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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

14 assuntos que podem ser tema de redação nos vestibulares 2017



Pós-verdade é a principal aposta, seguida de debate político e discursos intolerantes


O último trimestre do ano é marcado por vestibulares em todo o País e, entre os principais fatores de classificação dos vestibulandos, está a redação. Dependendo da universidade e do curso escolhido, a nota alcançada no texto garante - ou não - a vaga. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece nos dias 5 e 12 de novembro, o aluno precisa ter uma média ainda maior na redação, comparada às outras disciplinas da prova.

Uma das principais dicas do professor de Redação do Curso Positivo, Wellington Borges Costa, conhecido como Wella, é a divisão do tempo para a escrita. Segundo ele, quando a prova de redação ocorre junto com outras provas, como é no caso do Enem, é aconselhável começar e terminar pela redação. “O ideal é começar a prova escrevendo o rascunho e só voltar a mexer no texto depois de feitas todas as questões e ter passado tudo para o gabarito”, explica. Ele ainda alerta que a transcrição não deve ser simplesmente copiar. “O passar a limpo deve implicar intervenções no rascunho, tornando o texto sempre melhor”, diz.

Para um texto de destaque, que conquiste a banca, Wella indica o uso do argumento de prova concreta, em que o vestibulando cita fatos históricos ou jornalísticos como argumentação. E, para um bom conteúdo e proximidade com o tema, a indicação de leitura é a imprensa. “Deve-se ler e ter o hábito de acompanhar jornais, ainda que pela internet, para estar atento ao debate público”, orienta, lembrando também da importância de priorizar os veículos com credibilidade. “A leitura de imprensa deve ser minimamente respaldada por alguma responsabilidade ética jornalística”, ressalta.

E a credibilidade da imprensa não fica apenas nas indicações de leitura. Para o professor, entre as apostas de temas solicitados pelos vestibulares, está a pós-verdade. “A aquisição da informação tem a ver justamente com o uso das redes sociais, com o consumo de conteúdo noticioso sem crédito que tem se difundido na rede”, justifica. Outros assuntos que também devem ficar no radar dos vestibulandos, segundo o professor, são:

·         Reforma trabalhista.
·         Reforma da previdência.
·         Terceirização da mão de obra.
·         Corrupção.
·         Reforma política.
·         Voto distrital.
·         Reformas do processo eleitoral (voto facultativo, voto obrigatório, questionamento da democracia representativa)
·         Ideologia de gênero.
·         Homofobia ou transfobia.
·         Discursos intolerantes (religiosos, políticos, ideológicos, etc.).
·         Substituição da palavra escrita pela imagem e fotografias nas redes sociais.
·         Mobilidade urbana.




O direito a desconexão do trabalho



Trabalho é meio de vida e não meio de morte. Essa afirmação confronta a realidade de milhões de profissionais brasileiros que são obrigados a enfrentar jornadas extenuantes de trabalho. E uma das características mais marcantes os últimos tempos é a conexão 24 horas com o trabalho. Celulares, tablets, aplicativos, e-mails, entre outras ferramentas e recursos provenientes das novas tecnologias transformou os trabalhadores em verdadeiros reféns.

A cultura profissional brasileira está prejudicando a saúde do trabalhador em todos os aspectos: físico, emocional e psíquico. As empresas criaram uma rotina da qual partem d a premissa que “trabalhador bom é aquele que fica online”. Será?
Lógico, que emergências, plantões e o gerenciamento de uma crise podem fazer que o empregado está à disposição da empresa por algumas horas a mais do que a da sua jornada habitual. Entretanto, isso deve ser uma exceção e não a regra.

Atualmente, o trabalhador que não fica na empresa ou a disposição dela por 10, 12, 14 horas passa a ser discriminado. Os seus chefes e mesmo colegas de profissão o fazem parecer um “peixe fora d’água” por trabalhar as horas estabelecidas em contrato.

É necessário desconectar do trabalho, ter uma vida social, cuidar da família, brincar com seus filhos, ter momentos de lazer, tomar um chopp com os amigos, sair para jantar com a esposa ou frequentar uma academia. É essencial para conseguir descarregar os problemas, renovar as ideias e “as baterias” para outro dia de trabalho. A conexão 24 horas cria e agrava problemas de saúde, sejam eles físicos ou psicológicos.

