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segunda-feira, 14 de março de 2016

Algumas peculiaridades do cérebro do adolescente





A adolescência é um período da vida que procede a infância e precede a fase adulta.

Não é uma questão de escolha, mas um período inevitável da vida; é uma fase necessária para que o cérebro infantil se transforme em cérebro adulto.
Atualmente, temos mais um motivo para aprender sobre essas transformações. Pesquisas neurocientíficas demonstram que o cérebro de uma criança continua a se desenvolver e modificar (01). Terminada a infância, ocorrerão ainda grandes reorganizações e modificações no desenvolvimento neurocognitivo de um jovem. E mais, uma infância sadia pode promover uma adolescência sadia.
Adolescência também não é sinônimo de puberdade. Esta última se refere às transformações do corpo para a reprodução, com os hormônios assumindo papel de protagonistas.
Já a adolescência se refere às transformações nas competências cognitivas, sociais, emocionais e físicas que têm os neurônios, axônios, neurotransmissores e as sinapses como personagens principais. Em termos didáticos, a puberdade tem a ver com as mudanças no organismo; a adolescência, com as mudanças no cérebro.
No palco da adolescência um importante diretor é o hipotálamo. Tudo começa aí...
O hipotálamo é uma estrutura localizada justamente abaixo do tálamo, na região do diencéfalo. Ele possui vias de ligação com o Sistema Límbico, Sistema Nervoso e Sistema Endócrino, dirigindo e controlando a maioria das funções vegetativas, endócrinas, comportamentais e emocionais do corpo. É composto basicamente de substância cinzenta, ou seja, neurônios e axônios ainda sem mielina. O hipotálamo está intimamente relacionado com a hipófise no comando das atividades. Ele tem uma função reguladora importantíssima para o processo de desenvolvimento cerebral, que tende ao equilíbrio (06). Como curiosidade, vale dizer que ele representa apenas cerca de 1% da massa total do encéfalo; é um órgão muito pequeno, mas de holofote indiscutível - de fato, tamanho não é documento. Aliás, o volume da substância cinzenta cerebral segue aumentando até o inicio da adolescência, para então ser reduzido nas regiões corticais. Isto porque a adolescência é um período de podas, ou ainda, uma fase de lapidação.
O cérebro adulto chega a ser três vezes maior que o do recém-nascido. O cérebro do adolescente, por sua vez, já atingiu o volume máximo que terá na vida – até o envelhecimento ou a doença o alterarem.
O cérebro de um bebê tem o dobro de sinapses que o de um adulto. Logo, quando falamos de diferenças entre bebê e adulto, estamos falando de um processo de lapidação, e não mais de pedra bruta (07).
Já a principal diferença entre crianças e adolescentes não está no número de neurônios, mas no fato de que o último sofre uma reorganização química e física, de modo a alterar a quantidade dos neurotransmissores. O cérebro adolescente passa por uma enorme reestruturação, afetando a capacidade de troca de sinais entre as células nervosas.
A substância cinzenta – aquela que diminui radicalmente na adolescência –, representa os corpos celulares dos neurônios; a substância branca – que, por sua vez, aumenta no período da adolescência –, reúne os axônios e a glia. Ela ganha o nome de "branca" por possuir uma camada de gordura – a mielina – que facilita a velocidade da comunicação entre os sinais nervosos (02).
Logo, ser adolescente é passar por mudanças significativas na quantidade de corpos celulares dos neurônios, na qualidade e rapidez da comunicação entre eles e na forma de proteção dos neurônios e axônios.
Falando em cérebro, emoção e comportamento, "podemos inferir que o relacionamento entre a estrutura e a função cerebral pela comparação entre os períodos de desenvolvimento da anatomia e fisiologia do cérebro com o período do desenvolvimento comportamental", segundo Kolb e Whishaw (05). Entender o cérebro teen é entender seu comportamento. Entender seu comportamento é entender sua emoção.
As mudanças ocorrem principalmente nas seguintes regiões: Núcleos da Base, Cortex Parietal, Núcleo Acumbente, Cortex Pré-frontal e Amígdala (08). Os Núcleos da Base, que armazenam programas motores complexos, sofrem uma redução já no final da infância. Daí a importância de estimular a prática de esportes e atividades físicas nessa fase.
A região do Cortex Parietal, que integra os sinais dos sentidos e registra mudanças no mapa cortical da representação dos movimentos e da imagem do corpo, tem uma modificação significativa nessa fase. Como o corpo está crescendo – e a imagem mental precisa acompanhar –, eles buscam formas de se adequar e se reconhecer. Daí a necessidade dos jovens de experimentar visuais diferentes, cores de batons e esmaltes, estilos de cabelo, etc. A calça nos quadris, o “piercing”, os novos "looks” são tentativas do cérebro de encontrar uma nova organização e identidade que foi modificada.
