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segunda-feira, 18 de março de 2019

Empregos do futuro: como se manter mais relevante que as máquinas?


Desde a 1ª Revolução Industrial, existe uma tensão na relação entre homens e máquinas. Enquanto a tecnologia avança, do tear mecânico à inteligência artificial, movimentos ludistas tomam formas diferentes, e a obsolescência humana força uma evolução de pensamento que mantenha na humanidade um recurso valioso para os processos produtivos.

Por um lado, a tecnologia se desenvolve para servir de aliada, enquanto que por outro, ela se torna aparente uma ameaça. Há um impasse que parece jamais ser resolvido, ou que ao menos ainda precisa de mais variáveis para chegar a uma solução completa. A verdade é que já temos os meios de resolvê-lo, mas isso demanda uma certa mudança na postura humana com relação ao trabalho.

Precisamos das máquinas para sustentar a crescente de nossa sociedade, mesmo que isso custe empregos. Entretanto, a própria economia depende de humanos com poder aquisitivo para funcionar. É um impasse que atinge o trabalhador, o detentor do meio de produção, o consumidor e, basicamente, toda a atividade socioeconômica humana.

Em 2013, um famoso artigo de Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, ambos pesquisadores da Universidade de Oxford, mexeu com a visão que temos da tecnologia em crescente desenvolvimento. O estudo apontava que 47% dos empregos nos Estados Unidos estavam ameaçados por robôs que fariam as tarefas de forma mais eficiente, eficaz e lucrativa, dispensando a mão de obra humana.

É a metade dos empregos de uma nação. Não à toa, o estudo motivou milhares de outros trabalhos semelhantes, que se utilizam de análises, métodos e variáveis distintas. Hoje, já temos números que indicam uma mudança, mas que não é exatamente tão catastrófica.

Já sabemos que muitos trabalhos podem ser substituídos por máquinas, sejam elas robôs, algoritmos, etc. Porém, há muito mais trabalhos surgindo, indicando algumas mudanças na atuação humana, ao invés de sua obsolescência. O impacto tecnológico já mudou o modo como o mundo funciona e continuará mudando. 

Logicamente, a maneira como os profissionais são formados também precisa mudar, assim como os espaços de trabalho, as composições de equipes e, acima de tudo, a mentalidade dos profissionais. Não há volta. Não se pode impedir o progresso, mas se pode progredir com ele.

É preciso haver movimentos que incentivem mais e mais uma evolução do pensamento humano. Não falo de uma alteração genética, nem nada vindo de uma história de ficção científica, mas de uma melhor utilização do potencial e capacidades humanas. Atualmente, lemos em um único dia mais do que nossos bisavôs leram em suas vidas inteiras. Interagimos com mais pessoas em uma semana do que eles em anos.

Exercitamos a mente de formas diferentes. Temos maios acesso à informação e, com tudo isso, já mudamos a maneira como nossos cérebros funcionam. Estamos mais produtivos e capazes do que nunca. Os papas da inovação afirmam que todas as atividades repetitivas, vazias de criatividade, deverão ser substituídas por máquinas.

O fato é que as máquinas imitam o homem, mas elas ainda não tem a capacidade de criatividade e imaginação humana. Por mais impressionante que seja um robô que sabe tudo sobre um determinado assunto, nossos cérebros ainda são superiores, mais eficientes e complexos. Eles só são diferentes.

Uma máquina pode analisar inúmeros livros jurídicos e dominar as leis, aplicar atenuantes. Contudo, o julgamento, a criação das leis, as considerações éticas, morais e a compreensão sociológica, demandam um tipo de abstração que ainda é apenas humana. O que é mecânico será sim substituído, mas novas portas serão abertas porque o valor humano está em coisas intangíveis e complexas. As profissões do futuro são as que demandam um pensamento abstrato, a arte, a imaginação, a criatividade. 

Ser mais relevante que uma máquina inclui ainda saber usá-las da melhor forma possível, alimentar sua mente com informação, com criatividade, com uma postura e pensamento capaz de retirar o melhor das situações. Enquanto seu bisavô se preocupava em apertar um parafuso, você pode observar toda a cadeia de produção e como ela pode ser melhor.

