmicas. Tendem a ser introvertidos, críticos e perfeccionistas,
preferindo profissões mais científicas e teóricas. Apresentam boa capacidade de
organização, independência e originalidade.
Exemplos
de cursos: Direito, Ciências Biológicas, Ciências Farmacêuticas
(A)rtístico: gosto por atividades livres e não sistematizadas,
visando desenvolver competências inovadoras e criativas, como a linguagem, a
arte e a música, com tendência à abertura a novas experiências. Pessoas com personalidade
artística enfatizam sentimentos, emoções, intuições e imaginação, apresentando
aptidões verbais, motoras e perceptuais.
Exemplos
de cursos: Arquitetura, Artes Cênicas, Música
(S)ocial: busca pelo contato com outras pessoas,
demonstrando extroversão e tendendo a evitar situações que exijam força física.
Demonstram responsabilidade e sensibilidade, e grande capacidade verbal e
interpessoal. Os sociais preferem trabalhar em atividades comunitárias e têm
menor habilidade matemática do que verbal.
Exemplos
de cursos: Serviço Social, Sociologia, Psicologia, Pedagogia
(E)mpreendedor: atração por situações de poder, que associam-se à
liderança e ao empreendedorismo, evitando atividades muito reflexivas e
teóricas. Apresentam necessidade de domínio, boa expressão verbal e capacidade
persuasiva.
Exemplos
de cursos: Relações Públicas, Gestão Hoteleira e Turismo
(C)onvencional: preferência por atividades como manipulação de
dados, que têm relação com competências de organização e disciplina. Indivíduos
com personalidade convencional tendem a evitar situações livres e
exploratórias, sendo caracterizados por falta de flexibilidade e de
criatividade.
Exemplos
de cursos: Economia, Contabilidade e Administração
De
maneira geral, os estudos têm encontrado uma relação significativa entre tipos
de personalidade e escolhas de carreira entre estudantes de graduação,
sugerindo que os estudantes tendem a obter maior satisfação ao escolherem
carreiras que mais se relacionem com suas características pessoais.
Por
fim, e antes que você reflita sobre qual o seu tipo de personalidade e se você
escolheu o curso certo, vale ressaltar que todos nós apresentamos
características das seis dimensões. Apesar de existir uma predominância de uma
dessas dimensões sobre as demais, que caracteriza o tipo de personalidade que
cada um de nós apresenta na maior parte do tempo, podemos apresentar
características realistas, investigativas, artísticas, sociais, empreendedoras
ou convencionais, a depender da situação ou contexto.
Se
você se interessou pelo tema, se está em fase de escolha do curso certo para
você, ou em processo de mudança de curso, recomenda-se que reflita
profundamente sobre seus interesses, gostos e preferências. Autoconhecimento é
a palavra chave nesse momento. E lembre-se que, nessa tarefa de olhar para si,
a ajuda de um profissional da psicologia pode ser muito bem-vinda!
Profa Dra Ingrid
Luiza Neto - docente do curso de Psicologia do Centro Universitário do Distrito
Federal (UDF)
Referências:
Holland, J. L. (1985). Making vocational choices: A
theory of vocational personalities and work environments (2nd ed.). Englewood
Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
Kemboi, R. J. K.; Kindiki, N.; & Misigo, B.
(2016). Relationship between personality types and career choices of
undergraduates Students: A case of Moi University. Kenya Journal of Education
and Practice, 7 (3), 102-112.
Magalhães, M. O.; & Gomes, W. B. (2007). Personalidades
vocacionais e processos de carreira na vida adulta. Psicologia em Estudo, 12(1),
95-103.
Mansão,
C. S. M.; & Noronha, A. P. P. (2011). Avaliação dos tipos profissionais de
Holland: Verificação da Estrutura interna. Psicol. Trujillo, 13(1), 46-58.
Santos,
I. M. G. (2012). Os interesses e as escolhas profissionais de acordo com os
6 tipos de personalidade propostos por Holland (RIASEC) numa amostra de
estudantes do ensino superior em Cabo Verde. (Dissertação de Mestrado),
Faculdade de Psicologia: Universidade de Lisboa.
Valore,
LA. (2008). A problemática da escolha profissional: Possibilidades e
compromissos da ação psicológica. Em Cidadania e participação social,
A.F. SILVEIRA, et al. (pp 66-76). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas
Sociais.