Professora Cristiane Furini,
pesquisadora do Centro de Memória do Inscer, sugere práticas que favorecerem a
retenção do aprendizado
Estudar costuma a exigir uma dedicação especial, além de
concentração e disposição. Porém, o que fazer quando mesmo após horas de
estudos a sensação é de que o aprendizado não foi absorvido; ou então, quando
pouco tempo depois já se esqueceu o conteúdo? A professora Cristiane Furini,
pesquisadora do Centro de Memória do Instituto do Cérebro (InsCer), preparou
algumas dicas para auxiliar na memorização durante o estudo. Mas atenção, não
existe uma única maneira de aprender. Assim, é essencial experimentar
diferentes técnicas e escolher a que funcione melhor para você. Confira as
dicas:
1. Evite distrações e tenha pausas:
a atenção voltada para o que você está estudando é muito importante e a melhor
maneira de mantê-la é minimizar as distrações no ambiente de estudo. Ou seja,
televisão e smartphones só devem estar presentes se usados como ferramenta de
aprendizado. Pesquisas têm demonstrado que o celular pode atrapalhar a
capacidade de atenção em uma tarefa específica e que o simples fato de saber
que há uma notificação em seu telefone, causa a mesma distração ocorrida com o
uso efetivo do aparelho.
A fadiga mental também pode dificultar a manutenção da atenção por
um tempo muito longo, assim, é necessário fazer pequenas pausas para descanso.
Por isso, dividir a jornada de estudo pode auxiliar a manter o foco. Uma
alternativa é realizar um intervalo de 5 a 10 minutos a cada 45 ou 50 minutos
de estudo.
2. Faça testes e repetições:
realizar testes, quizzes e se “forçar” a recordar informações auxilia mais na
formação e retenção de memórias do que simplesmente rever anotações. Uma
pesquisa mostrou que estudantes universitários apresentaram melhor desempenho
no aprendizado de uma língua estrangeira quando eram testados, sugerindo que a
formação da memória ocorre em situações em que se tem repetição das
informações. Ou seja, a prática de recuperar essas referências favorece a
consolidação do conteúdo que se quer memorizar.
3. Realize a prática espaçada:
pesquisas têm demonstrado que espaçar as sessões de estudo é mais eficaz e
benéfico para o aprendizado do que uma única e longa sessão de estudos. Ou seja,
dividir o conteúdo em pequenas partes e estudá-las durante vários dias é mais
produtivo do que tentar absorver todas as informações de uma só vez. Para isso,
é importante criar um cronograma e distribuir as atividades, lembrando de criar
espaços para rever informações.
4. Intercale os conteúdos de
estudo: em uma abordagem tradicional e amplamente aplicada ao aprendizado,
conhecido como “estudo em bloco”, as habilidades são aprendidas sequencialmente
e você não passa para um novo assunto até dominar o anterior. Mas estudar o dia
inteiro a mesma matéria pode não ser a estratégia mais eficiente para manter o
foco. Assim, a ciência tem mostrado que misturar a prática de várias
habilidades inter-relacionadas pode melhorar a performance a longo prazo. Esta
abordagem é conhecida como estudo intercalado e pode ajudar no aprendizado.
Consiste em alternar entre tópicos enquanto se estuda, ou seja, após o estudar
o tema X por um tempo, se passa para o estudo do tema Y e Z. Em uma próxima
vez, altera-se a ordem de estudo dos conteúdos, sempre observando que tipo de
novas conexões eles podem fazer entre si.
5. Cuide bem do seu sono: dormir é
extremamente importante para consolidar/armazenar memórias. A etapa ocorrida
durante o sono não apenas fortalece os traços de memória, mas também pode
produzir mudanças nas representações das recordações. Através de um processo
ativo de reorganização, o cérebro realiza a formação de novas associações e a
extração de recursos generalizados, facilitando, inclusive, a produção de novas
soluções e ideias. Benefícios significativos para a memória são observados após
uma noite de sono de 6 a 8 horas, mas também depois de cochilos mais curtos de
30 minutos a uma hora. Assim, garantir boas noites de sono ajuda a fixar o
conteúdo visto anteriormente e a nos preparar para aprendizados novos no dia
seguinte.
Cristiane Regina Guerino Furini - atualmente é professora da Escola de
Medicina da PUCRS e pesquisadora do Instituto do Cérebro. Possui como tema
principal de trabalho o estudo dos mecanismos farmacológicos e bioquímicos
envolvidos na consolidação, persistência, extinção e reconsolidação de
memórias.