Seus netos poderão melhorar produtos, métodos de produção, gerenciamento de recursos, dentre diversas outras coisas, de maneira ágil, descomplicada e simplesmente porque sua mente está preparada para lidar com problemas mais complexos. O chão de fábrica se tornará lugar dos qualificados a pensar além, gerenciar grandes quantidades de problemas e ideias. A evolução das máquinas, na verdade, representa apenas mais um passo da evolução humana.






Alexandre Pierro - fundador da Palas, consultoria em gestão da qualidade e inovação, engenheiro mecânico pelo Instituto Mauá de Tecnologia e bacharel em física nuclear aplicada pela USP. Passou por empresas nacionais e multinacionais, sendo responsável por áreas de improvement, projetos e de gestão. É certificado na metodologia Six Sigma/ Black Belt, especialista e auditor líder em sistemas de gestão de normas ISO. É membro de grupos de estudos da ABNT, incluindo riscos, qualidade, ambiental e inovação. Atualmente, cursa MBA em inovação.

 


Por que é tão difícil fazer network depois de uma certa idade?


Jovens se conectam por osmose! Estão descobrindo o mundo, fazem parte de mil grupos. Têm paixão e desejo pela quantidade e não ligam tanto para qualidade porque querem experimentar.

Conforme vamos amadurecendo, consolidamos os grupos, as preferências e com isso adequamos também o número à forma de vida. Temos uma rotina pesada, mais responsabilidades e menos tempo para estar em grupos. Para quem tem filhos, o tempo livre é ainda mais escasso. Nos momentos de lazer procuramos estar com quem temos mais intimidade e assim, vamos diminuindo as redes, restringindo o network às pessoas que já conhecemos.

Entretanto, chega um momento em que por razões profissionais cada vez mais desafiadoras, nos damos conta que é necessário sim ampliar a rede de conexões, mas como estamos um pouco enferrujados, não sabemos muito como retomar o processo.

No início, os obstáculos são muitos, pois além de acharmos um pouco chato e cansativo, tememos ser invasivos e não sabemos como iniciar a aproximação, ou seja, temos dificuldades em criar uma conexão efetiva.

Porém, temos de nos lembrar que a evolução da humanidade se deu pela criação das comunidades, que se uniram em torno de interesses comuns, sendo isso algo natural e fundamental. Até o surgimento das redes sociais (que muitos consideram antissociais), transitamos em comunidades de interesses comuns. As novas plataformas apenas transformaram a forma de encontro, dado que vivemos num mundo congestionado, de difícil deslocamento, violência e tantos outros fatores que impossibilitam que os encontros físicos sejam tão presentes como no passado.

Portanto, continuamos os mesmos! Só mudamos a maneira de fazer as coisas. Os encontros que antes se davam em torno da fogueira, hoje acontecem nas redes sociais também. E o bom é que há espaço para todas as tribos, juntos e misturados. Podemos achar quase tudo na rede e isso é maravilhoso, mas há de se ter cautela sempre, pois temos, também, inúmeros problemas quando nos relacionamos mal com a ferramenta. Cabe somente a nós mesmos evitar os riscos, as exposições desnecessárias e o tempo destinado ao mundo virtual. Administrando bem, o desenvolvimento é positivo. 

A vida evolui, muda o tempo todo. Por que não seria assim com as possibilidades que a tecnologia nos traz? Deixemos os medos e as resistências no passado, afinal não há retorno e a inteligência artificial veio para ficar e mudar o que conhecemos em todos os aspectos. Mas não se esqueça, você precisa também de vitamina D e o mundo lá fora, apesar de tudo, continua lindo e as pessoas precisam e, muito, de contato físico. Ache seu equilíbrio e transite por todas as comunidades, sejam elas físicas ou virtuais. 

E não esqueça o mais importante: Faça network! Não importa como: seja pelo resgate do jovem – cheio de energia - ou do homem neolítico -  que fazia conexões movidas a interesses de sobrevivência -, acione o botão que te faz reagir e siga em frente. E lembre-se não adianta só ter o perfil na rede. É necessário conhecer as pessoas, contribuir, compartilhar conhecimento, interagir, comentar, aplaudir e criar conexões verdadeiras, nas quais esteja no papel de ajudar e de ser ajudado.

Outra coisa importante é a imagem que você projeta. Num mundo onde a informação está disponível para todos 24x7, não existe mais lugar para pessoas alienadas, que não falem de assuntos diversos, que não se interessem pelo outro e não sustentem uma conversa séria ou banal. Há de se divertir também, pois o humor é um grande aliado!

