Amazonas e Rondônia são responsáveis por quase 100% dos casos, mas no
Rio de Janeiro, São Paulo e Pará também houve ocorrências
O sarampo é
uma doença viral, altamente contagiosa, que pode evoluir com complicações
graves. A despeito de evitável por uma vacina disponível, segura e eficaz,
ainda é importante causa de morte no mundo, principalmente em crianças.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2016 tenham ocorrido 90.000
óbitos relacionados ao sarampo . No Brasil, foram confirmados 822 casos da
doença e 3831 estão sendo investigados.
A região
Norte do país é a mais atingida, com 97% dos casos, principalmente no Amazonas
e em Rondônia. Mas estados do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro, também
registraram ocorrências de sarampo.
A
doença
A Comissão
Nacional Especializada de Vacinas da FEBRASGO (Federação Nacional das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia) detalha que o sarampo é uma doença infecciosa
causada por um vírus RNA da família Paramyxoviridae,
gênero Morbillivirus. A transmissão ocorre a partir do contato direto de
gotículas de secreções respiratórias de pessoas infectadas. É altamente
contagiosa; sem imunidade, 90% adquirem a infecção em contato com um caso de
sarampo.
O período
de incubação dura de 7-21 dias até o aparecimento do exantema. Os sintomas
clássicos do sarampo incluem, além do exantema, febre alta, tosse, coriza e
conjuntivite. O exantema característico inicia poucos dias após o surgimento da
febre e se caracteriza por ser maculopapular, eritematoso, generalizado,
frequentemente pruriginoso, iniciando na face e progredindo em direção aos
membros inferiores. As manchas de Koplik na mucosa oral são patognomônicas da
doença, mas não são frequentemente visualizadas. A transmissão de uma pessoa
para outra inicia quatro dias antes do quadro de exantema e persiste por mais
quatro dias.
As
complicações mais frequentes são diarreia, otite, pneumonia (pelo próprio vírus
do sarampo ou secundariamente, por bactérias) e encefalite. É geralmente mais
grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de
imunodeficiências. Em gestantes, pode causar aborto espontâneo e parto
prematuro, embora não sejam conhecidos casos de malformações congênitas
associadas à infecção pelo sarampo .
Tratamento
Não existe
tratamento específico.
Epidemiologia
no mundo
Segundo a OMS,
até junho de 2018, foram mais de 130 mil casos suspeitos e quase 82 mil
confirmados. A doença ocorre em todos os continentes. Chama atenção o número de
casos na Europa, com quase 22 mil casos confirmados em 2018, sendo as maiores
incidências na Ucrânia, Sérvia, Itália, Geórgia, Romênia, França e Rússia,
relacionados ao principal genótipo circulante, B3 .
Epidemiologia
na América
Nas
Américas são 1.209 casos confirmados em 2018, em 11 países. A grande maioria
dos casos ocorreram na Venezuela (surto desde julho de 2017), seguida do
Brasil, Estados Unidos e Colômbia. Principal genótipo circulante: D8 .
Prevenção
A vacina
sarampo é a forma mais eficaz de prevenir a infecção. Atualmente utiliza-se a
tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e/ou a tetraviral (sarampo,
caxumba, rubéola e varicela).
Outras
medidas:
- cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
- lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou então, utilizar álcool em gel;
- não compartilhar copos, talheres e alimentos;
- procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos;
- evitar aglomerações ou locais pouco arejados, sempre que possível;
- manter os ambientes frequentados sempre limpos e ventilados;
- evitar contato próximo com pessoas doentes.
Vacina
tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Composta
por vírus vivos atenuados, é uma vacina bastante segura e efetiva. Para o
componente sarampo é relatada uma efetividade de aproximadamente 93% com uma
dose e 97% com duas .
O PNI
recomenda a vacina tríplice viral de rotina para todas as crianças com um ano
de idade e uma segunda dose aos 15 meses com a vacina tetra viral (sarampo,
caxumba, rubéola e varicela).
A tríplice
viral também está recomendada e disponível na rede pública até os 29 anos (em
duas doses, com um mês de intervalo) e em dose única até os 49 anos de idade.
Para profissionais da saúde, disponibilizada em duas doses, independente da
idade .