O Núcleo Acumbente, parte do Sistema de Recompensa – um conjunto de estruturas que registra o prazer –, sofre embotamento nessa faixa etária. Na adolescência, há menos dopamina circulante por lá – lembrando que dopamina é o neurotransmissor responsável por ativar a sensação de prazer própria do Sistema de Recompensa. Por isso, o adolescente precisa de novos jogos, nova decoração no quarto, novas e diferentes roupas, novas músicas, novo visual, novo interesses, como a política. As necessidades dessa área, aliadas às transformações ocorridas na região Pré-Frontal, despertam seu interesse por filosofia, sociologia, artes.
A parceria entre o desenvolvimento do Pré- Frontal e as necessidades do Núcleo Acumbente levam-nos aos comportamentos de risco, ao interesse por competições, à busca pelo perigo, por grandes desafios e prazeres consumíveis. Aliás, o sexo e as drogas obedecem à seguinte lógica: quanto mais dopamina, maior a ativação do Acumbente. Quanto maior a ativação do Acumbente, mais prazer. Levando em consideração o embotamento do Núcleo Acumbente – que perde quase 1/3 de seus receptores de dopamina –, fica mais fácil entender a razão do tédio "aborrecente". Suzana Herculana-Houzel denomina esta situação de "síndrome da abstinência da infância" (08). Em outras palavras: menos dopamina na região do prazer, mais "deprê".
O cérebro é muito sábio e tende à regulação e solução de problemas e desafios. Aí entra o papel fundamental da região Pré-Frontal, já explicitado em parte anteriormente: controle dos impulsos, tomadas de decisão, cálculos de consequências, teoria da mente, empatia, maior domínio da linguagem e respostas motoras mais acuradas.
O controle cognitivo e a capacidade de planejamento de determinada área do Pré-Frontal (04), interligados aos Núcleos da Base, possibilitarão o controle mais apurado dos movimentos, das habilidades motoras refinadas e da monitorização de erros. Também o Pré-Frontal é responsável pelos embates e as discussões que passam a ocorrer entre pais e filhos. Os jovens são mais eficientes na habilidade linguística, aprendendo com facilidade figuras de linguagem e estratégias argumentativas. Nesse sentido, municiá-los de informações competentes é um bom “palco” educativo. São também mais aptos a ampliar a memória de trabalho, exercitar a flexibilidade do pensamento e trabalhar o raciocínio abstrato. Aí está mais um motivo para os adultos estimularem e exercitarem a conversa e troca de informações relevantes com os jovens. Um lembrete: nesse período, os “neurônios espelho” –, aqueles que copiam comportamentos e ações –, estão em seu auge. Eles vão buscar a imitação. Vamos torcer e criar oportunidades para que copiem o bom e o bem.
A parte frontal do cérebro também regula o comportamento motivador e, por seu papel associativo, o controle de impulsos, a flexibilidade, o planejamento de ações e ideias. Dessa forma, o adolescente libera-se do concreto, do presente, para pensar no futuro e nas várias possibilidades que uma ação pode desencadear. Mas é importante lembrar que esta área ainda está em desenvolvimento; ela só terminará perto dos 30 anos! Daí a grande importância dos adultos – sejam eles pais ou educadores– ajudá-los a avaliar as consequências, as ações alternativas e a relação entre passado e futuro.
O Cortex Pré-Frontal se relaciona com a amígdala (emoções fortes) e o hipocampo (memória). Podemos entender a relevância do autoconhecimento e da auto-estima ao longo do amadurecimento desse ser, que passará de um bebê sensório motor a um adulto autônomo ainda mais lapidado. Investir em uma infância trabalhada entre limites e possibilidades, estimulada, afetiva e diversificada em exercícios de competências emocionais é um legado essencial. A adolescência não acontece por mágica; não é uma fase desconectada ou uma espécie de entidade, mas um período que depende do desenvolvimento da infância e, ao mesmo tempo, tem suas próprias regras, seus funcionamentos e objetivos.
Fica claro, a partir do estudo do cérebro dos adolescentes, que eles são aptos a se tornarem independentes em algumas funções. Porém, como ainda as estão exercitando, muitas outras habilidades precisam da orientação, do modelo, do incentivo, do estímulo, da compreensão e do desafio. Para os educadores, psicólogos e profissionais de áreas afins, esse também é um grande desafio, tendo em vista o fato de ainda estarmos aprendendo as relações entre cérebro e emoção.