Vale citar um exemplo de um caso de um CFO de uma grande empresa que só pode tirar e gozar suas férias fora do país, após contratar um pacote de dados que possibilitasse que ele respondesse e-mails e mensagens pelo celular. Em um dos dias de seu descanso, o executivo respondeu mais de 60 e-mails, ou seja, trabalhou como se estivesse em seu escritório e não pode desfrutar da companhia da esposa e dos filhos. Isso é saudável? É realmente necessário a empresa privar seus funcionários das férias? Criar uma pressão psicológica que não o deixa relaxado para curtir momentos preciosos com sua família?

Esse CFO, por exemplo, toma remédio para conseguir sobreviver a rotina desgastante do trabalho. Alguns números recentes são reflexo desse atentado contra a saúde do trabalhador. Os casos de transtornos psiquiátricos e doenças mentais no ambiente de trabalho estão crescendo no Brasil.

As dificuldades geradas no meio ambiente do trabalho provocam uma série de problemas como estresse, ansiedade, transtornos bipolares, síndrome de Burnout – caracterizada por estresse profissional, exaustão emocional e tensão exorbitante gerada pelo excesso de trabalho – esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína, entre outros males. Em 2016, foram registrados pela Previdência Social mais de 199 mil casos de pessoas que se ausentaram das empresas públicas e privadas por sofrerem dessas enfermidades. Esse número supera o total registrado em 2015, que foi de 170,8 mil casos de afastamentos.

Segundo a Previdência Social, forma registradas em 2016 o afastamento de 75,3 mil trabalhadores em razão de quadros depressivos, com direito a recebimento de auxílio-doença, o que representa 37,8% de todas as licenças médicas motivadas por transtornos mentais e comportamentais no mesmo ano. A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que entre 20% e 25% da população tiveram, têm ou terão um quadro de depressão em algum momento da vida. E, sem dúvida, essa conexão de 24 horas com o trabalho levará ao crescimento desses índices e estimativas.

Recentemente, foi aprovada na França uma lei para desconexão do trabalho. O governo francês resolveu estabelecer uma fronteira entre a vida pessoal e profissional para evitar, assim, novos casos de doenças relacionadas ao trabalho e vinculadas pelas novas tecnologias. E para enfrentar o fenômeno, o direito à desconexão foi publicado no código do trabalho francês. A nova medida prevê que toda empresa com mais de 50 funcionários tenha de abrir negociações entre as partes para chegar a um acordo conforme às necessidades de ambas as partes. Caso não se consiga chegar conjuntamente a regras que garantam o direito de se desconectar, o empregador terá de redigir, ele mesmo, uma regulamentação sobre a questão.

A lei francesa é importante para refletirmos sobre o uso das novas tecnologias nas relações trabalhista e sobre a saúde do trabalhador. A relação deve ser saudável para as duas partes. Isso não exclui a possibilidade do chefe enviar um e-mail ou uma mensagem fora do horário habitual de trabalho, mas possibilita que o funcionário não se sinta culpado por não responder de imediatos essas demandas.

Aqui no Brasil, a Justiça do Trabalho enfrenta esses casos de extensas jornadas e da conexão abusiva dos funcionários aplicando em suas decisões o dano existencial. Criado pela jurisprudência, ou seja, pelo grande número de casos decididos por uma mesma corrente no Judiciário trabalhista, o dano existencial combate as jornadas extenuantes e a necessidade da conexão e disponibilidade constante com a empresa e com o patrão.

O dano existencial é uma espécie de indenização decorrente do impedimento que o trabalhador sofre em desfrutar sua vida pessoal. O que afeta de forma negativa e perigosa em sua qualidade de vida. É uma ferramenta jurídica para impedir a frustação dos projetos pessoais e as relações sociais dos trabalhadores provocada por condutas ilícitas das empresas.

E as condutas são ilícitas porque, devido a uma série de flexibilizações, inclusiva as aprovadas na reforma trabalhista brasileira, atentam contra princípios constitucionais. O trabalho tem como um dos seus direitos fundamentais a saúde, que está diretamente ligada ao respeito à limitação da jornada, a dignidade humana, ao valor social do trabalho e a função social da empresa. São direitos constitucionais, cada vez mais desrespeitados.

