Qualquer
ser humano, desde o mais jovem ao mais adulto, sabe que, se não mantiver o seu
corpo com alimentação saudável, exercícios regulares e bons hábitos,
provavelmente acabará numa cama de hospital. Qualquer pessoa tem plena ciência
de que seu carro, bicicleta ou mesmo sua casa, se não passar por manutenções
periódicas, perderá valor rapidamente.
No
campo do desenvolvimento urbano e infraestrutura, não é diferente. O planejador
urbano, ao se deparar com o crescimento das cidades, precisa gastar muito
tempo, não só para definir como elas irão desenvolver-se, mas também como
preservarão, cuidarão e valorizarão seu patrimônio. De nada adianta prever e
implantar parques, se eles ficarem sem manutenção e se tornarem lugares
inóspitos para frequência. Tampouco terão retorno áreas cuja zeladoria pública
esteja ausente.
O
centro da cidade de São Paulo e as áreas de mananciais da Região Metropolitana
são exemplos clássicos do absentismo do poder público quanto ao planejamento e
cuidados urbanos. De nada adianta permitir a ocupação urbana em áreas de risco,
colocando a vida das pessoas em jogo, se não há responsáveis para cuidar ou
manter um nível aceitável de bem-estar para esses moradores. Da mesma forma,
tornam-se ineficazes as várias restrições urbanísticas impostas ao centro de
São Paulo, se levam os proprietários de imóveis a abandoná-los. A manutenção
não precisa constituir-se em ônus para a administração pública. Também pode
representar custo zero, seja através de investimentos da iniciativa privada, ou
de incentivos a ela conferidos.
Recentemente,
temos sido surpreendidos, por uma série de acidentes, que revelam o quanto o
assunto "manutenção" é importante, mas deixado de lado. Os viadutos de
São Paulo estão sob ameaça de queda. Já são dois interditados e agora se fala
em outros. Quando há excesso de chuvas, as cidades alagam, aflorando a
ineficiência de seus sistemas de drenagem e escoamento de águas. Também ficam
sem energia, indicando não haver suficiente investimento em renovação e
manutenção das instalações elétricas. Sem falar dos casos mais dramáticos, como
o Edifício Wilton Paes de Almeida (São Paulo), Mariana e Brumadinho (MG), com
vítimas fatais.
Nunca
foi costume do Brasil investir na preservação de seu patrimônio cultural,
ambiental, esportivo ou mesmo na sua infraestrutura urbana. Aliás, há uma
ironia em tudo isso. Enquanto nossos legisladores, no afã de constituir um
legado para as futuras gerações, continuam tombando prédios urbanos, criando
áreas de preservação, ou mesmo projetando equipamentos públicos gigantescos,
como os estádios da Copa ou o Parque Olímpico no Rio de Janeiro, constata-se a
absoluta falta de planejamento quanto aos recursos humanos e financeiros
necessários para sua manutenção. Não é surpresa, portanto, vermos
periodicamente, essas tragédias e dramas nos veículos de imprensa. A rigor,
todos os acidentes têm a mesma causa, atrelada a essa questão cultural de nosso
país.
Mas,
não precisa ser assim, pois, ao redor do mundo e mesmo no Brasil, bons exemplos
de investimentos em manutenção não faltam. Tomemos a cidade de Orlando, na
Florida. São mais de 60 milhões de visitantes, anualmente, frequentando os
parques e a cidade, atraídos por sua beleza urbana e segurança, aportando quase
US$ 50 bilhões aos cofres do município. Aqui, temos a Riviera de São Lourenço,
em Bertioga, onde, há mais de 30 anos, centenas de milhares de pessoas
frequentam o bairro, encantadas com sua praia sempre limpa, água e esgotos
tratados, sem problemas relacionados ao lixo ou inundações. Essa frequência
proporciona transferência permanente de renda de seus proprietários e usuários
de 200 milhões de reais por ano para Bertioga. Manutenção não é despesa. É
investimento. É geração de riqueza e bem-estar.
Estamos
na era digital, das cidades criativas ou smart cities, cujo sucesso ou fracasso
será pautado pela inovação, a tecnologia, a capacidade intelectual e de
investimento de seus administradores e empreendedores, aliadas aos cuidados e
manutenção dos espaços urbanos, por meio de processos regulatórios e
fiscalizatórios. Está aí um desafio para os nossos novos administradores.
Luiz Augusto Pereira de Almeida -
diretor da Fiabci-Brasil — Federação Internacional Imobiliária e diretor de
Marketing da Sobloco Construtora.