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sábado, 13 de outubro de 2018

O bilinguismo no século XXI


Transitar por duas línguas tem efeito profundo no modo como pensamos e agimos.


Dominar uma segunda língua - no caso o inglês, atualmente utilizado entre falantes de outros idiomas para se comunicarem no mundo - traz amplos benefícios, especialmente ligados ao cérebro e a habilidades essenciais do século XXI: pensamento crítico, competências comunicativas, colaborativas, criativas e diversidade cognitiva. Saímos do modelo do canto em uníssono (uniformidade) e entramos para a prática do canto em harmonia (diversidade).

Transitar por duas línguas, além de dispensar intérpretes, tem efeito profundo no modo como pensamos e agimos. O aprimoramento cognitivo é apenas o primeiro passo. Memórias, valores e até a personalidade podem se modificar dependendo da língua que usamos, como se o cérebro bilíngue abrigasse duas mentes autônomas. Apesar de tamanha importância, isso foi ignorado por muito tempo e só recentemente recebeu a relevância merecida.

Muitos pesquisadores expõem as vantagens de um bilíngue em comparação a um monolíngue, como o adiamento de futuras demências, maior compreensão de culturas diversas e a oportunidade de expor ideias de outras formas. A experiência intelectual da pessoa com dois sistemas linguísticos amplia sua flexibilidade mental e produz um leque superior na formação e expressão de conceitos, pois o cérebro bilíngue está sempre ativo nas duas línguas e o exercício de eleger uma e não a outra fortalece a mente.

Aprender uma língua adicional, contudo, exige concentração e dedicação para quem não teve a oportunidade de vivenciá-la naturalmente, como nos casos de bilinguismo precoce, em que a família herda essa outra língua e a utiliza cotidianamente ou desde muito cedo. No bilinguismo tardio, quando o contato com essa segunda língua acontece depois de a primeira estar estabelecida, há um caminho mais árduo a ser trilhado, pois é aí que teremos de estudar essa língua e não apenas adquiri-la natural e espontaneamente.

E não é fácil ter de recodificar novamente tudo o que já sabemos na língua 1, pois temos de erguer um novo edifício em que suas estruturas são a nova gramática, suas janelas o novo vocabulário e seus acessos a pronúncia diversa de sons que muitas vezes desconhecemos. Quando uma criança inicia essa construção precoce, o prédio 1 (língua materna) e o prédio 2 (língua adicional) são parte de um mesmo condomínio e esse processo é mais harmônico, natural. Por isso a educação bilíngue, a que acontece em colégios, funciona muito bem quando iniciada desde os anos iniciais e de forma correta.

Mas atenção! Bilinguismo não significa um par de aulas semanais a mais de inglês no currículo. Além de encontros adicionais de inglês, há que se ofertar outras atividades e disciplinas em inglês, com profissionais fluentes e capacitados para promover e ampliar esse aprendizado. Como consequência natural, o estudante começa a apresentar um nível maior de concentração como forma de se adaptar rapidamente a contextos desconhecidos e passa, então, a avaliar e tomar decisões mais assertivas, como o que vai falar em seguida, como reagir, interpretar e assim por diante.

O cérebro processará esses estímulos com mais agilidade, escolhendo o sistema linguístico mais adequado às suas necessidades naquele momento. E é aí que entra em ação o lobo frontal, que é o centro das funções executivas do cérebro, habilidades que nos ajudam a focar concomitantemente em múltiplos fluxos de informação, monitorar erros, tomar decisões com base nas informações disponíveis, rever planos e resistir à tentação de deixar a frustração nos conduzir a ações precipitadas.

Outra vantagem competitiva, e talvez a mais óbvia, de ser bilíngue, atualmente, são as oportunidades que temos ao dominar um outro idioma. Afinal, em mercados de trabalho cada vez mais concorridos, é imprescindível ter um excelente domínio dessa língua adicional para se destacar da concorrência. E a avaliação dessa habilidade pode ser feita por meio de certificados de proficiência, análise de histórico escolar com mais horas de aulas de/em inglês ou por testes e entrevistas práticas para atestar se o domínio de fato existe.

Outro aspecto que se desenvolve especialmente em alunos bilíngues é a habilidade de compreensão. Cada língua tem suas expressões, formas de construção gramatical e até mesmo linhas de raciocínio diferentes. Por isso, os discursos oral e escrito acabam sendo elaborados de outra forma, com características distintas: em inglês, as ideias costumam ser mais objetivas e concisas, fazendo com que, pela síntese, possamos expressar mais sucintamente o que queremos.

