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terça-feira, 17 de julho de 2018

Logística reversa: a importância da conscientização


  Desde 2010, está vigente no Brasil a Lei 12.305, de logística reversa, que faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Pela Lei, as empresas são responsáveis pelos produtos que inserem no mercado, devendo acompanhar todo o seu ciclo de vida. Trata-se de um conjunto de atribuições dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental.

Segundo a PNRS, a logística reversa é um dos instrumentos para aplicação da responsabilidade compartilhada, sendo uma ferramenta de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, seja para reaproveitamento em sua própria cadeia produtiva ou para outra destinação final ambientalmente adequada.

O grande problema é que falta visão por parte do empresariado brasileiro sobre a relevância dessa questão. Como não há fiscalização para o assunto, a grande maioria das indústrias prefere simplesmente descartar o refugo ou vendê-lo a sucateiros. Aparentemente, trata-se de uma solução mais simples, que demanda pouco esforço. No entanto, essa prática não é sustentável, visto que, ao concluir o ciclo de vida, muitos produtos são simplesmente lançados nos mares, rios ou matas, sem nenhum tipo de tratamento.

A logística reversa, embora exija investimentos financeiros e humanos para a criação e manutenção dos processos, apresenta muitos ganhos em diversas esferas, como econômica, social e ambiental. Do ponto de vista do meio ambiente, o benefício é muito claro ao reduzir o volume de resíduos e reaproveitar matérias primas, poupando recursos naturais. Na questão social, processos de logística reversa promovem empregos diretos e indiretos, uma vez que comunidades precisam ser engajadas a fim recolher os materiais que seriam descartados. Economicamente, o sistema permite um rápido payback, tornando-se bastante lucrativo no médio e longo prazo.

Contudo, criar um programa de logística reversa exige bastante foco e determinação. As pessoas envolvidas precisam conhecer muito bem a jornada de consumo e os hábitos de descarte para criar uma forma de captura e retorno à fábrica. É preciso também fazer adaptações, afinal, quando os produtos saem para consumo, atendem determinados padrões de qualidade, mas quando chegam, precisam ser separados e higienizados antes de iniciar os processos necessários para a reciclagem. Tudo isso requer adaptação e preparo.

Depois, o próximo desafio é promover a cultura dos produtos com compostos reciclados, que costumam enfrentar alguns tipos de preconceitos. A resistência ao novo é sempre comum entre os seres humanos, mas é preciso desenvolver uma consciência no sentido de comprovar que os produtos fabricados com material reciclado possuem tanta qualidade quanto os produzidos com matéria-prima totalmente virgem. Os problemas, quando surgem, costumam ser muito mais derivados das falhas nos processos de fabricação do que propriamente dos componentes.

Apesar de todo o trabalho demandado, um bom programa de logística reversa cabe em praticamente todos os tipos e portes de indústrias. Basta criar uma mentalidade que valorize o impacto social, econômico e ambiental, a partir de toda a cadeia do ciclo produtivo. Tirar do meio ambiente objetos que demorariam 400, 500 e até 800 anos para se decompor, por si só, já é uma grande vantagem. As empresas que desenvolverem esse tipo de consciência, certamente serão recompensadas.







Miriam Bastos - engenheira e plant manager na Mazzaferro, indústria com 65 anos de atuação no ramo de nylon.

Meio ambiente deve ser uma agenda central no debate eleitoral

O que os pré-candidatos pensam sobre meio ambiente? Quais são as propostas daqueles que este ano tentam uma vaga nas casas legislativas e concorrem aos cargos executivos? Conhecemos a trajetória de cada um deles nesta agenda e seus compromissos? Qual será o papel dessa pauta no debate eleitoral deste ano?


Essas são perguntas que deveriam ser centrais nesse momento de pré-campanha que vivemos no Brasil, nesta que será uma das corridas eleitorais mais disputadas e polarizadas desde a redemocratização. Nossa rica biodiversidade, a oferta de água limpa e de solos férteis, os atrativos naturais para lazer e turismo e o equilíbrio do clima fazem da floresta preservada e dos ambientes costeiros e marinhos aliados indispensáveis ao nosso desenvolvimento – sobretudo da indústria e da agropecuária, atividades base de inúmeras economias. Tudo isso ganha ainda maior relevância quando pensamos na Mata Atlântica, bioma que é lar de sete em cada dez brasileiros e está presente em 17 estados do país.