O trabalhado tem direito à desconexão. E a essa recente reforma sequer tocou no tema. Pelo contrário, flexibilizou direitos de forma inconstitucional e certamente criará uma nova geração de trabalhadores doentes.







Ricardo Pereira de Freitas Guimarães - Doutor e Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professor de Direito e Processo do Trabalho da pós-graduação da PUC-SP e sócio fundador do escritório Freitas Guimarães Advogados Associados.




UM JORNALISMO QUE ACABOU



       Há um jornalismo que acabou. Fala com as paredes. Irresignado ante a falta de eco, cospe no vento. Cisca no dicionário adjetivos que, de tão mascados, se tornaram rejeitos de lixo orgânico, direto ao saco preto. O vocabulário com que o "politicamente correto" se protegia entra num debate, hoje, murcho como maracujá. Quem leva a sério o adjetivo "reacionário!", ou "conservador!", ou "neoliberal!" (lembram dele?), ou ainda o "fascista!", que os próprios comunistas gastaram mundo afora contra seus adversários antes do tiro na nuca?
       Durante décadas, esses senhores foram os regentes das redações, onde desfilavam proféticos, iluminando o mundo com olhares que se derramavam sobre uma nova humanidade e um novo tempo. Eram os kaisers do quarto poder, ditando as normas técnicas para a engenharia do brilhante futuro. Perder tempo com eles, agora, é como contemplar a alvorada de um passado que se refuga. Xô! Quebraram o Brasil, acabaram com a Educação e atacaram, um a um, os valores que sustentariam moralmente a nação.
       A sociedade compreendeu, por fim, que, tanto quanto ela precisa conservar valores que orientem as ações humanas para o bem (conservadorismo), a economia precisa de liberdade (liberalismo) para evoluir. Se observarmos atentamente, veremos que isso é tudo que o velho jornalismo militante, mãos dadas com os camaradas do mundo acadêmico, se dedicou a destruir; e que parcela importante do clero católico se descuidou de preservar.
       Tem duas razões fundamentais para viver, esse jornalismo. A primeira é servir de memorial adulterado dos "anos de chumbo". Vivem na nostalgia daquele período, misturando a saudade da própria juventude com o tempo em que conseguiram articular um discurso cuja consequência, em tese, rimava com a causa. A segunda é combater liberais e conservadores, qualificando-os como fascistas. Mas, sem direito a tiro na nuca, tudo fica menos produtivo. Fazer o quê? Mudar-se para Cuba ou para a Coreia do Norte?
       Não recordo, ao menos em passado recente, de esforços retóricos tão velhacos, tão fraudulentos, quanto os empregados nas últimas semanas por esse jornalismo para tentar convencer a sociedade de que:
·       os conservadores seriam hipócritas bradando contra nudez e erotismo na arte;

·       gravuras grotescas dedicadas a sujos entreveros sexuais, se expostas em ambiente cultural, deveriam merecer a mesma reverência de conhecidas obras-primas da arte universal;

·       sentimentos e atitudes tão diferentes entre si como repulsa, indignação e boicote seriam "sinônimos" de censura;

·       sexo não existiria, o que existe é gênero e toda criança deveria começar a aprender isso no bercinho da maternidade;

·       as redes sociais seriam uma terra de ninguém tomada pela direita raivosa.
       Quem faz afirmações assim não está a mudar de assunto. Está a corromper a razão, conforme mencionei em recente vídeo.  Há semanas repetem isso ao país e querem credibilidade? Pretendem seguir influenciando a opinião pública? Subestimam a inteligência daqueles com quem se comunicam! Foi ao servir nacionalmente esse cardápio de falsidades que o velho jornalismo militante deu extraordinário alento aos bons conservadores e aos bons liberais. Refiro-me aos conservadores que estimam a liberdade e aos liberais que reconhecem a necessidade de preservar valores morais.
       A sociedade não se escandaliza com nudez desde 22 de abril de 1500 e pouco se interessa pelo que acontece atrás das portas, desde que seja vedado o acesso a crianças. Mas entendeu, perfeitamente bem, ser isso que jogou o velho jornalismo militante na pornomilitância.
       O silêncio que cai sobre ele vem por overdose de si mesmo.





Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.



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