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domingo, 17 de junho de 2018

Como a relação conjugal influencia na criação do filho?


Como a minha relação conjugal influência na criação do meu filho? Essa é uma pergunta muito pertinente para todo pai e mãe responderem nos dias atuais. Quando a criança nasce ela observa o comportamento dos seus genitores e os imita. A verdade é que os filhos são testemunhas morais do dia a dia dos pais, são com eles que dão os primeiros passos na aprendizagem de como lidar com um sistema de regras que encontrarão durante toda a vida. E é ao observar o ambiente dentro de casa, ainda na infância, que irão estruturar seu comportamento dentro da sociedade.

É muito antes de ir para a escola que os filhos são confrontados com regras e questões morais. O certo ou errado para a criança dependerá de como ela ver que funcionam as regras em casa. E quando ela é enviada para o ambiente escolar já terá em sua bagagem esse conjunto de regras do seu primeiro convívio social. Nesse novo lugar ele influenciará seus amigos, e também será influenciado por eles, essa troca de informações formará o homem do amanhã. Como já disse Freud: “a criança é o pai do homem”. 


Então como os pais podem fazer para ter sucesso na criação dos filhos? 

O primeiro ponto a se destacar é a comunicação entre os cônjuges. No tom de voz, em como o marido fala com a esposa e vice e versa. Um princípio judaico diz que a vida e a morte estão na mão da fala, que seria o diálogo em um relacionamento, que reflete em todas as outras relações possíveis na vida do indivíduo: familiares, sociais, escolares, comerciais, conjugais, entre amigos, entre outras. 

A fala é a principal característica do ser humano, é a comunicação mais sofisticada que o caracteriza em função de poder de forma complexa, estruturada e aprofundada, expressar pensamentos e sentimentos, descobertas e frustrações, e os pais devem utilizar bem essa ferramenta. O diálogo em casa vai demonstrar como a criança deve ser relacionar com o outro, e ela aprenderá isso ao observar como será abordada pelo pai e pela mãe. 


A importância de utilizar o diálogo: quantidade x qualidade 

Uma pesquisa realizada em 2005 mostra que o tempo gasto pelo homem para conversar com sua esposa é de uma hora e meia. Parece ser muito pouco, visto que temos 24 horas no dia, mas o que realmente importa é saber se essa fala é qualitativa ou rotineira, simplesmente burocrática e, até mesmo, sem nenhuma importância educacional, ética ou moral.   

O problema é que se observou um diálogo superficial. Falas como: “não esquece disso”, “pague aquilo”, “temos isso para fazer”, “não esquece aquilo outro”, no geral são sempre falas sobre rotina da agenda. Essas conversas são necessárias e importantes, mas é preciso uma que alimente a relação conjugal também. Isso com o tempo vai desgastar o casal. Destaco que é uma arte ser marido e pai, como é uma arte ser mãe e esposa.  

Estamos vivendo uma crise no relacionamento entre marido e mulher, onde falas de carinho e profundidade não encontram espaço. O que acaba por refletir nos próprios filhos. O grande problema dos conflitos familiares está na possibilidade de se ter uma pessoa que é um super-pai e um marido ausente, ou o contrário, um super-marido, mas um pai ausente, o mesmo vale para a mãe. Mas quando se trata do pai o quadro é mais agravante. Além do maior índice de abandono, muitas vezes a relação pai e filho se resume a perguntas como: “tomou banho?”, “fez a lição?”, “vai dormir!”. Isso não marcará a vida de nenhuma criança, não traçará a personalidade de ninguém. 

A fala começa a perder a emoção e conteúdo, então começamos com uma relação conjugal medíocre e vamos parar em uma relação com os filhos quase inexistente, apenas de comandos. 

É preciso então resgatar as frases de efeito que ouvimos dos nossos avós e dos nossos pais, que ilustram respeito, que contem sabedoria, que vai deixar registrado a marca no filho que será o homem de amanhã. E não frases burocráticas, ordens, mando e desmando, isso é um desgaste, embora necessário. Não pode ocupar o tempo disponível tanto na relação conjugal, como na relação de pai e filho. 