Você precisa se destacar no meio da multidão! E a melhor forma de fazê-lo é tendo inteligência e elegância emocionais para transitar sobre as mais diversas situações e ambientes com humildade, empatia e personalidade.

Hoje, as melhores vagas não estão nas mãos dos recrutadores. A indicação é extremamente importante na busca por recolocação profissional e seu amigo da pista de dança ou da rede social pode ser aquele que vai lhe indicar para a vaga que você tanto sonha. Portanto, tome a iniciativa. Seja agente da mudança que quer ver em sua vida.

O início pode ser duro, mas depois vira rotina e incorporamos com alegria.









Demandas judiciais relativas à saúde crescem 130% em dez anos


Entre 2008 e 2017, o número de demandas judiciais relativas à saúde registrou um aumento de 130%, conforme revela a pesquisa “Judicialização da Saúde no Brasil: Perfil das demandas, causas e propostas de solução”. O estudo, elaborado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostra que, no mesmo período, o número total de processos judiciais cresceu 50%. O levantamento foi divulgado nesta segunda-feira (18/3) durante a III Jornada de Direito da Saúde, em São Paulo.

Além de investigar a evolução das ações judiciais motivadas por questionamentos no segmento de saúde, a pesquisa tem o objetivo de contribuir para a compreensão da judicialização do tema e oferecer elementos que orientem a adoção de políticas judiciais que aprimorem a solução de conflitos na área. O evento contou com a participação do conselheiro Arnaldo Hossepian e da diretora-executiva do Departamento de Pesquisa Judiciária do CNJ (DPJ/CNJ), Gabriela Soares, e dos professores do Insper Paulo Furquim e Fernando Aith.  “Fizemos a pesquisa pela relevância do tema e porque ainda não existem dados nacionais que permitam identificar informações mais específicas das ações, como valores, motivos e decisões. O CNJ está trabalhando no desenvolvimento do projeto da Replicação Nacional, por meio do qual será possível obter informações dos processos em trâmite, e assim produzir diagnósticos e conhecer padrões das ações sobre saúde e de outras demandas judiciais”, disse Gabriela Soares.

A pesquisa identificou que o setor de saúde foi responsável por 498.715 processos de primeira instância distribuídos em 17 tribunais de justiça estaduais, e 277.411 processos de segunda instância, distribuídos entre 15 tribunais de justiça estaduais. Os números refletem no orçamento do Ministério da Saúde, que registrou um crescimento, em sete anos, de aproximadamente 13 vezes nos gastos com demandas judiciais, alcançando R$ 1,6 bilhão em 2016. "Utilizamos uma variedade de dados de gestão processual, no período de 2008 a 2017, registrando o aumento da judicialização do período em 130%. 

Verificamos também que apenas um pequeno número de decisões citam os órgãos que qualificariam as decisões, como os NATs e o Conitec. Esse resultado reforça a atuação do CNJ na consolidação e organização dos NATs em uma plataforma e fortalecê-los, como tem sido feito com o e-NAT Jus", afirmou o professor Paulo Furquim durante apresentação da pesquisa.

O estudo também aponta que, considerando a escala alcançada, a judicialização da saúde tornou-se relevante não apenas para o sistema de assistência à saúde, mas para o próprio Judiciário, que tem que lidar com centenas de milhares de processos, vários dos quais sobre temas recorrentes e quase sempre contendo pedidos de antecipação de tutela ou liminares. Paulo Furquim disse ainda que pretendem continuar aprofundando alguns temas da pesquisa, que não puderam ser analisados com mais acuidade, como os efeitos dos NATs. "Precisamos verificar em que momento surgiram e em que locais, para verificar seus efeitos nas ações. Também vale a pena buscar dados que diferenciam a judicialização benéfica, que é eficaz e contribui com o paciente; e a má judicialização, que é fruto dos interesses de mercado."

Saúde suplementar

De acordo com levantamento, os principais assuntos discutidos nos processos em primeira instância são: “Plano de Saúde” (34,05%), “Seguro” (23,77%), “Saúde” (13,23%) e “Tratamento Médico-Hospitalar e/ou Fornecimento de Medicamentos” (8,76%). A incidência elevada de assuntos como “Plano de Saúde” e “Seguro” mostra a relevância das ações judiciais na esfera da saúde suplementar. 