Perceber as particularidades de cada língua, para compreender com exatidão a mensagem que se quer passar, as intenções subliminares, características intrínsecas e linha de raciocínio, faz parte desse lindo processo.

Ser bilíngue significa também expandir as formas de se conectar com o mundo porque nos comunicamos para interagir com outras pessoas nessa era totalmente interconectada, com mais oportunidades de viagem, trabalho e estudo. E para garantir essa comunicação efetiva, aspectos culturais também devem ser levados em consideração, já que a língua reflete particularidades sociais de seus falantes.

Nesses contextos, o falante bilíngue se relacionará melhor com as pessoas de culturas diversas compreendendo o que está inerte à sua fala e intenção, tornando a comunicação mais ampla e próxima. Uma coisa é certa: dominar uma outra língua em conjunto com habilidades essenciais para agir no século XXI é a chave para o que o futuro nos apresenta, ampliando as escolhas pessoais e profissionais.






 Luiz Fernando Schibelbain - diretor da Positivo English Solution School (PES) e gestor de Idiomas PES / Sistema Positivo de Ensino.

Fonte: Central Press



Quanto maior a desigualdade, mais corrupção

Em todos os países de corrupção sistêmica (o Brasil ocupa a posição 96 no ranking da Transparência Internacional) é muito elevado o índice de desigualdade. A corrupção, nesses países, não se deve apenas às patologias humanas decorrentes da falta de ética, senão, sobretudo, às desigualdades (econômicas, sociais, estruturais, psicológicas, educacionais, de oportunidades etc.).

O Brasil é um país exageradamente corrupto porque é vergonhosamente desigual.

Vamos recordar: somos o 10º país mais desigual do mundo, de acordo com o índice Gini (que mede esse desequilíbrio). É o 4º país mais desigual da América Latina, só perdendo para Haiti, Colômbia e Paraguai. Embora seja a 7ª economia do planeta, possui um indecente Índice de Desenvolvimento Humano (posição 79, em 188 países pesquisados).

Em nenhum outro país há tanta concentração de renda: o 1% mais rico detém 30% da renda total (ver Pesquisa da desigualdade Mundial de 2018). Nem o Oriente Médio nem os EUA têm tanta concentração de renda.

A cruel desigualdade brasileira no século XXI é continuação do sistema feudal da Idade Média. Entre nós existem 450 empresas (ver Bruno Carazza, Dinheiro, eleições e poder) e umas 20 famílias que se comportam como senhores feudais, que compraram os mandatos (via financiamento de campanha) de uns 300 políticos superinfluentes entre 1994 e 2014.

Políticos com mandatos comprados cumprem o papel de vassalos dos senhores feudais, protegendo seus interesses materiais no âmbito do Executivo e do Legislativo (por meio de leis de isenções fiscais, dinheiro público barato, contratos públicos sem licitação lícita, contratos superfaturados, desonerações e renúncias fiscais etc.).

Tal qual na Idade Média (século V ao XV), os senhores feudais (verdadeiros donos do Brasil) possuem muito poder econômico e político. Mas não estariam no comando da nação há 518 anos se não contassem com incontáveis aparatos de proteção que vão além da vassalagem política (que é comprada).

A influência desses senhores feudais alcança também a vassalagem de setores do judiciário, da alta burocracia estatal, do mundo militarizado, da grande mídia, da intelectualidade vendida e da religião. Sem aparatos protetivos os senhores feudais desapareceriam.

As desgraças geradas pelo feudalismo corrupto não se limitam à indignação que nos gera o dinheiro roubado (que já é absolutamente intolerável). É que esse dinheiro faz muita falta para a educação, saúde, segurança, Justiça, transportes e infraestrutura. O bem comum sucumbe diante dos deploráveis interesses privados, que menosprezam desde logo a ética.

O pior é que daí nasce um tipo de cultura política de desapreço pela democracia. Da apatia democrática fundada na descrença frente às instituições decorre não apenas a recusa do eleitor de participar validamente das eleições (os votos brancos, nulos e a abstenção continuam em alta) como um tipo de revolta que está levando várias partes do continente a ditaduras eleitas pelo povo.

Por causa do feudalismo corrupto protagonizado pelos senhores feudais donos do país o Brasil se acha imerso em um círculo vicioso altamente destrutivo da sociedade brasileira. Doenças que já tinham desaparecido estão retornando (sarampo, poliomielite etc.).