Um diálogo que aponte para o respeito: criando homens e mulheres do amanhã 

Respeito, segundo o judaísmo, é uma das questões mais importantes. De acordo com Maimônides, grande sábio judeu da idade média, uma das maiores necessidades do homem não é comer, beber e tão pouco fazer sexo ou ter satisfação no trabalho, mas sim a necessidade de ser respeitado, de ser reconhecido pelo próximo.  

Então, em uma relação conjugal, que terá impacto nos filhos, o diálogo deverá demonstrar o respeito do marido para com a esposa, e vice-versa. Se a conversa apresentar conteúdo, um tema envolvente, a criança será estimulada a ser extremamente respeitosa e profunda. Isso vai refletir em toda a vida dele. 

A preocupação com essa questão do respeito vai muito além do ambiente familiar. Uma pesquisa de 2013, realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento  Econômico (OCDE), aponta que o professor no Brasil perde 20% do tempo para colocar a classe em ordem e acabar com a bagunça e outros 13% resolvendo problemas burocráticos, totalizando 33% do tempo usado para esses fins. Para o mesmo propósito a média de outros países é de apenas 13%.  Ou seja, o diálogo não está surtindo efeito nem dentro da escola. Estamos hoje diante de uma crise de relacionamento. A começar pelo matrimonial, depois dos pais e filhos e que alcança educadores e alunos. 

Se os pais usarem do seu tempo estimulando os filhos a pensarem e a conversarem da mesma forma como eles testemunharam em uma boa relação conjugal, ao lembra-lo de como havia respeito no olhar para o outro. Com a palavra respeito sendo norteadora do relacionamento conjugal e familiar, essa qualidade prosseguirá para os próximos relacionamentos de nossos filhos, sejam com professores, colegas de sala, amigos, entre outros, os tornando cidadãos do amanhã, que buscam criar uma sociedade melhor.





Rabino Samy Pinto - formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretor do Colégio Iavne, por 22 anos. O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.


No casamento é preciso perder para ganhar, dizem especialistas


Essa afirmação pode parecer estranha, mas segundo Marina Simas de Lima e Denise Miranda de Figueiredo, ambas psicólogas, terapeutas de casal e família e fundadoras do Instituto do Casal, quando se trata de amor, ceder em favor do outro, tolerar ou ainda superar as diferenças são ingredientes fundamentais para construir relações mais duradouras e com qualidade.

“O sucesso de um relacionamento amoroso está ligado à disposição que cada parceiro tem em perder alguma coisa para ganhar outra. No momento em que você vai morar junto com alguém, abrir mão de certos valores da família de origem para construir novos, dentro da nova família que será constituída, será essencial para experimentar a nova fase e viver essa relação integralmente. Podemos dizer que essa é a ideia inicial de uma grande “perda”, mas que significa um possível ganho futuro importante”, comenta Denise.

“Em um casamento, você precisa abrir mão de muitas coisas, você precisa praticar constantemente o altruísmo e a generosidade. Mas, isso pode ser particularmente mais difícil para quem viveu uma vida de solteiro por muitos anos, com muita liberdade, mais voltada para o individualismo”, diz Marina.

“Na vida a dois, o trabalho a ser feito é para construir uma unidade, mas levando em consideração que são duas pessoas com diferentes valores, crenças e educação. Daí o exercício diário será “perder” essas diferenças para construir uma nova identidade que corresponda a essa relação. Portanto, aqui se aplica o conceito de perder para ganhar também”, explica Denise.


Cada escolha é uma renúncia
 
Muitas vezes não paramos para pensar que a vida é um eterno jogo de perde-ganha ou vice-versa. “Mesmo sem perceber, estamos o tempo todo fazendo escolhas e, automaticamente, quando escolhemos algo abrimos mão de outra coisa, reflete Marina.