Segundo a pesquisa, na esfera privada, a judicialização afeta direta ou indiretamente as relações contratuais entre cerca de 50 milhões de beneficiários de planos de saúde, operadoras e prestadores de serviços de assistência à saúde. O recorte do levantamento, considerando as expressões regulares no conteúdo das decisões de antecipação de tutela, permite identificar que temas como fornecimento de medicamentos são mais frequentes no sistema público. Na saúde suplementar, a incidência maior envolve questões como dietas, insumos ou materiais, leitos e procedimentos.

Porém, o caso de maior relevo é o que envolve órteses e próteses, citados em mais de 108 mil decisões de tutela antecipada em uma amostra de 188 mil. O tema é mais frequente em decisões liminares do que em decisões finais, como se observa na comparação desses dados com as análises precedentes. Segundo a pesquisa, o valor unitário de órteses e próteses e o caráter de urgência muitas vezes associado à sua utilização é uma provável explicação para a elevada participação nas decisões de tutela antecipada.

Ações coletivas 

A pesquisa CNJ/Insper fornece elementos para desfazer o mito, comum na literatura sobre judicialização da saúde, sobre a diferença de tratamento e sucesso de ações individuais em relação às coletivas. Os dados contrariam a crença que aponta que tribunais e juízes estariam mais dispostos a decidir casos individuais de forma favorável do que realizar reformas estruturais na política pública de saúde via ações coletivas. De acordo com o levantamento, o fato de uma ação ser coletiva está associado a uma maior probabilidade de decisão favorável ao demandante - um acréscimo de aproximadamente 7% de chance de sucesso.

Os casos que são representados pela Defensoria Pública, em que a parte é enquadrada como hipossuficiente e que versem sobre o tema de saúde pública também estão associados a uma maior perspectiva de sucesso por parte do demandante. Porém, a pesquisa constata que é baixo o número de ações coletivas se comparadas às individuais. Isso revela que a judicialização da saúde se dá muito mais pela via individual do que pela coletiva.

Boas práticas

O estudo “Judicialização da Saúde no Brasil: Perfil das demandas, causas e propostas de solução” também ressalta boas práticas adotadas em diferentes tribunais e enfatiza que elas podem ser replicadas em outros estados. Entre os exemplos destacados estão os adotados na Bahia, São Paulo, Pará e Rio Grande do Sul. 

A Câmara de Conciliação da Saúde da Bahia, - que reúne o Tribunal de Justiça, Secretaria de Estado da Saúde (SES), prefeitura, Procuradoria Geral do Estado, MPE, DPE e DPU - estabeleceu um sistema de mediação que se configurou como um instrumento importante para diminuição da “judicialização desnecessária”, levando ao Judiciário apenas casos que os órgãos envolvidos não conseguem resolver extrajudicialmente. A SES estima que, graças à iniciativa, conseguiu evitar cerca de 80% dos processos judiciais. 

Em São Paulo, vigora parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde e a Procuradoria Geral do Estado (8ª SubProcuradoria), o sistema S-Codes, que realiza acompanhamento informatizado do processo, o Grupo de Coordenação de Demandas Estratégicas do SUS-SP (G-Codes), que coordena os pedidos relativos a medicamentos e insumos e os registra no S-Codes, além do Acessa SUS, um programa de integração interinstitucional que realiza triagem administrativa das solicitações com potencial para se tornar ações judiciais e também orienta o magistrado com assessoria técnica. 

No Pará, a Secretaria de Saúde possui um Núcleo de Ações Judiciais e um Diretoria Administrativa Financeira que adquire medicamentos, maior gerador de demandas no Estado. A Procuradoria Geral do Estado tem promovido o diálogo entre Judiciário e Secretaria da Saúde. Uma forma de atender demandas por medicamentos e evitar bloqueios orçamentários é a manutenção de um contrato A-Z com um fornecedor que adquire medicamentos - em um período médio de dez dias e com aplicação de desconto - a partir de preços tabelados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Já no Rio Grande do Sul é realizada uma triagem administrativa de pedidos em parceria com a Defensoria Pública por meio de acesso ao sistema informatizado da Secretaria de Saúde sobre disponibilidade de medicamentos. De acordo com o levantamento, somente 15% das demandas em saúde na capital se tornam pedidos judiciais.

