Não encoste no poste.
Eles são frágeis, sem ideias, a não ser as que colam neles, servem só para
atravancar e segurar mal e porcamente os malditos fios que teimam em não ser
enterrados. Agora, metidos, querem de novo participar das eleições
Estaca, pau, toco, se já é difícil definir melhor os postes,
agora eles tentam nos atrapalhar novamente nas eleições. Se estamos nessa
penúria já é por causa de uma postapresidenta que caiu tarde, nos deixando a
sua sombra da meia-noite, o vampiro que se escondia por detrás da chapa quente.
Não é que agora estão tentando “emplacar” outros e outras?
Não sei se dar com a
cara no poste é pior do que os acintes que nos impõem dia após dia. Auto concessão
de aumentos de salários de e para quem já ganha o máximo e que, se aprovados,
farão uma perigosa transmissão de valores para todas as esferas, ressonantes.
Pior, quem poderia parar essa gracinha são justamente aqueles que – justamente
pelos agraciados - serão julgados logo mais à frente.
Bem, e as aterradoras
discussões do espetado país que solta para o Dia dos Pais quem matou o seu com
requintes de crueldade?
Justiça? Querem debater
para intervir sobre nossa cultura e religião, os nossos corpos, e aceitam,
plácidos como postes inertes, que um preso por eles julgado, julgado e julgado
se arrogue da porta para fora com megafone, receba mais visitas do que as casas
da mãe joana, e ainda queira ser candidato à presidência da República. O
espetáculo continua: agora, além do ap triplex, alguém já tinha ouvido falar da
chapa triplex? Preso, poste, vice. Três em um. E um monte de inteligentinhos
batendo palmas pros malucos dançarem. O que bebem para se encostar nos postes?
Acham mesmo que essa é uma atitude avançada, de esquerda, de compromisso
social, popular, correta?
Ou será apenas tanta
insegurança que acham que seguir um líder, um Messias, um Bessias, os salvará?
O mesmo com relação aos patriotinhas de araque, quem quer o poste Palmito,
apelido que ele próprio disse que tem mostrando seus pálidos cambitos, e que
pretende pendurar insígnias militares no nosso viver, contaminando tudo com
toda a sua atroz ignorância.
O momento é sério.
Estamos em grandes dificuldades. Não temos um candidato sequer que possa ser
defendido sem ruborizar. Para relaxar, até porque já não tem mais outro jeito a
não ser esperar o dia seguinte, estamos brincando, fazendo memes, até nos
esforçando para tentar ouvi-los em debates e entrevistas para ver se, quem
sabe, espremendo bem, sai algo que preste. E dia a dia só piora. Falam uma
língua desconhecida, desqualificam nosso idioma, usam termos pomposos, prometem
o que é impossível e fazer o que nunca fizeram quando puderam.
E os “novos” – que
surgem, batendo no peito que são novos e chegam com as mais milenares práticas
do dá aqui, que eu retribuo lá?
Não fizemos reforma
política. Agora será uma maçaroca e é no que eles mais uma vez se fiam com a
nossa distração. Talvez poucos entendam ainda que no dia da eleição vão
encontrar uma urna repleta de fotos, e que terão que apertar para presidente
(que vem com o vice dependurado), dois senadores, governador, deputado federal
e estadual. Seis vezes aquele irritante alarme triiimmmm vai tocar. Pela ordem:
deputado federal, deputado estadual ou distrital, senador primeira vaga,
senador segunda vaga, governador e presidente da República.
Um monte de postes. Um
do lado do outro. No meio da rua. Para tropeçarmos, darmos topadas neles. E
estarão interligados transmitindo essa energia ruim que já sentimos no ar.
Aterrados estamos nós.
Mariposas, quem nos dará
uma luz?
Marli
Gonçalves
- jornalista – Se tivesse um cachorro, o levaria para irrigar esses postes.
Brasil, 2018