Em
recente relatório divulgado em 15 de março em sua página na internet, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a poluição do ar como um dos
maiores riscos ambientais para a saúde, estando vinculada a mortes prematuras
por doenças do coração, câncer do pulmão e outras doenças respiratórias.
Segundo
dados divulgados pela organização, em 2012, 12,6 milhões de pessoas morreram
por residirem e trabalharem em ambientes pouco saudáveis, o que constitui quase
um quarto do total de mortes. Fatores de risco ambientais, como a poluição do
ar, da água e do solo, a exposição a produtos químicos, as mudanças climáticas
e a radiação ultravioleta contribuem para mais de 100 doenças ou traumatismos.
O
relatório “Ambientes saudáveis e prevenção de doenças” indica que a
contaminação do ar é a que mais afeta a saúde considerando que é a que envolve
maiores riscos para a sociedade. Divulga a informação que, em dez anos, as
mortes por doenças não transmissíveis que podem ser atribuídas à contaminação
do ar aumentaram para 8,2 milhões.
Nessa
linha, a OMS confirma conclusões de estudos sobre a poluição do ar e saúde no
Estado de São Paulo. De acordo com estudo do Instituto de Saúde e
Sustentabilidade divulgado no segundo semestre de 2015, somente no Estado de
São Paulo morreram em 2011 mais de 15.000 pessoas, o que representa o dobro do
número de óbitos por acidentes de trânsito. O mesmo estudo aponta que a má
qualidade do ar atinge a todos indistintamente, diminuindo a expectativa de
vida em 1,5 ano.
A
principal fonte de poluição do ar nos grandes centros urbanos é a emissão de
gases produzida pela utilização de combustíveis fósseis, principalmente o óleo
diesel, que gera gases nocivos à saúde como o monóxido de carbono (CO), o
dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2) e material particulado
que causam inúmeras doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer do pulmão
entre outras.
O
relatório do OMS indica ainda que os mais afetados pela má qualidade do ar são
as crianças e os idosos. Em particular, as crianças menores de 5 anos e os
adultos de 50 a 75 anos. A cada ano poderiam ser evitadas as mortes de 1,7
milhões de menores de cinco anos e de 4,9 milhões de adultos com a melhoria da
gestão do meio ambiente.
A
organização alerta que as zonas urbanas de países em desenvolvimento, como o
Brasil, não estão enfrentando o problema como deveriam, pois há estratégias de
eficácia comprovada para melhorar o meio ambiente e prevenir doenças. Por
exemplo, se forem utilizadas tecnologias e combustíveis limpos para preparar
alimentos, para a calefação e a iluminação, se reduziriam as infecções
respiratórias agudas, as doenças pulmonares crônicas, as doenças
cardiovasculares e as queimaduras. Com a melhoria do acesso à água potável e um
saneamento adequado e incentivo à higiene das mãos, diminuem as doenças
diarreicas.
Quanto
à poluição do ar, apontada pelo relatório como um dos problemas mais graves,
uma das medidas mais efetivas e de curto prazo para enfrentar o caso está na
diminuição da utilização dos combustíveis fósseis como alternativa energética.
Estes combustíveis não renováveis e altamente poluentes são predominantes na
movimentação da frota de veículos e a sua substituição gradativa por fontes
renováveis como a bioenergia gerada a partir de biomassas como o álcool e o
biodiesel poderiam salvar milhares de vidas.
O
Estado deve assumir que a poluição do ar, é prioritariamente, um problema de
saúde pública, de preservação da vida. Há necessidade de medidas mais concretas
e imediatas para salvar as pessoas de morte prematura como afirma o relatório
da OMS. A substituição dos combustíveis fósseis nos transportes reduziria
enormemente a poluição urbana do ar.
No
Brasil, a produção de óleo atende as necessidades atuais, podendo ser ampliada
caso haja necessidade, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos
Vegetais (ABIOVE). Então, o que falta é a tomada de decisão, iniciativa de
âmbito político estratégico que objetiva diminuir a mortandade causada pela contaminação
do ar.
Reinaldo Dias - professor da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas, Doutor em Ciências Sociais e Mestre
em Ciência Política. É especialista em Ciências Ambientais. O professor
está disponível para entrevistas.