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quinta-feira, 21 de junho de 2018

No Dia Mundial de Combate às Drogas (26/06), especialista explica sobre tratamentos e inclusão de usuários


Sobre tratamentos e inclusão de usuários de drogas


Professor da pós-graduação em Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), explica sobre fatores que levam à dependência química e aleta sobre os danos com o uso abusivo das drogas


O último Relatório Anual do Departamento de Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em 2017, diz que cerca de 5% da população mundial usaram drogas pelo menos uma vez nos últimos anos. O documento também relata que, aproximadamente, 30 milhões de pessoas dependem do narcotráfico até precisarem de tratamento. Para alertar sobre o uso abusivo de drogas, a ONU escolheu o dia 26 de junho como o Dia Internacional do Combate às drogas.

As motivações que levam uma pessoa a consumir drogas dependem do estilo de vida que ela possui. Segundo o psicólogo, professor e coordenador da pós-graduação em Saúde mental, álcool e outras drogas do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), Paulo Aguiar, situações de extremo estresse, ansiedade e alteração de humor são fatores que podem levar um indivíduo a fazer uso de drogas. Os tipos de substâncias que afetam mais ou menos as pessoas dependem do estado emocional de cada um, pois a experiência com elas é totalmente pessoal e singular.

“Um sujeito pode fazer uso do álcool em determinado momento e não ter nenhum problema. Mas outro, que vive em circunstâncias diferentes, pode sofrer grandes consequências ruins. Já as pessoas em situação de rua, sem nenhuma perspectiva de futuro, terão muitos danos com qualquer tipo de droga”, explica o especialista. Por ser uma fase de transformações no corpo e na mente, a adolescência é o momento em que as substâncias psicoativas podem provocar sérios danos a um indivíduo.

Por exemplo, um jovem que começa a fazer uso do com 12 anos, a possibilidade de ter problemas é maior do que outro que começa aos 18 anos. Quanto mais cedo as pessoas iniciarem alguma experiência com drogas, maiores as chances de terem problemas e virarem dependentes. No caso do álcool, há um outro desafio, pois é excluído das campanhas sobre drogas e a forte investimento publicitário das industrias do setor. Mas o álcool é o responsável por grande parte dos acidentes fatais no trânsito, mortes por motivos banais, violência doméstica contra mulheres, crianças e adolescentes e rupturas nas relações pessoais. 


IDENTIFICANDO O DEPENDENTE – “O uso problemático de drogas ou a dependência química pode ser identificado pelo próprio sujeito ou por pessoas próximas, geralmente os familiares. Sinais como o desinteresse por outras atividades, a quebra de vínculos familiares e sociais, perda de emprego ou não se fixar em nenhuma atividade profissional por muito tempo e o desinvestimento em projetos de futuro podem ser percebidos por quem está perto”, alerta o psicólogo Paulo Aguiar.

A busca de prazer e a sensação de bem-estar com uso recreativo dessas substâncias não é um problema quando não atrapalha as atividades profissionais e os vínculos sociais da pessoa. Segundo o especialista, estamos acostumados a entender o uso de drogas como sempre sendo algo ruim. Por isso, é importante as famílias falem sobre drogas corriqueiramente para diminuir os pré-conceitos, buscar mais informações e tratar o assunto de forma séria e sem estigmatização. 



Opções de tratamentos para usuários de drogas

Existem diferentes tipos de tratamento para pessoas que possuem problemas com drogas, envolvendo perspectivas científicas e religiosas. O modelo biomédico, onde a medicina aponta para a necessidade da abstinência total dando enfoque as questões orgânicas e genéticas, foi predominante durante muito tempo. O tratamento religioso aponta também para a necessidade de abstinência total, apontando como principal motivo do sujeito fazer uso de drogas é o seu afastamento de Deus. “Assim, o tratamento passa por uma conversão e não tem nada de científico. Esses dois modelos apontam também para o uso da internação, mesmo sem a vontade do paciente”, comenta o professor do IDE.

Outra perspectiva de tratamento é a psicossocial, que aponta para um entendimento que não existe sociedade sem drogas e que precisamos aprender a conviver com pessoas que fazem uso e podem vir a ter problemas, ou seja é inevitável o uso de drogas numa sociedade e a proibição é o grande problema. “Nessa perspectiva, a estratégia é a redução de danos, onde o tratamento deve ser feito em liberdade, pois o indivíduo pode até ser internado, mas um dia voltará para o lugar onde teve contato com as drogas. Nessa visão, o foco não é a droga, o foco é o sujeito”, explica Paulo.  

De acordo com Paulo, não se combate o vício. “Combate a ideia de guerra, e numa guerra se elimina inimigos. Os usuários de drogas não são inimigos da sociedade. Qualquer política de drogas deve trazer informações e conhecimento sobre o assunto para acabar com conceitos pré-estabelecidos sobre o assunto, pois assim podemos ter uma discussão séria sobre o uso das drogas e ajudar quem enfrenta problemas a retomar sua vida em social”, finaliza. Profissionais interessados em se especializar no tema, a pós-graduação em Saúde mental, álcool e outras drogas está com matrículas abertas e previsão da próxima turma para ser iniciada em setembro. Mais informações: www.idecursos.com.br  e (81) 3465.0002 e 0800 081 3256.


