Mês é destinado à conscientização sobre o câncer Infantojuvenil, principal causa de mortalidade por doença entre crianças e adolescentes
Vinte e três de
novembro é marcado como o Dia Nacional de Conscientização sobre o Câncer
Infantojuvenil. Para reforçar a importância do diagnóstico precoce, a Sociedade
Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) inicia em suas redes sociais a
campanha "Toda Queixa Importa". A ideia é alertar pais, educadores e
profissionais de saúde para ficarem atentos aos sintomas do câncer nessa faixa
etária.
De acordo com o
Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer já representa a primeira causa de
mortalidade por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos de idade em
todo o País. Ainda, segundo a entidade, no Brasil, o número esperado de novos casos
para cada ano do triênio 2020-2022 é de 8.460, sendo 4.310 no sexo masculino e
4.150 no sexo feminino.
"É natural que
as pessoas que convivam com as crianças ou adolescentes minimizem algumas
queixas, como as queixas de dor, fadiga ou alterações visuais, ou não se
atentem para sinais como distúrbios de marcha, perda de peso e manchas roxas no
corpo - entre outros sinais e sintomas que podem estar relacionados ao câncer -
afinal, crianças caem e adolescentes praticam esportes", exemplifica a
Dra. Flávia Delgado Martins, oncologista pediátrica e membro da diretoria da
SOBOPE. "Os familiares devem estar atentos a qualquer alteração e devem
abrir espaço diariamente para que as crianças e adolescentes exponham suas
queixas. Mais importante ainda, é que essas queixas sejam valorizadas, ainda
que os cuidadores optem por acompanhá-las domiciliarmente", ressalta Dra.
Flávia.
Outro ponto
reforçado pela campanha é a importância de uma relação de confiança entre o
médico que faz o primeiro atendimento, seja ele pediatra ou não, família e
paciente. "Para o médico, é importante praticar a escuta de maneira
profunda e acolher toda e qualquer queixa. Ou seja, estar apto a ouvir mesmo as
queixas não diretamente relacionadas à criança, como por exemplo a demora no atendimento
ou quantas outras unidades aquela família tentou até conseguir este
atendimento. Isto trará ao médico um conhecimento amplo da situação de
ansiedade e estresse a que vem sendo submetida esta família e a criança, e o
ajudará a julgar com maior sensatez a queixa principal. Quanto às queixas
relacionadas à criança ou ao adolescente, todas as queixas importam! Sinais,
sintomas, histórico comportamental, mudança nos sentidos, etc.", esclarece
a oncologista da SOBOPE.
Uma vez feita a
hipótese diagnóstica, que pode indicar alguma comorbidade mais corriqueira ou
até a suspeita de um câncer, o médico deve explicar de maneira compreensível e
realista qual a situação atual do paciente, se há a necessidade de realizar
exames mais detalhados e a urgência dos mesmos. "Muitas vezes o pediatra
dá o encaminhamento - para algum exame ou consulta com outro especialista - mas
não fala o porquê ou a urgência. O que acontece é que a família não dá muita
importância, posterga ou nem continua o acompanhamento", alerta a Dra. Flávia
Martins.
Por sua vez,
pacientes e familiares precisam ter em mente que aquele é o momento deles.
"À família, pais ou cuidadores, eu diria: Descrevam no seu tempo tudo o
que está acontecendo, dores, alterações nos sentidos (como alteração na visão,
fala ou audição, mudança cognitiva), caroços em qualquer parte do corpo, febre
prolongada, observem o exame físico do médico, ouçam com atenção o que ele tem
a dizer e não se sintam acuados em perguntar novamente, em requerer mais
explicações. Enfim, saiam do consultório completamente esvaziados em todas as
suas dúvidas e receios. Nós médicos, muitas vezes, não saberemos explicar tudo
ou daremos o diagnóstico final, mas até a dúvida é nossa obrigação comunicar,
para que a família fique ciente da necessidade de observação rigorosa até a
resolução dos sintomas ou surgimento de outras alterações", salienta a
oncologista.
Por fim, Dra. Flávia
cita ainda a importância do médico e dos familiares de colocarem o paciente,
seja ele criança ou adolescente, como centro da consulta. "É de suma
importância não subestimar a capacidade de comunicação da criança ou
adolescente pelo fato de eles terem interlocutores. Desde o momento da
anamnese, quanto durante o exame físico e à comunicação da hipótese diagnóstica
e das medidas a serem tomadas, eles podem contribuir com informações valiosas,
além de terem o direito de expressar dúvidas e anseios".
Diferentemente do
câncer em adultos, que geralmente se desenvolve a partir de fatores de risco
relacionados a outras doenças crônicas (obesidade, hipertensão, tabagismo etc),
o câncer na criança e no adolescente está ligado a fatores genéticos e,
geralmente, afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação,
como ossos e músculos. Segundo a American Cancer Society, o tipo de câncer mais
comum nesta faixa etária é a leucemia (28%), seguida pelo do sistema nervoso
central (26%), com os linfomas (8%) em terceiro lugar
A boa notícia é que,
de acordo com o INCA, 8 entre 10 crianças e adolescentes diagnosticados com
câncer podem ser curados se a doença for descoberta precocemente e tratada em
centros especializados. "Por isso é tão necessário não ignorar os sinais
iniciais do câncer, dar atenção às queixas, principalmente as recorrentes, ter
acompanhamento médico regular e levá-los para consulta com o pediatra caso
surja alguma anormalidade. Afinal, toda queixa importa", finaliza a Dra.
Flávia Delgado Martins, oncologista pediátrica e membro da diretoria da SOBOPE.