1. Individualmente todos nos achamos os melhores
motoristas do mundo. Coletivamente somos uma carnificina no volante (mais de 40
mil mortes por ano, no trânsito). Individualmente não nos consideramos
racistas. Coletivamente sabe-se que o racismo está impregnado profundamente na
alma do brasileiro.
2. Individualmente estamos todos indignados com a
corrupção (com o clube dos ladrões e aproveitadores da Nação que sempre nos
governou). Coletivamente quase nunca protestamos contra os donos corruptos do
poder. Quando isso ocorre, são protestos seletivos.
3. Há um fosso, na verdade, um hiato imenso entre
nossos sentimentos e pensamentos individuais e aquilo que somos coletivamente. Cada
um de nós, como sublinha Eduardo Giannetti (O
paradoxo do brasileiro, em O elogia do vira-lata), crê sinceramente que
somos mais do que tudo isso que está aí. Coletivamente somos exatamente tudo
isso que está aí.
4. Até no futebol a distância entre o individual e
o coletivo é impressionante. Individualmente a seleção brasileira sempre é tida
como insuperável. Coletivamente, por falta de equilíbrio emocional ou outro
motivo, o resultado tem sido um desastre (pelo menos nas últimas duas copas do
mundo, com certeza).
5. A soma das partes fica sempre muito aquém do
todo que efetivamente somos. Onde está o problema? A autoimagem que fazemos de
nós mesmos nunca corresponde à realidade que vivenciamos. Isso se chama
autoengano (E. Giannetti).
6. Cada parlamentar se considera autossuficiente. A
soma deles é uma catástrofe para as contas públicas (vivem aprovando gastos
públicos, irresponsavelmente, sempre em benefício dos seus patrocinadores).
Pesquisa Datafolha revelou que 65% dos brasileiros se julgam felizes.
Paradoxalmente, apenas 23% acham que o povo brasileiro é feliz.
7. De tropeço em tropeço coletivo (estamos mal na
educação, na saúde, nos transportes, na inovação, na revolução tecnológica, nos
esportes, na competitividade etc.) vamos liquidando a autoestima do brasileiro,
que anda muito irado, revoltado. Esquecemos que a devastação da alma cria
monstros. “Quando a moral decai, surgem aqueles a quem denominamos tiranos”
(Nietzsche).
8. Perdemos a ideia do destino comum, do bem comum
(ou seja, da República, que significa cuidar da coisa pública, da coisa comum).
Nossas desavenças coletivas estão marcadas pelo ódio, que é fonte de
desagregação, degeneração. Nem a experiência trágica do caos e do colapso (o
caso do Rio de Janeiro é emblemático) está nos unindo. Os caminhoneiros, nesse
contexto, são rara exceção.
9. Os larápios corruptos e aproveitadores (umas 450
empresas nacionais e multinacionais, além de cerca de 30 famílias) creem que
seus atos isolados não chegam a destruir a Nação. Não computam o efeito
coletivo ou cumulativo dos seus desmandos. Não querem perceber que a soma de
muitos vícios privados gera inapelavelmente calamidades públicas colossais.
10. Os donos corruptos e aproveitadores do poder que,
com suas bandidagens, estão levando o Brasil para o abismo, não percebem que seus
péssimos exemplos se propagam na comunidade como erva daninha, criando a
convicção geral (desavergonhada) de que todos devemos nos locupletar (ou nos
moralizamos ou nos locupletamos todos!).
11. A 6ª República (1985 até o presente) vive sua
agonia final. O Brasil está grávido. Algo será parido. Que o rebento não seja
um novo monstrengo autoritário aliado ao clube dos ladrões e aproveitadores da
Nação brasileira.
LUIZ FLÁVIO GOMES - jurista. Criador do
movimento Quero Um Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial