A indústria atua como
locomotiva do crescimento de um país. Seu papel é central quando falamos de
desenvolvimento econômico e empregatício, além de ter importante função nas
relações internacionais, graças às exportações. Como um todo, ela representa
para o Brasil de hoje 22% de seu PIB (Produto Interno Bruto). São 49% das
exportações realizadas e 32% dos tributos federais arrecadados.
Para cada R$ 1,00 produzido na
indústria, são gerados R$ 2,40 na economia como um todo. Nos demais setores, o
valor gerado é menor: R$ 1,66 na agricultura e R$ 1,49 no comércio e serviços.
Como afirma a CNI (Confederação Nacional da Indústria), 67% da pesquisa e
desenvolvimento do setor privado vem da indústria e, por isso, ela pode ser
considerada um dos berços de crescimento do país.
É na indústria que, muitas
vezes, novas ideias e tecnologias atuarão primeiro, e é por isso que é preciso
que esse seja um ambiente que estimule o desenvolvimento e crescimento de novas
posturas. É preciso haver colaboração entre formação de profissionais para
cargos ainda desconhecidos, e é necessário que haja maior parceria com o setor
público.
Porém, é imprescindível que os
processos estejam extremamente afiados dentro da indústria. É preciso
aproveitar ao máximo cada proposta de inovação. Maximizar produções, além de
abrir espaço para a entrada de novas tecnologias que geram progresso. Tudo
começa na melhoria do que já existe, nos processos e gestão que ganharão
possibilidades infinitas quando alinhados com posturas que buscam inovar.
Abaixo, algumas dicas de como proporcionar essas melhorias.
#1 Preste atenção nas pessoas: As
pessoas, sejam clientes, colaboradores ou fornecedores, estão no centro das
transformações. Mesmo que na indústria não se lide diretamente com clientes
finais, são eles que estão mudando comportamentos e fazendo novas exigências,
que posteriormente são repassadas à indústria. Portanto, é para elas que as
empresas precisam olhar. É preciso ter canais para ouvir de forma profunda e
empática, buscando antever as necessidades e desejos de quem está na outra
ponta do processo. É preciso convidar o cliente, o fornecedor, o parceiro, para
o processo de pesquisa e desenvolvimento. Grandes insights surgem a
partir do momento que damos voz e vez a quem é a grande razão de existir da
indústria.
#2 Vá além da qualidade: Qualidade
não é mais um diferencial e sim uma obrigação. Num mundo de poucas barreiras, o
concorrente mais novo e simples pode quebrar sua “fórmula secreta” e, do dia
para a noite, ser igual, ou até melhor que você. É preciso se utilizar de uma
melhoria constante, e essa só é possível quando se tem ferramentas de gestão
que incentivam a inovação através de cada processo e colaborador. Os produtos e
processos são frutos das mentes que os pensam, e quanto mais livres e
direcionadas à inovação elas forem, melhores serão os produtos. A ideia é estar
à frente no patamar industrial, não por ter a melhor tecnologia, mas as
melhores cabeças pensantes.
#3 Invista na gestão da inovação: A maioria
das indústrias acredita que inovar é adotar novas tecnologias. Novo maquinário,
equipamentos mais avançados, softwares inteligentes. A famosa “indústria 4.0”.
Porém, antes de sair comprando um monte de equipamentos novos, é necessário uma
gestão focada em dar o “norte” para a empresa, uma verdadeira gestão da
inovação. Muitas vezes, todos esses aparatos acabam sendo inutilizados ou
subaproveitados por falta de capacitação humana para operá-los ou de
direcionamento adequado. Não adianta ter várias tecnologias, mas não ter uma
gestão que diga o que fazer com elas, onde elas são mais necessárias, e se são
mesmo a melhor alternativa. A aplicação de uma gestão de inovação é
indispensável. Assim, a empresa sabe onde investir seus recursos. Se isso for feito
de qualquer jeito, só se angaria dívidas. É preciso se perguntar “o que eu
ganho com a mudança de equipamentos?”. Não adianta trocar por trocar, para
dizer que tem maquinário de ponta, ou que está na indústria 4.0. Toda gestão
tem que ser pensada na saúde financeira da empresa. Às vezes, a troca nem é
necessária ou há opções mais baratas. Esse investimento só vale se for
realmente trazer mais dinheiro e melhorar a empresa. Se não, é custo e não
investimento.
#4 É preciso errar: Fomos
ensinados que o erro é ruim e deve ser punido. No entanto, grandes inovações
surgem a partir de erros. O erro faz parte do processo de maturação de um
produto. Precisamos aprender com eles em vez de jogá-los embaixo do tapete e/ou
castigar o “culpado”. Quem é mais inovador fala em errar rápido para aprender e
acertar mais rápido. Prega-se o erro de baixo risco, que estimula a
experimentação, o teste e a aprendizagem. O mindset dos gestores antigos
é o da perfeição na primeira tentativa. Isso dava pouco espaço para inovação. Hoje,
entendemos que para inovar é preciso ser tolerante à experimentação e até ao
erro. Dizemos que estamos em constante estado de beta, onde tudo pode
ser alterado de forma ágil. Algumas alterações serão boas, outras nem tanto.
Mas, está tudo bem. As ruins sempre deixarão lições importantes, desde que
estejamos abertos a elas.
#5 Mente aberta para o futuro: Tudo que
falamos é uma questão de mentalidade. Não adianta dirigir uma indústria, tentar
levá-la para a frente, olhando apenas para o retrovisor. O gestor precisa ter
os olhos voltados ao futuro, tentando antever cenários. Se livrar de crenças
limitantes e conceitos pré-estabelecidos é o passo mais fundamental que um
gestor deve dar no caminho da inovação. É preciso mudar o modelo de gestão de
cima para baixo, num movimento top-down. Dessa forma, quando todos
estiverem alinhados, na mesma página, a empresa será capaz de inovar e
aproveitar o mar de oportunidades que o amanhã nos reserva. Ela estará, enfim,
nos trilhos da inovação e com nova capacidade de ser a locomotiva de todo um
país rumo ao crescimento econômico.
Alexandre
Pierro - fundador
da Palas, consultoria em gestão da qualidade e inovação, engenheiro mecânico
pelo Instituto Mauá de Tecnologia e bacharel em física nuclear aplicada pela
USP. Passou por empresas nacionais e multinacionais, sendo responsável por
áreas de improvement, projetos e de gestão. É certificado na metodologia Six
Sigma/ Black Belt, especialista e auditor líder em sistemas de gestão de normas
ISO. É membro de grupos de estudos da ABNT, incluindo riscos, qualidade,
ambiental e inovação. Atualmente, cursa MBA em inovação.