As
Sociedades científicas brasileiras, incluindo a FEBRASGO, preconizam duas doses
da vacina, independente da profissão ou da idade [8-10].
Importante
saber: uso da vacina no Brasil
No Brasil,
o estado de São Paulo foi o primeiro a introduzir a vacina tríplice viral no
ano de 1992 e, no restante do País, em 2003. Em 2013, a primeira dose de
tríplice viral foi mantida aos 12 meses e incluída a tetra viral como segunda
dose, recomendada, agora, aos 15 meses de idade. Em 2017, pela situação
epidemiológica da caxumba, foi ampliada a faixa etária de recomendação da
tríplice viral na rede pública para pessoas com até 49 anos. Para profissionais
da saúde e aqueles até os 29 anos, ficou disponibilizada em duas doses.
Desde 2003,
houve campanhas de vacinação contra sarampo e rubéola e foram utilizadas
vacinas tanto duplas como tríplices virais. Frequentemente, essas vacinas
aplicadas não são/foram registradas em Cadernetas de Vacinação.
Pós-exposição
A vacina
administrada até 72 horas após contato pode prevenir a doença. A
imunoglobulina humana padrão (IG) aplicada até seis dias após o contato pode
prevenir ou modificar a doença.
Eventos
adversos da Vacina
Em geral
leves e transitórios. Artralgias e dores articulares em 25% dos adultos
suscetíveis. Não há evidência na literatura de que a vacina cause autismo ou
espectro autista.
Contraindicações
e precauções
Alergia
grave a qualquer componente da vacina; gestação, imunossupressão, doença
aguda moderada a grave, transfusão de sangue. Alergia a ovo, mesmo grave, não é
considerada contraindicação [8-10].
Importância
do médico ser vacinado e prescrever a vacinação
A vacinação
do médico e outros profissionais da saúde é recomendada, não só para
protege-los, mas também para que não sejam fonte de infecção para seus
pacientes, além de um incentivo para seus pacientes se vacinem.
Alerta
Sarampo em 2018
O CVE-
Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, da SES de São
Paulo, em alerta do dia 18 de junho, informa que: frente ao cenário
epidemiológico a situação do sarampo corresponde ao Nível 3 de Resposta e
Alerta, e recomenda: ALERTA TOTAL A QUALQUER CASO SUSPEITO DE DOENÇA
EXANTEMÁTICA. Casos suspeitos de sarampo e/ou rubéola devem ser notificados em
24h; investigados em 48h; coletar o material biológico para diagnóstico
laboratorial e implementar as medidas de prevenção e controle de maneira ampla
e oportuna .
Juarez
Cunha
Isabella de
Assis Martins Ballalai
***
REFERÊNCIAS
OMS.
Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/diseases/measles/en/
Cunha
J, Krebs LS, Barros E. Vacinas e imunoglobulinas: consulta rápida. Porto
Alegre: Artmed; 2009.
OMS.
Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/immunization/monitoring_surveillance/burden/vpd/surveillance_type/active/Global_MR_Update_June_2018.pdf?ua=1
Brasil.
Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/11/af-Informe-Sarampo-n10-final-5jun18.pdf
CEVS.
Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Estado do Rio Grande do Sul. Disponível
em:http://www.cevs.rs.gov.br/upload/arquivos/201806/13142928-13-06-18-alerta-sarampo.pdf
CDC.
Centers for Disease Control and Prevention. EUA. Disponível em: https://www.cdc.gov/measles/vaccination.html
Brasil.
Ministério da Saúde. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-nacional-de-vacinacao
Programa
vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 170p. (Série Orientações e Recomendações
FEBRASGO; no.13/Comissão Nacional Especializada de Vacinas).
SBIm.
Sociedade Brasileira de Imunizações. Calendários. Disponível em: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao
Sociedade
Brasileira de Pediatria. Disponível em: http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19717k-DocCient-Calendario_Vacinacao_2017-maio.pdf
CVE.
Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”. Estado de São
Paulo. Disponível
em:http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/sindrome-da-rubeola-congenita-src/doc/sarampo18_alerta_18junho.pdf
Este
documento tem o suporte da Comissão Nacional Especializada de Vacinas da
FEBRASGO. Presidente: Dr. Júlio César Teixeira