|
Trilha sonora (2002), peça constituída de longas fileiras de
martelo pregados na parede formando o desenho de uma cordilheira é uma das
obras da exposição |
A
mostra acontece na Pina Estação e abrange obras inéditas e a montagem de trabalhos
famosos pela primeira vez em São Paulo
A Pinacoteca de São
Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São
Paulo, reabre no próximo dia 24 e inaugura José Damasceno: moto-contínuo
na Pina Estação. A mostra, com curadoria de José Augusto Ribeiro, é a primeira
a reunir um número representativo de obras da carreira do artista desde o
início até aqui, com peças realizadas entre 1989 e 2021. Damasceno é um dos
artistas brasileiros com maior inserção no circuito internacional de arte
contemporânea, reconhecido pelas múltiplas linguagens com que opera, pela
escala agigantada das peças, além do caráter reflexivo de seus trabalhos.
A exposição abrange cerca de 80 obras, cinco
delas inéditas e 40 apresentadas pela primeira vez em São Paulo. Na seleção,
estão esculturas, desenhos, instalações e fotografias, que se reportam ao
cinema, à música, ao teatro, à arquitetura e ao próprio campo da arte. Grande
parte desses trabalhos pertence hoje a coleções públicas e particulares do
Brasil e do exterior.
O ineditismo fica por
conta de 3 trabalhos com bordado de lã (Pontinho, de 2017); de uma
escultura de pedra obsidiana, extremamente reflexiva, muito semelhante a um
espelho negro (Sólido, de 2019); e de Monitor líquido, obra de
2021, realizada com derretimento de giz de cera.
Damasceno possui em
sua trajetória obras memoráveis. Para a exposição, o visitante poderá ver
trabalhos jamais vistos em São Paulo e outros que há anos não são apresentados
na cidade. É o caso de Trilha sonora (2002), peça constituída de longas
fileiras de martelo pregados na parede formando o desenho de uma cordilheira.
Essa obra foi montada na Bienal de São Paulo em 2002, e agora, 20 anos depois,
o público poderá apreciá-la novamente.
Outro trabalho
bastante conhecido de Damasceno é Snooker (2001), apresentado agora pela
primeira vez na cidade e composto de uma mesa de sinuca, sobre a qual se
derrama emaranhados de lã amarela de 2 mil novelos, pendentes de um par de
luminárias presas ao teto da sala. Estreia também em São Paulo Método para
arranque e deslocamento (1992/1993), produzida por meio de recortes de um
carpete, instalado sobre o piso de uma sala inteira construída para a obra.
Além de Snooker,
outras peças selecionadas pela curadoria são produzidas a partir de uma
quantidade vultuosa de um determinado material. Como Monitor-crayon, formado por cerca de
75.000 bastões de giz de cera, e Paisagem crescendo, constituída por
cigarros de aproximadamente 160 maços. "As obras têm uma presença física
importante e se pronunciam no espaço com força, com energia. São visualmente
atraentes e são, ao mesmo tempo, reflexivas, enigmáticas. Sugerem sentidos
múltiplos e incongruentes e mobilizam faculdades diferentes da percepção do
observador", ressalta José Augusto Ribeiro, curador da exposição.
Ribeiro também
aponta uma outra característica do artista que influenciou no nome da
exposição. "Os trabalhos de Damasceno parecem vibrar, insinuam
movimentações que são de propagação, deslocamento e metamorfose, embora sejam
sempre estáticos. Então, mesmo parados, encontram-se em ação. O título, José
Damasceno: moto-contínuo, refere-se a isso. A ideia de um engenho com
funcionamento autônomo, sem a necessidade de um fator externo, e perpétuo, é
uma utopia existente desde pelo menos o Renascimento e que, descobriu-se
depois, contraria as leis da termodinâmica, formalizadas no século XVII. O que
interessa então reter dessa noção é sua existência como ideia, como pensamento
- como projeto de uma máquina com atividade constante, mas impossível, o que
ajuda a pensar no que se passa nas obras de Damasceno", completa.
DESENHOS E FOTOGRAFIAS
Para além das
instalações e esculturas, José Damasceno: moto-contínuo traz um
outro recorte importante de sua produção, que são os desenhos. A mostra reúne
26 desenhos (alternando ou combinando técnicas diversas, como nanquim, grafite,
decalque) e 2 polípticos de serigrafia (com 12 imagens cada) feitos a partir de
desenhos. A exposição explora também a relação entre o desenho e a escultura na
obra de Damasceno - entre a representação bidimensional e a projeção de objetos
no espaço tridimensional.