Atualmente, seguimos dilapidando as fontes desses benefícios, o que inevitavelmente ampliará os impactos negativos na vida das populações urbanas e rurais. E as principais ameaças não estão no campo, onde monoculturas continuam a exaurir nossos solos, poluir nossas águas, avançar sobre nossas florestas e ameaçar os territórios de comunidades tradicionais. Tampouco no ambiente urbano, cada vez mais populoso e adensado. Os riscos estão no Congresso. É de lá que parte a maior ofensiva contra o meio ambiente, com inúmeros projetos de lei que desmontam a legislação ambiental e criam regras permissivas à destruição e ao uso insustentável dos nossos patrimônios naturais.

O exemplo mais claro é a recente aprovação na Câmara dos Deputados do projeto de lei 6299/02, que flexibiliza as regras para liberação de agrotóxicos. Conhecido como “PL do Veneno”, o projeto esvazia a atuação dos órgãos de saúde e do meio ambiente no controle e na regulação do uso de substâncias nocivas, delegando ao Ministério da Agricultura uma série de ações que são, hoje, exercidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ibama. Na prática, o projeto elimina a avaliação prévia de impactos negativos que esses produtos podem provocar à saúde e ao meio ambiente.

Mesmo com uma grande mobilização popular contra o projeto, e pareceres contrários de diversos órgãos, como Fiocruz, Anvisa, ONU e Ministério Público Federal, o PL foi aprovado no dia 26 de junho por uma comissão especial formada majoritariamente por deputados da bancada ruralista, o que evidencia o abismo entre o que a sociedade quer e o que se faz em política.

E as ameaças não param por aí. Há ainda a tentativa de flexibilização da Lei do licenciamento ambiental e outras dezenas de projetos que diminuem a proteção daquilo que – por lei – deveria ser preservado ou recuperado.

Se o problema é político, também é com política que precisamos buscar as soluções – mobilizando a sociedade, articulando com diferentes atores e ocupando os espaços institucionais. E, sobretudo, inovando num novo fazer político, no qual a sustentabilidade seja princípio central e o desenvolvimento seja para sempre.

Onde estão os candidatos com pauta ambiental? Meio ambiente deveria ser uma agenda central no debate eleitoral, já que é direito humano e essencial para a qualidade de vida de todos.

Por isso, precisamos eleger uma bancada ambientalista forte para o Congresso, o que passa, inevitavelmente, pelos movimentos de renovação política que têm surgido na sociedade brasileira. E renovação aqui não é de nomes ou caras, mas de conteúdo e propostas. Uma renovação que tem como premissa o aumento da representatividade socioambiental no legislativo e no executivo. Políticos eleitos com o compromisso de enfrentar a exploração ambiental e tantos problemas diretamente relacionados a ela, como a disputa por terras e a violência no campo. E com a missão de liderar agendas positivas, o que inclui a implantação de mecanismos financeiros e tributários de apoio à a quem preserva áreas nativas e para restauração florestal, o aperfeiçoamento e a aplicação irrestrita da legislação socioambiental, o fortalecimento da gestão e das instituições públicas ambientais, o reforço do sistema de Unidades de Conservação e, especialmente, a eliminação do desmatamento ilegal.

Há mais de uma década, a Lei da Mata Atlântica trouxe segurança jurídica para a manutenção e recuperação deste bioma, especialmente com o protagonismo dos estados e da sociedade em sua implantação. Não seria diferente para uma legislação construída de forma equilibrada, participativa e com respeito à ciência. São iniciativas como essa que precisamos ver replicadas e aperfeiçoadas nos espaços de debate e construção política.

Estamos seguros de que um desenvolvimento permanente e duradouro precisa ser sustentável e, para tanto, devemos seguir construindo e fortalecendo políticas públicas alinhadas com as necessidades presentes e futuras, contribuindo para a saúde e bem-estar da população. Por isso, apresentamos como contribuição às candidatas e aos candidatos aos executivo e legislativo nas eleições de 2018 uma série de propostas com foco no desmatamento ilegal zero, restauração florestal, valorização dos parques e reservas, água limpa e proteção do mar.

Tais compromissos podem ser plenamente atendidos até 2022, ainda mais se forem executados com transparência, participação e por meio de parcerias qualificadas com governos, sociedade civil, academia e setor privado. As propostas estão colocadas. Agora é hora de debatê-las.






Marcia Hirota e Mario Mantovani - são, respectivamente, diretora executiva e diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica. Saiba como apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.

Cidades Interativas, o que vai mudar na sua vida e na economia de sua região?