Malefícios do álcool vão além dos acidentes de trânsito


A Lei Seca completa dez anos e, segundo estudo do CPES (Centro de Pesquisa e Economia do Seguro), divulgado em 2017, teria evitado a morte de quase 41 mil pessoas, entre 2008 e 2016. Uma boa notícia, mas pode melhorar. Além disso, o álcool traz outros malefícios à saúde, inclusive à visão, que reflete diretamente na direção.

De acordo com o Dr. Ramon Antunes de Oliveira, oftalmologista do H.Olhos – Hospital de Olhos Paulista, a curto prazo, o álcool retarda a contração e dilatação pupilar, dificultando a adaptação a ambientes de diferentes iluminações, reduz a sensibilidade ao contraste, piora os sintomas de olho seco, entre outros danos.
A ingestão prolongada de álcool pode aumentar a incidência de DMRI e catarata.

  • DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade): principal causa de cegueira irreversível em idosos, a doença ataca a retina, parte posterior do olho.  
  • Catarata: doença que mais cega no mundo, também está relacionada à idade. Reversível, seu efeito é o de opacificação do cristalino, lente natural do olho, resultando na perda progressiva da visão.

Além dessas mais comuns, o Dr. Ramon Antunes de Oliveira destaca:
  • Síndrome do Álcool Fetal: grávidas que ingerem bebidas alcoólicas em grandes quantidades, no início da gestação, aumentam o risco desta síndrome, provocando doenças durante o desenvolvimento do olho do bebê, como coloboma, microftalmia ou hipoplasia do nervo óptico.
  • Neuropatia óptica severa e irreversível: provocada pela intoxicação por metanol.

Visão empacada e dificuldade de adaptação no claro/escuro, perda de contraste e do campo visual são alguns dos sintomas de doenças oculares derivadas do álcool. Nesses casos, recomenda-se a avaliação oftalmológica minuciosa, e acompanhamento multiprofissional, com médico, nutricionista e psicólogo.



Febre amarela: Da origem ao transplante


De origem africana, o vírus da febre amarela teve sua primeira epidemia em 1730, na Península Ibérica, quando causou a morte de 2.200 pessoas. Nos séculos 18 e 19, os Estados Unidos foram atingidos muitas vezes por epidemias devastadoras, pois a doença era disseminada por embarcações vindas das índias ocidentais e do Caribe.

Em terras brasileiras, a febre amarela apareceu pela primeira vez em 1685 no estado de Pernambuco, onde permaneceu por dez anos. Na mesma época, a cidade de Salvador também foi atingida, e contabilizou cerca de 900 mortes no período de seis anos.  A primeira constatação de morte por febre amarela é de 1692 em um navio, e nesta situação, foi relatado o impacto profundo da doença na deterioração do fígado. Após o surto no século 17 e com realização de campanhas de prevenção, os períodos de epidemia da doença foram cessados por 150 anos no país, retornando em 1850.

No período de 1980 a 2004, foram confirmados 662 casos de febre amarela silvestre, com ocorrência de 339 óbitos, representando uma taxa de letalidade de 51% no período, segundo informações do Ministério da Saúde.  Recentemente, se constatou que de 2017 a abril de 2018, o Brasil vive o maior número de casos e mortes desde o último surto da doença em 1980. 

Em dezembro de 2017, uma equipe liderada por um professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) realizou a primeira cirurgia de transplante de fígado em um paciente com febre amarela no mundo. De lá para cá, foram realizados outros vinte transplantes, em hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 

O Hospital Felício Rocho, localizado em Belo Horizonte (MG), foi o segundo no mundo a realizar o transplante de fígado em casos graves de febre amarela, com sucesso, alcançando o melhor resultado em sobrevida (50%). Pioneiro e inovador na ciência de transplantação, nos últimos dois anos, o Hospital realizou cerca de 442 transplantes. Os órgãos transplantados foram de fígado, rim, pâncreas, coração e medula óssea. Já nos casos de transplantes de fígado por causa da febre amarela, o Hospital transplantou quatro pacientes, e dois sobreviveram.  

No mês de fevereiro, um grupo de especialistas brasileiros envolvidos nos transplantes de fígado, em parceria com o Ministério da Saúde, definiram critérios específicos para os casos de troca de órgão em pacientes com a febre amarela. Conforme as novas normas, a principal diferença entre os pacientes que sobreviveram e os que morreram foi o momento de realização do transplante. Digo isso, pois os pacientes que tiveram êxito com o procedimento, foram encaminhados para o transplante de forma precoce, com apenas um ou dois dias de diferença, o que dá uma ideia do quanto a situação é dramática. 

Um dos critérios adaptados para esses pacientes foi referente ao grau de comprometimento cerebral causado pela falência do fígado, a chamada encefalopatia hepática. Em casos de hepatite fulminante por outras causas, nós indicamos o transplante com comprometimento (máximo) grau 3 ou 4. No caso da febre amarela, o paciente já pode ter indicação com comprometimento grau 1, tamanha a agressividade da doença.







Antônio Márcio de Faria Andrade - hepatologista e responsável técnico pelo transplante de fígado do Hospital Felício Rocho


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