Não sei a quantas anda, hoje, o trabalho
do Dr. Yong-Ho-Cho. Na ocasião, aquilo me fez pensar em algo mais sofisticado,
possivelmente ao alcance do longo braço da tecnologia por vir. Refiro-me a um
sensor ambiental de emoções. O aparelhinho ficaria sobre a mesa de reuniões e as
luzes de seu painel passariam a exibir a qualidade e a intensidade das emoções
emitidas pelos presentes. Tal conhecimento permitiria, por exemplo, saber se
naquele ambiente emocional o tempo gasto na reunião seria produtivo ou não,
indicando a necessidade de mudanças de ânimo.
O leitor destas linhas talvez esteja a
atribuir-me intenções invasivas e totalitárias. Nada mais distante da
realidade, porém. Peço-lhe calma, portanto. Apenas acompanhe o raciocínio e
conheça, primeiro, o que me motivou a escrever hoje, partindo daquelas
reflexões de inspiração coreana.
Sou telespectador frequente das reuniões
do STF. Elas superam em interesse, utilidade e importâncias a maior parte de
nossas emissoras de TV no horário da tarde. Não raro, diante do que vejo quando
a câmera, estática, filma o colegiado e capta suas expressões fisionômicas;
diante do que ouço e percebo no vocabulário, fraseado e tom de voz dos senhores
ministros; diante do sentido explícito ou implícito daquilo que dizem; diante
da retórica, dialética e erística empregadas, fico pensando no que estaria
sendo captado pelo aparelhinho que a equipe do Dr. Cho poderia vir a
desenvolver. Quais luzes acenderiam, e com que intensidade?
No olho e no ouvido, percebo
manifestações de orgulho, vaidade, ciúme, inveja, ira, lisonja, arrogância e
presunção. Raramente, e de poucas cadeiras, capto sinais virtuosos de anseio
por justiça, benignidade, conexão com o interesse público e sua proteção, amor,
fé e – por que não? - humildade.
E você, leitor? Num momento em que o STF
e vários de seus ministros nos surpreendem com decisões cuja derradeira
consequência é a impunidade e a debilitação da Lava Jato, parece importante
ressaltar a relevância do Supremo pelo que faz, pelo que não faz e pelo que
deveria fazer. O Estado de Direito e a democracia precisam dessa instituição.
Por isso, seus membros deveriam, urgentemente, pensar sobre si mesmos, sobre
seus sentimentos, e sobre o modo como a nação, soberana, os vê.
Sim,
a nação os vê. O tal aparelhinho medidor de sentimentos e emoções existe na
vida real. Ele opera pela percepção de milhões de pessoas em todo o país diante
das sessões do STF transmitidas pela TV e pelas manifestações públicas dos
senhores ministros. Essa percepção, infelizmente, capta muitos sentimentos incompatíveis
com o bom exercício da missão institucional e, raramente, nobreza efetiva. Não
é incomum que o STF decida contra a opinião pública, pois é uma corte
constitucional. Mas deveria ser incomum um tribunal emitir sinais tão pouco
virtuosos.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo
Pensar+.