Como a interatividade vai alterar o eixo da relação de valor entre cidades, moradores e turistas e ainda dinamiza a economia  

 
Pensar que um dia você poderia dialogar com sua cidade é algo que só poderia ser imaginado por leitores e fãs das mais loucas histórias de ficção de H.G. Wells ou Arthur Clarke. Algo muito duvidoso até mesmo para as não tão distantes gerações analógicas dos 80 e 90, que veem a relação de tempo e espaço serem alteradas de forma tão brutal, que fazem seus walkmans e videocassetes parecerem coisa do século passado. E são, afinal estamos no século 21, presenciando uma revolução silenciosa que está alterando o sentido de valor de tudo o que nos cerca.

Na era da Internet das Coisas, tempo é um bem precioso. Um minuto pode ser uma eternidade, tempo suficiente para fazer vídeos no Stories, twittar e acessar um amigo em outro continente. Em sua inexorabilidade, o dia tem e sempre terá 24 horas, mas o que podemos fazer com elas é que não para de se multiplicar. Da incapacidade de se envolver com tantas novidades, a sociedade digital torna-se altamente reativa a tudo que não traduza sentido e valor. As responsabilidades do dia a dia se acumulam e a sensação de sufocamento aumenta. Mais do que perguntas, busca-se respostas. Uma dica precisa, vale muito mais do que uma crítica fundamentada. Conveniência é a palavra de ordem e é ai que a coisa toda ganha uma outra dimensão.

Com a virtuosa disseminação dos devices móveis – celulares, tablets, etc a da banda larga, a sociedade moderna está permanentemente conectada. Onde quer que estejam pode-se acessar, ser acessado e até mesmo ser precisamente localizado. Se em meio a falta de tempo, vivemos em um diálogo permanente com pessoas que conhecemos ou nunca vimos, a extensão desta prática na relação com as cidades pode traduzir ganhos e benefícios nunca antes imaginados.
As Cidades Interativas abrem espaço para o diálogo, elas se comunicam com aqueles que nela vivem ou estão apenas de passagem. Em muitos Estados americanos governos e municípios estão investindo em soluções que transformam suas cidades históricas em verdadeiros museus ao céu aberto. A integração de sistemas de localização e navegação online, permitem o acesso a rotas e experiências de todos os tipos. Em Atlanta, na Geórgia, por exemplo, o simples caminhar pelas ruas da cidade abre espaço para a interação com passagens e personagens marcantes da Guerra Civil Americana. O locais que foram pauta de batalhas, e momentos históricos estão lá, prontos para serem desvendados. Cada esquina pode revelar uma surpresa. Pessoas de todas as idades, munidas de um celular, podem fazer de uma despretensiosa caminhada, uma verdadeira viagem no tempo. Recursos de vídeo, fotos e textos, auxiliam a compreensão dos momentos que cercaram o conflito naquela região. No Estado do Mississippi, o governo investiu no desenvolvimento de rotas digitais, também acessíveis por celular, que oferecem experiências enriquecedoras.

Para os amantes da boa música as Rotas do Blues e Country levam moradores e visitantes a conhecer locais onde nasceram, fizeram carreira e morreram grandes ídolos da música americana. Informações detalhadas de suas vidas estão por toda a parte. A dinâmica é tão bem organizada e acessível, que até mesmo o lendário “Crossroads”, encruzilhada das rodovias 49 e 61, onde reza a lenda, Robert Jackson vendeu a alma ao diabo está lá, fácil de ser localizada numa singela rua da cidade de Clarcksdale. Através deste sistema interativo, legiões de pessoas passaram a visitar a região.

Nas Cidades Interativas a informação é organizada em forma de estímulos, como se convidando que moradores saiam de casa e se envolvam com tudo o que a cidade pode oferecer.

Os encantos, a história, a diversão está pode estar em cada esquina, pronta para dar início a uma boa conversa. Ter a cidade na palma da mão, altera a referência de valor. Lugares por onde passamos e muitas vezes desconhecemos ou damos pouca atenção, podem traduzir grandes experiências. Desta forma, tendo mais motivos para sair de casa, as pessoas interagem mais, se divertem mais e consomem mais. Por conta disto, movimentam mais a economia. Estima-se que as Cidades Interativas tenham o poder de triplicar o valor econômico gerado por cidadãos e turistas.

A simples reorganização da equação da valor e da acessibilidade às atrações que uma cidade já oferece, dinamiza o comércio e toda a cadeia produtiva. A tecnologia abre espaço para uma infinidade de experiências que passam a traduzir benefícios imediatos. Não há espaço para a rotina. Toda hora, cada minuto pode ser um bom motivo para ligar para um amigo, reunir a família, ou até mesmo sair pela cidade sozinho e desvendar tesouros que muitas vezes estão ali bem perto, mas que na correria do dia a dia os olhos não veem.

Neste momento exemplos como estes multiplicam-se por todo o mundo. Muito em breve cidades analógicas serão conhecidas apenas pelos livros de história. 



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