Muitas vezes, aliás, o
artista desenha nas paredes do ambiente expositivo com objetos, com martelos e
cigarros, por exemplo. Outra obra formada a partir da linguagem gráfica é a
versão em carimbo de Organograma (2000-2021), em que as palavras
"ontem, hoje e amanhã" são gravadas repetidamente em linhas na
parede, como as ramificações de um vegetal, embaralhando o curso do tempo.
Já a fotografia é uma
técnica incorporada recentemente à produção do artista. A exposição conta com
três desses trabalhos, que datam de 2005 e 2006. As imagens constroem cenas e
situações que são, ao mesmo tempo, misteriosas e cômicas. "Damasceno
muitas vezes é associado ao surrealismo, à representação do fantástico, mas o
que acontece com o trabalho dele é uma intensificação do real, relacionada não
apenas ao absurdo que constitui a realidade, mas também a uma espécie de
ampliação ou de exacerbação das coisas do mundo", explica José Augusto
Ribeiro. Além dessas fotos, a mostra apresenta um conjunto de intervenções
gráficas realizadas por Damasceno sobre fotografias publicadas em uma revista
francesa de decoração, na década de 50.
A mostra segue em
cartaz até agosto deste ano na Pina Estação. Mesmo a entrada sendo gratuita, é
preciso reservar o ingresso pelo site http://www.pinacoteca.org.br. A exposição José Damasceno: moto contínuo tem
patrocínio do Itaú Unibanco.
Catálogo
Para esta mostra, foi produzido um catálogo que
traz em suas páginas um ensaio visual concebido por José Damasceno
especialmente para a publicação, composto de desenhos, fotografias e até um
selo oficial dos correios desenhado pelo artista. Bilíngue (português e
inglês), o volume traz dois textos inéditos: um do curador da exposição, José
Augusto Ribeiro, e outro da renomada historiadora norte-americana da arte Lynn
Zelevansky sobre os desenhos do artista e como eles se relacionam com suas
outras linguagens, como as instalações e as esculturas. Além do ensaio visual e
dos textos, o livro conta também com reproduções fotográficas de todas as obras
apresentadas na exposição.
JOSÉ DAMASCENO
José Damasceno Albues
Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 1968. O artista chegou a cursar arquitetura,
mas não concluiu o curso. Foi na década de 90 que se voltou para as artes
plásticas. No Brasil, passa a expor regularmente seus trabalhos a partir de
1993 e no exterior em 1995. Já participou de cinco Bienais de Arte, a Bienal de
Veneza, Itália (2007); Bienal de Sydney, Austrália (2006); L’Esperienza
dell’Arte na Bienal de Veneza, Itália (2005); Bienal do Mercosul, Porto Alegre
(2003); e a 25ª Bienal de São Paulo, São Paulo (2002). No Brasil, realizou mostras individuais em importantes
equipamentos culturais como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2019);
Santander Cultural, Porto Alegre (2015). No exterior, as suas obras já foram
expostas no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha (2008) e
no Holborn Library, Londres, Reino Unido. Obras suas integram o acervo de
grandiosas instituições culturais, como o Museum of Modern Art, Nova York;
Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Barcelona; Instituto Inhotim; e o Museu
de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo.
Serviço:
José Damasceno: moto
contínuo
Curador responsável: José Augusto Ribeiro
Período: De 24.04.21 a
30.08.21
Pina Estação - 2° andar Largo
General Osório, 66 - Santa Ifigênia De quarta a segunda, das 11h às 17h
Ingressos Gratuitos,
com reserva exclusiva pelo site www.pinacoteca.org.br
Visitantes: o público terá a sua temperatura aferida, e quem estiver com
temperatura acima de 37,2° e/ou mostrar sintomas e gripe/resfriado deverá
buscar ajuda médica e não poderá acessar o museu. O uso de máscara será
obrigatório em todos os espaços e durante toda a visita. Não será permitido
tirar a máscara em nenhum momento, como por exemplo para fotografias/selfies.
Os espaços terão álcool gel para a higienização das mãos, além de uma nova
sinalização que indicará o sentido de circulação e o distanciamento mínimo de
1,5m entre pessoas.