“Uma emoção muito forte, igual a primeira vez em que vi meu filho biológico, Heitor, recém-nascido na maternidade.Nem mais , nem menos". É dessa forma que o jornalista Lúcio Pereira Mello descreve o primeiro encontro com sua filha Jéssica, adotada aos sete anos. Lúcio e sua mulher Bianca Tinoco, moradores do Distrito Federal, optaram pela adoção para ampliar a família.
Jéssica morava em uma instituição de acolhimento
em Minas Gerais com outros quatro irmãos, que também foram adotados por outras
famílias no mesmo momento. A adoção aconteceu há dois anos – antes disso,
Lúcio, sua mulher, Bianca Tinoco, estavam entre os milhares de nomes do
Cadastro Nacional de Adoção (CNA), na expectativa desse encontro emocionante.
Nesta sexta-feira (25/05), dia nacional da
adoção, há 8,7 mil crianças e adolescentes e 43,6 mil pretendentes estão
cadastrados no CNA, coordenado pela Corregedoria do Conselho Nacional de
Justiça desde 2008. Na última década, mais de 9 mil adoções foram realizadas.
Só no período de janeiro a maio deste ano, 420 famílias foram formadas com o
auxílio do CNA.
Com o cadastro, as varas de infância de
todo o País passaram a se comunicar com facilidade, agilizando as adoções
interestaduais. Até então, as adoções das crianças dependiam da busca manual
realizada pelas varas de infância para conseguir uma família.
Adoções feitas pelo CNA de Jéssica foi interestadual e, antes de obterem a guarda provisória, o casal viajou algumas vezes a Minas Gerais para conhecê-la. A aproximação foi gradativa e, antes da viagem, trocaram mensagens, cartas, desenhos e vídeos em que a família se apresentava, de maneira descontraída, para Jéssica.
De acordo com Lúcio, o casal frequentou por um
ano grupos de apoio e preparo à adoção, coordenados pela ONG Aconchego, em
Brasília, o que foi fundamental na aproximação cuidadosa que tiveram com a
filha. “O preparo fez com que tivéssemos consciência da necessidade de
preservação da criança, aguardamos a autorização da vara de infância e fizemos
os encontros com a supervisão dos profissionais do abrigo”, disse.
O casal já estava habilitado desde 2014, para
adotar uma criança com perfil até cinco anos. No entanto, dois anos depois,
decidiram ampliar o perfil para uma criança mais velha. “Fomos trabalhando essa
ideia do perfil idealizado, que na sociedade é quase sempre o de uma menina de
pele clara, menor de cinco anos e saúde perfeita”, disse.
Para Lúcio, o fato de os irmãos também terem sido
adotados na mesma época por outras famílias de Brasília facilitou a relação com
a filha. “Hoje ela convive com os irmãos, marcamos encontros. Temos um grupo no
WhatsApp chamado ‘Nossos filhos’, e todos continuam sendo irmãos”, conta. O pai
costuma apresenta-la como “a mais nova filha mais velha”, pelo fato de Jéssica
ser dois anos mais velha do que o seu primeiro filho. Foto do personagem
Lúcio
Lúcio Pereira Mello com sua mulher Bianca Tinoco e os filhos Heitor e Jéssica. FOTO: Luiz Silveira/Agência
Cadastro mais ágil e transparente
Este ano, uma nova versão entrará em
funcionamento para as varas de Infância e Juventude de todo o Brasil. O novo
cadastro, que permitirá a pretendentes à adoção uma busca mais rápida e ampla
de crianças, é resultado de propostas aprovadas pela maioria dos servidores e
magistrados que participaram de debates nas cinco regiões do País este ano,
organizadas pela Corregedoria.
Outra novidade é a junção dos cadastros de adoção
e o de crianças acolhidas, de forma a possibilitar a pesquisa sobre o histórico
de acolhimento da criança, anexando informações como relatório psicológico e
social, além de fotos, vídeos e cartas.
CNJ apoia livro para pretendentes à adoção
“Não, não foi amor à primeira vista. Não olhamos para
ele e dissemos ‘é o nosso filho’ e nem ele olhou para nós e disse ‘são os meus
pais’. Mas construímos, ao longo destes dois anos, nossa relação como pais e
filho.”, disse Rafael, pai do Alberto, adotado aos onze anos. O depoimento de
pai, faz parte de uma das dezesseis histórias que são contadas no guia “Três vivas para a adoção", que estará a partir
de hoje à disposição de todos os cidadãos no portal do CNJ.
Para a ativista , Fabiana Gadelha, o guia é
um convite à reflexão sobre realidade do procedimento, as angústias, alegrias e
descobertas de ser mãe e pai. “O livro foi feito especialmente para aconchegar
e conversar com quem tem interesse ou curiosidade sobre adotar um filho ou
filha”, disse Fabiana, mãe por adoção e coautora da obra junto à Patricia
Almeida, ativista internacional do direito das pessoas com deficiência.
Além de um "passo a passo" explicativo
, informações sobre a Busca Ativa e informações sobre os diversos tipos
de adoção, também há no guia depoimentos de famílias que se formaram por meio
da adoção, com histórias envolvendo a adoção tardia, adoção de crianças com
deficiência, entre outras.
A obra é uma realização do MAIS - Movimento de
Ação e Inovação Social (Movimento Down e Movimento Zika), com apoio da
Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), da ONG Aconchego e da
Fundação Ford. O guia conta com o apoio do CNJ e da Associação Brasileira
dos Magistrados da Infância e Juventude (Abraminj) e Forum Nacional de Justiça
Protetiva (Fonajup).
Luiza Fariello
Agência CNJ de Notícias