“Brinquem
com seus filhos e relembrem a infância, vivendo a alegria desse período
importantíssimo para nos sentirmos amados e valorizados”
Quem já não ouviu um pai ou uma mãe dizer: “Meu filho sabe mexer
melhor no celular do que eu!”? E muitas vezes é verdade. A geração atual
de crianças e adolescentes já nasceu inserida na era digital. Scrollar
a tela, baixar um app, escolher o desenho ou game que quer. Tudo
isso faz parte da vida e do cotidiano deles. Porém, será que eles
estão consumindo conteúdo de acordo com a sua faixa etária? Será que músicas e
danças sensuais e até mesmo jogos um pouco mais perigoso, não podem adultizar
ou até colocar a vida desses jovens em risco?
“Devemos estar
atentos e vigilantes com ações que possam acelerar esse processo de crescimento
das crianças, incentivando a pular etapas”, alerta Rosana Mancini,
coordenadora do Colégio Anglo Leonardo da Vinci.
Outro perigo que ronda as telas e integridade de crianças e
adolescentes são criminosos se passando por outra pessoa, como aconteceu
recentemente com a menina de 12 anos, de Sepetiba, no Rio de Janeiro, que foi
encontrada oito dias depois isolada em uma quitinete do Maranhão. Assim como o
caso da novela “Travessia”, da Rede Globo, que retrata a história de um
criminoso que se passou por uma atriz famosa usando a tecnologia deep fake,
para enganar uma menor de idade. Situações como essa assustam os pais e
provocam professores e pedagogos a levar esse tema para conversas com os
jovens.
Perigo,
cuidados e confiança
“A infância é o momento de brincar, se descobrir, criar, fazer
amigos, conviver, conhecer sobre assuntos diversos com grande curiosidade e
interesse”, é dessa forma que Rosana Mancini, Coordenadora do Fundamental Anos
Iniciais, do Colégio Anglo Leonardo da Vinci, de São Paulo,
acredita que essa fase tão bonita da nossa vida, deve ser efetivamente vivida
pelas crianças. A profissional percebe que há um certo descontrole no uso de
smartphones, o que pode adultizar os pequenos.
“Devemos estar atentos e vigilantes com ações que possam
acelerar esse processo de crescimento das crianças, incentivando a pular
etapas. O primeiro disparador desse processo é muitas vezes o celular. É
necessário que os pais acompanhem e limitem o uso do mesmo e tenham
conhecimentos dos sites a serem visitados. No celular, as crianças são
praticamente arremessadas a outros locais indevidos o tempo todo nos diversos
anúncios e convites que aparecem”, explica Rosana que reforça a importância de
brincar e estimular a criança a ser criança: “É preciso estar atento às
músicas, filmes, séries, amizades com crianças e adolescentes. E claro, brincar
muito! Brinque com seus filhos e relembrem a infância, vivendo a alegria desse
período importantíssimo para nos sentirmos amados e valorizados”.
Assim como Rosana, Volmar de Souza, diretor pedagógico do Colégio
Marília Mattoso, de Niterói, no Rio de Janeiro, acredita que o
olhar familiar é importantíssimo para evitar alguns males causados pelo uso
indiscriminado de telas. Ele alerta que, em alguns casos, o uso excessivo do
celular pode ter como causa a falta de atenção dos pais:
"A
família possui um papel fundamental na formação dos hábitos e culturas das
crianças. Todas as vezes que pais e demais familiares negligenciam por qualquer
razão essa responsabilidade, as crianças vão buscar entretenimento e interação
em outros meios, como a internet. Isso torna plataformas como o Tik-tok um
verdadeiro fenômeno em meio a uma sociedade carente de atenção e de
entretenimento familiar com qualidade", determina Volmar.
Escola
como rede de apoio para pais e, principalmente crianças
Em Campos dos Goytacazes, Carol Chardelli, está o tempo
todo rodeada de crianças, afinal, ela é coordenadora da Educação Infantil do Colégio
Centro de Estudos. Sempre atenta, Carol acredita em
um movimento contrário às redes, em que pais e professores, podem estimular a
volta à infância “raiz” e encontrar um meio de fortalecer a conexão com os
pequenos:
“É importante,
tanto na escola, quanto em casa, resgatar a verdadeira infância da criança, uma
infância com o mundo de fantasia, imaginação, criatividade e brincadeiras.
Podemos incentivar as crianças a leitura de mundo e estimular a se construir
como um sujeito capaz de transformar a própria realidade, sempre o auxílio de
brincadeiras lúdicas que chamam a atenção e criam o interesse dos menores”.
Proibir,
coibir, limitar? Afinal, o que fazer quanto ao uso de telas e me conectar com o
meu filho?
Para Ivone Ferreira
Santos, psicóloga do Colégio Novo Tempo, de Santos, litoral
paulista, precisamos entender que nem sempre o ideal coincide com o
real, por isso, buscar o equilíbrio entre o digital e o físico é mais do que
primordial.