 
(01)Bruer J.T. The myth of the first three years.Nova York: Free Press, 2003.
(02) Nagy Z.e cols. Maturation of white matter is associated with the development of cognitive functions during childhood. J Cogn Neurosci, 2004.
(03) Strauch B. The primal teen.New York: Doubleday,2003, p.63
(04)Goldberg,E. The new executive brain.New York: Oxford University Press, 2009
(05)Kolb,B. E Whishaw,I. Neurociência do Comportamento.Barueri: Manole,2002
(06)Lent,R. Cembilhoes de neuronios.São Paulo: Editora Atheneu,2005.
(07)Pantano,T, Zorzi,J.Neurociência aplicada à aprendizagem.São José dos Campos:Pulso,2009.
(08)Herculano-Houzel,S. O cérebro em transformação.Rio de Janeiro:Objetiva, 2005.

(*) Plasticidade Emocional – conceito, de sua autoria, que se caracteriza por um conjunto de ações capazes de levar a pessoa com pequena ou grande limitação – física ou emocional –, à recuperação de capacidades e competências.


Adriana Fóz - Educadora (USP), pós-graduada em Psicologia da Educação (USP) e especialista em Psicopedagogia (Instituto Sede Sapientiae) e Neuropsicologia (CDN-Unifesp). Coordenadora geral do Projeto Cuca Legal – Programa de Prevenção em Saúde Mental nas Escolas (Psiquiatria/Unifesp). Pesquisadora CNPq em Neurociências na Educação. Consultora e autora, lançou recentemente o livro “A Cura do Cérebro”, no qual narra sua história de superação.  Aos 32 anos, após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral), Adriana descobriu que é possível superar, aprender, conquistar competências e reabilitar capacitações por meio da Plasticidade Cerebral e Emocional. Atende em consultório pacientes adolescentes e adultos para reabilitação neuropsicológica, com parceria interdisciplinar. Ministra cursos e palestras por todo o Brasil sobre temas relacionados à Neurociência na Educação, e recentemente vem levando a palestra “Plasticidade Emocional(*)” para o mundo corporativo, instituições e escolas.

Entenda por que as crianças têm medo do escuro





Psicóloga explica como surge este sentimento e como os pais podem agir para
minimizá-lo


Medo é a resposta fisiológica a uma ameaça física ou psicológica conhecida, seja ela real ou imaginária. Entrar no quarto com a luz apagada, dormir sozinho em completa escuridão ou simplesmente não gostar de ficar em qualquer lugar onde não há luz é um medo comum entre as crianças.De acordo com Christine Bruder, psicóloga e fundadora do berçário Primetime Child Development, o medo do escuro pode ser amenizado pelos pais. Para os pequenos, a escuridão reapresenta o desconhecido e seus perigos, de forma que a criança se sente ameaçada por não poder controlar aquilo que não entende nem conhece.
Por volta dos três anos de idade, o mundo da realidade e fantasia se confunde para as crianças. Há uma linha tênue entre o que é real e imaginário. Diante disso, a escuridão abre espaço para que a inventividade dos pequenos adentre o mundo real e traga, no escuro, os monstros e demais elementos da fantasia da criança.
Acalmar a criança e mostrar que ela tem recursos para enfrentar seus medos faz com que os pequenos se sintam mais seguros e confiantes, diminuindo cada vez mais o medo. “Deixar a criança expressar seu medo e sugerir que juntos combatam o “perigo”: o lobo, bruxa ou monstro” é uma das formas dos pais combaterem o mal”, explica Christine.
Segundo a psicóloga, é aconselhável que os pais procurem ajuda profissional a partir do momento em que a criança não é facilmente acalmada ou sofre constantemente com o medo do escuro. Desta forma, é possível identificar se o escuro é associado a algo maior, por exemplo, um trauma, podendo assim ser tratado adequadamente, libertando a criança de qualquer receio.

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