Tudo deriva da falta de confiança entre as pessoas assim como nas instituições. A falta de confiança favorece muito a difusão da corrupção sistêmica. Esta, por sua vez, amplia a falta de confiança nas instituições. É um círculo vicioso mortal. Nossa sociedade está sendo destruída pelos donos corruptos do poder.

Uma plutocracia (poder dos endinheirados) gananciosa, egoísta e corrupta converteu o Brasil numa cleptocracia que é continuidade do feudalismo da Idade Média.

Cleptocracia significa governos de ladrões que se sucedem, sem resolver nossos problemas básicos de escolarização, saúde, transportes, segurança e Justiça.

Enquanto não atacarmos com dureza essas doenças do Brasil, fazendo o ladrão devolver o roubado e pagar pelo que fez de errado, vão se agravando os seus efeitos maléficos assim como o sofrimento da população. Até quando o brasileiro vai suportar os desmandos e caprichos dos senhores feudais donos da Nação?





LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista e criador do movimento Quero Um Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial




O POVO BRASILEIRO ACORDOU

        Não adiantou a enorme e persistente campanha para afastar os brasileiros das urnas. Poucas coisas são tão consensuais entre nós quanto a inconfiabilidade das eletrônicas em uso no país. Descrédito total! O solene depoimento de meia dúzia ou mais de ministros do STF e do TSE só agrava a situação. Quem confia nessas cortes? Pois mesmo assim, olhando de soslaio, com um pé atrás, os eleitores brasileiros foram às seções de votação no dia 7 de outubro. O pleito era sua bala de prata! Era a possibilidade de usar a minúscula fração de poder nas mãos de cada cidadão. Apenas nove horas, das 8 às 17. Mas durante esse curto espaço de tempo podia mandar quadrilheiros para casa e para a justiça, renovar o Congresso Nacional e evitar o retorno de criminosos aos locais dos crimes. 
        O jogo foi pesado. Havia na sociedade uma firme disposição de renovar o parlamento, suprimindo o foro privilegiado dos corruptos e despachando os coniventes e os omissos. Confrontados com essa notória intenção dos eleitores, os parlamentares avaliavam suas chances e muitos já buscavam alternativas pessoais longe do poder. Subitamente tudo mudou. Impulsionados pela oportunidade de ouro concedida pelo STF ao impedir o financiamento empresarial no modo como o fez, os parlamentares criaram o Fundão de Campanha com nosso dinheiro e o ratearam entre si. Em seguida, encurtaram todos os prazos, com o intuito de dificultar o trabalho dos novos postulantes. Para estes, apenas 45 dias de campanha, horário gratuito reduzido, publicidade dificultada e csteio por “vaquinha”. Enquanto os novatos corriam por uma pista cheia de obstáculos, os detentores de mandato colhiam os frutos da generosa distribuição de emendas parlamentares. A vida lhes voltou a sorrir e o céu de Brasília se fez novamente azul. O STF é bom e Deus existe, talvez dissessem blasfemando.
        Quem haveria de imaginar que o povo, contra tudo e contra todos, saísse de casa, mandasse às favas a desconfiança nas urnas e levasse a cabo sua tarefa promovendo a maior renovação do Congresso Nacional em vinte anos? O bom povo brasileiro fez o que lhe correspondia. De cada quatro senadores que tentaram reeleição, três não conseguiram; das 54 vagas em disputa, 46 serão ocupadas com novos nomes! Na Câmara dos Deputados, dos 382 parlamentares que tentaram a reeleição, 142 foram destituídos de seus mandatos. A renovação atingiu mais da metade da Casa. O número de conservadores e liberais eleitos marca o que a imprensa militante qualificou como um inusitado giro à direita. Infelizmente, alguns inocentes foram descartados com a água desse banho.
        É claro que esse giro se fez ao arrepio da grande imprensa. Nesta, viceja, cada vez mais forte, um rancor em relação às redes sociais. Acostumados a infundir suas convicções a um público dócil e cativo, muitos formadores de opinião viram o próprio poder se diluir, quase atomizar-se, na caótica democratização das redes sociais. Os grandes jornalões, as principais revistas semanais, a Vênus Platinada e os militantes globais do “progressismo” debochado e do esquerdismo anacrônico, em vão tentaram conter o sucesso eleitoral de Bolsonaro. Em vão queimaram o filme perante seu público. Em vão promoveram o presidiário. Em vão tentaram vender picolé de chuchu por chicabom. A nação, preferindo escolher o próprio caminho, recusou o buçal insistentemente apresentado.
        O povo brasileiro acordou em tempo de salvar o país e os próprios dedos, que os anéis já lhe levaram.




Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
        

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