“Vivemos um tempo em que percebemos que a conexão entre pais e
filhos está cada vez mais desafiadora. É claro que o ideal seria o convívio em
espaços naturais, propícios para o diálogo, a criatividade, a diversão e
estreitamento das relações. Inclusive, esse convite precisa ser rotineiro e
contínuo para que nossas crianças e jovens vivam de forma saudável a vida real.
No entanto, é inquestionável que nossas crianças e adolescentes estão cada vez
mais envolvidos pelas diferentes possibilidades tecnológicas. As redes sociais
têm oferecido inovações de interatividade tentadoras, especialmente para uma
geração que se mostra visual, imediatista, impaciente, hiper criativa”, diz a
psicóloga que continua:
“O que fazer então? Bater de frente, proibir, podar? Nada disso!
Que tal participar, envolver-se, arriscando uns passinhos em uma coreografia?
Essa atitude possibilita o acompanhamento e a monitoração do conteúdo acessado
pelos filhos. É uma aproximação necessária e que provavelmente favorecerá a
aceitação de convites para outras experiências sugeridas pelos pais, já que
ambos estarão conectados entre si”, sentencia Ivone que ressalta que esses
momentos podem ser importantíssimos para debaterem temas que, muitas vezes, são
tabus entre as famílias.
“Gostaria de acrescentar que é
muito importante os pais refletirem com os filhos sobre os assuntos, temas,
músicas que têm acesso e que escolhem interagir. Essa prática auxilia no
desenvolvimento da análise crítica. Muitos reproduzem conteúdos sem sentido ou
antipedagógico por simples imitação, sem analisar. Seria importante
aproveitarem esses momentos para analisarem juntos”, explica.
Crianças
agem por repetição
É exatamente isso que Daniela Pureza, do time de orientação
educacional Canadian School of Niterói, acredita. Receosa
quanto ao uso de telas e redes sociais, a orientadora escolar se preocupa com o
mundo perfeito da internet.
“É muito importante buscar o equilíbrio, tempo controlado,
famílias tenham acesso ao que as crianças assistem. Agora rede social e infância
não combinam, elas não devem ter acesso as redes sociais pois elas não estão
preparadas. Até para os adultos, as redes têm efeitos negativos, como
ansiedade. Afinal, tudo nas redes sociais é perfeito, acontece comparação de
uma vida real e uma vida perfeita de postagem. A criança fica com baixa
tolerância à frustração, vicia, elas ficam com menos interesse em socialização.
A sexualização é muito alta, com danças sensuais, é muito perigoso”, alerta
Daniela que faz um alerta aos pais, afinal, para ela, crianças reproduzem o que
os seus tutores fazem:
“A forma de se conectar é ter um momento de qualidade com seus
filhos, e se monitorar quanto ao uso das telas. Os adultos estão imersos nas
telas e esquecem de se relacionar. Sair com família, refeições a mesa sem
celular, pracinha, locais de brincar, de criança, de socialização. E em casa,
jogar tabuleiro, até mesmo usar a tela, mas de forma coletiva. Assistir a
filmes. O pai precisa querer se conectar e fazer um exercício de limitar o
próprio uso da rede social. Criança com redes sociais, não combinam. Quando ela
tiver mais maturidade, saberá usar”.
Regras
firmes em uma escola voltada em resultados
O sistema de ensino do PB Colégio e Curso é único e
diferenciado, tanto que tem os maiores números de aprovações em faculdades
públicas no Rio de Janeiro. Hugo Almeida Rego, diretor do
colégio que tem unidades na Tijuca e em Niterói, aposta na desintoxicação do
celular em sala de aula para o sucesso da rede.
“Não há flexibilidade: não pode celular dentro do PB. Não pode
até na hora do almoço, quando acontece dentro da unidade. O aluno só pode pegar
o celular se for almoçar fora da instituição”, fala Hugo que tem o
apoio de Juliana Rettich, coordenadora do colégio, que reforça
que o método do PB não possibilita que o estudante fique em telas durante as
aulas, afinal, o foco nos estudos é mais do que necessário para quem quer
conquistar o 1º lugar em Medicina:
“Estudar é um processo que inclui tempo, renúncias, paciência
para virem os resultados, dificuldades... Tudo que é quase o oposto do que é
prometido pela internet e por uma sociedade que cria um roteiro ilusório de
felicidade o tempo todo”, explica a profissional que faz um alerta aos pais:
“Os pais precisam estar presentes
na vida dos filhos, dando exemplo. Tem famílias que ficam no celular durante as
refeições, diminuindo a conexão entre esses membros. Mas perda do filho é
sintoma de muitas causas que não só o celular, o filho ficar o tempo todo no
celular já pode ser também alguma consequência de ausências ou do próprio
exemplo dos pais”, finaliza.