Diálogo

Também presente ao evento, o corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, destacou que a questão da judicialização da saúde tem que ser enfrentada com diálogo e uma intermediação junto às instituições de saúde. Para tanto, citou trechos de um pronunciamento feito pelo ministro Dias Toffoli no sentido de que essas demandas desestabilizam o planejamento orçamentário dos executivos e gerencial dos entes responsáveis pela gestão do SUS.

“São temas sensíveis e que refletem complexos debates jurídicos em nossas cortes de Justiça. Por isso mesmo, essa iniciativa do CNJ, que conta com o apoio do Hospital Sírio-Libanês, do SUS e do Ministério da Saúde, faz parte das ações do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde, e materializará, ao final, a edição de novos enunciados como também proporcionará aos magistrados, servidores, profissionais e acadêmicos interessados uma visão atualizada dentro dos temas sob enfoque”, afirmou o ministro Martins.





Jeferson Melo
Lenir Camimura Herculano
Agência CNJ de Notícias 


O STF, a sociedade e a corrupção no Brasil


Em 14/03/2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a uma decisão fixando a Justiça Eleitoral como competente para julgar crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes do tipo de “colarinho branco” naqueles processos que envolvam, também, o crime de caixa dois de campanha e demais crimes eleitorais. A decisão, com placar bem justo, de 6 x 5, mostrou, novamente, um STF dividido, para dizer o mínimo. A votação do plenário do tribunal reclama reflexões de ordem jurídica e política, ambas searas no campo das Ciências Sociais que não são e nunca serão exatas.

Juridicamente, pouco posso contribuir com a discussão em voga. Contudo, trago ao leitor as considerações de Roberto Livianu, Promotor de Justiça, Presidente do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) e especialista nos estudos de corrupção. Assim, assevera Livianu, em nota, que: “O sistema de Justiça Eleitoral no Brasil, assim como a Justiça Militar, por exemplo, foi concebido para a análise de temas extremamente específicos, como o registro de candidaturas e abusos de poder econômico nas campanhas eleitorais, havendo grave risco a partir dessa decisão [do STF] de aumento da impunidade, principal fator de perda da credibilidade do Poder Judiciário”. E, mais grave, segundo Livianu: “[...] a decisão pode implicar na anulação de inúmeras condenações proferidas com base nas regras em vigor contra acusados de graves violações ao patrimônio público, como o ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o ex-Governador do Rio Sérgio Cabral e quase todos os casos em que atuou a operação Lava Jato [...]”.

Depreende-se das ponderações acima que, politicamente, a decisão do STF pode, distante dos anseios da sociedade brasileira, confirmar a já famigerada falta de credibilidade da Justiça que, para muitos, é incapaz de levar os donos do poder a responder por seus atos criminosos. Há, na cultura política brasileira, uma tradicional relação promíscua entre a política e o poder econômico, pois, sabemos, políticos, quase sempre, representam uma elite econômica que, com excepcionais advogados, somados às brechas no ordenamento jurídico, conseguiram, durante décadas, protelar as decisões que os levariam à cadeia. Ricos e poderosos, políticos que se distanciam de seus papéis de representantes do povo, cometendo atos de corrupção, não chegavam a receber punições. Podiam apelar, em liberdade, até a última instância – o próprio STF – quando muitas vezes os crimes já haviam prescrevido ou já com idade avançada tinham outros benefícios. A sinalização era clara: o crime, especialmente cometido por políticos, contra os interesses da sociedade, compensava.

Os ministros do STF podem – e devem – julgar de acordo com suas convicções no que tange à interpretação das leis. Para isso estão lá. Entretanto, decisões sempre têm consequências, as falas de ministros têm consequências. As afirmações de Gilmar Mendes, por exemplo, utilizando-se de palavreado aquém da dignidade do cargo que ocupa, chamou membros do Ministério Público de gângster, gentalha e cretinos. E, pasmem, com a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, ouvindo as ofensas aos seus colegas calada. Há algo de muito errado em nosso país. Muito! E, não nos enganemos, pois, em breve, volta à tona a discussão da prisão em segunda instância e, novamente, a decisão do STF pode significar um abalo sísmico em nossa sociedade.




Rodrigo Augusto Prando - Cientista Político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É bacharel e licenciado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.



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