“No casamento você pode escolher trair ou ser fiel, pedir desculpas ou manter seu orgulho, fazer programas que você não gosta para agradar o (a) parceiro (a) ou se recusar a fazê-los. São renúncias e escolhas que fazem parte da rotina da vida. Os casais que conseguem compreender que a perda de hoje pode ser o prêmio de amanhã, acabam sendo mais felizes e satisfeitos com a vida conjugal do que aqueles que são menos flexíveis nas negociações”, afirmam as terapeutas.

Treine
 
Marina e Denise comentam que esses comportamentos podem ser treinados e há pontos específicos que podem ser trabalhados. “Um dos pontos que o casal pode trabalhar é a comunicação, assim como a negociação de conflitos ou até mesmo a negociação dos combinados, estabelecendo um equilíbrio na relação. Ou seja, alternando as renúncias para que um não sinta que está renunciando mais que o outro”.

“Quando falamos em comunicação parece fácil. No entanto, se comunicar não é somente falar, na verdade requer escutar, acolher e compreender, estando aberto às novas possibilidades. Maturidade e flexibilidade são elementos essenciais para estabelecer um bom diálogo. Sendo estes instrumentos poderosos para o alcance de relações mais equilibradas e duradouras”, finalizam Marina e Denise.



QUEM NUNCA TEVE UMA CRISE EXISTENCIAL?


Seja aos 18 ou aos 40 anos, quem nunca se questionou sobre sua vida: será que estou feliz no trabalho? Será que estou com a pessoa certa? Será que quero ter filhos? Ao longo de milhares, talvez milhões de anos, a espécie humana adquiriu a capacidade de refletir sobre si e o ambiente. O homem se deu conta de sua existência, percebeu que nasce, se desenvolve, envelhece e morre. Ao longo de sua existência, o homem se questiona e busca respostas para o fenômeno da vida, especialmente de sua vida.

De modo geral, os questionamentos encontram respostas que o tranquilizam e o homem segue sua trajetória relativamente feliz consigo mesmo. Eventualmente, porém, algumas questões não encontram respostas ou a vida lhe apresenta uma situação que o leva a uma reflexão mais profunda, e ele se sente diante de uma encruzilhada, devendo decidir qual direção tomar. Muitas vezes a escolha é dolorosa. Um bom exemplo se encontra no filme “A escolha de Sofia”, de 1982. Sofia (Meryl Streep), presa num campo de concentração nazista, é obrigada a escolher qual de seus dois filhos será morto. Se recusasse escolher, ambos seriam executados.

Uma crise existencial não é considerada propriamente uma doença ou um diagnóstico médico. Envolve, em geral, uma situação-limite para a pessoa, um questionamento sobre algum aspecto profundo e essencial de sua existência. Difere claramente de uma crise situacional, como um divórcio, por exemplo, ou uma crise inerente às diversas etapas da vida (adolescência ou meia-idade). Crises situacionais podem convergir e se aprofundar a ponto de se tornarem uma crise existencial. Quando ela se aprofunda, a pessoa pode vir a desenvolver uma depressão, que requer cuidado médico especializado.

As crises e adversidades da vida ocorrem de modo quase sempre imprevisível; a forma de lidar com a crise dependerá, em boa parte, da capacidade de resiliência da pessoa, em última análise de sua personalidade. Se a crise é muito intensa ou a pessoa tem pouca resiliência, ela precisará de ajuda profissional para lidar com a adversidade e desenvolver seu potencial de resiliência, de modo a ficar mais preparada para uma possível nova crise que a vida possa trazer. Psicoterapias, especialmente a Psicanálise, proporcionam a possibilidade de desenvolvimento pessoal, a partir da investigação do modo de ser da pessoa. A medida que a pessoa amplia e aprofunda o conhecimento de si mesma, passa a dispor de novos instrumentos para lidar melhor com as crises e dúvidas inevitáveis durante a vida.





Prof. Dr. Mario Louzã - médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (CRMSP 34330)


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