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terça-feira, 11 de abril de 2017

Novos e-mails colocam a Shell no centro de um esquema bilionário de suborno na Nigéria



As gigantes globais do petróleo Shell e Eni participaram conscientemente de um enorme esquema de suborno envolvendo um dos blocos de petróleo mais valiosos da África, o que privou a Nigéria e seu povo de US$ 1,1 bilhão, revela hoje a Global Witness junto com a Finance Uncovered.  Elas analisaram novos e-mails internos vazados, os quais mostram que os decisores mais importantes da Shell sabiam que em vez de beneficiar o nigeriano, o dinheiro pago pelo bloco de petróleo OPL 245 em 2011 iria para o ex-ministro nigeriano Dan Etete, que já havia sido condenado por lavagem de dinheiro.

"Este é um dos piores escândalos de corrupção da indústria do petróleo e o maior avanço neste caso até agora. As novas evidências mostram que executivos seniores da quinta maior empresa do mundo entraram conscientemente em um acordo corrupto que privou o povo nigeriano de US$ 1,1 bilhão”, declara Simon Taylor, da Global Witness.  “Para dar uma noção do que isso representa, o pagamento para este negócio vale mais do que todo o orçamento de saúde da Nigéria para 2016", completa.

A Global Witness investigou e expôs este caso por seis anos e durante esse tempo a Shell negou consistentemente qualquer erro, dizendo que só havia pago ao governo nigeriano. Os e-mails vazados mostram que essa negação é enganosa. Mensagens que foram para o então CEO Peter Voser revelam que ele sabia que esse substancial pagamento iria para Etete. Outros e-mails mostram que o dinheiro provavelmente seguiria para algumas das pessoas mais poderosas do país, incluindo o então presidente Goodluck Jonathan.
 
O acordo corrupto de Shell e Eni teve conseqüências enormes para as pessoas comuns da Nigéria. Neste momento, cinco milhões de pessoas em toda o país enfrentam a fome e uma em cada dez crianças não vive até seu quinto aniversário. O dinheiro pago pelo bloco equivale a uma vez e meia o que a ONU diz ser necessário para responder à atual crise de fome do país.

Ao participar conscientemente deste enorme esquema de suborno, a Shell também enganou seus investidores e os expôs a um risco considerável, já que o bloco poderia agora ser retirado da empresa. Milhões de poupanças de pessoas em todo o Reino Unido são investidos na Shell.

A polícia invadiu a sede da Shell em fevereiro de 2016. Seis países abriram investigações sobre o acordo. Há grandes chances de que a Shell venha a perder o bloco de petróleo. Um tribunal italiano vai iniciar audiências em 20 de abril para determinar se a Shell será julgada por acusações de corrupção internacional. Vários executivos da Shell da época do acordo podem enfrentar processos de responsabilidade civil.

Mais alarmante para os investidores, quando o acordo da OPL 245 estava sendo negociado, a Shell já havia sido acusada nos Estados Unidos de pagar subornos na Nigéria. Cinco meses antes do negócio ter sido assinado, a Shell havia firmado um acordo de acusação diferida - o equivalente a estar em liberdade condicional - com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que ainda estava em vigor quando o negócio foi aprovado. As notícias de hoje sugerem que a Shell pode ter violado este acordo entrando em um esquema de suborno. É extremamente preocupante que os executivos mais altos da empresa tenham avançado neste negócio dado que a empresa tinha sanções tão graves pendentes sobre ele.

Ben Van Beurden é CEO da Shell desde 2013. Em 2015, ele disse à Global Witness que os pagamentos para o bloco eram "moralmente OK" e "de acordo com a lei da Nigéria e a prática internacional".  Os e-mails vazados contam uma história muito diferente. Van Beurden, em um telefonema grampeado por autoridades holandesas com o CFO da Shell, Simon Henry, refere-se a "e-mails realmente inúteis". Um e-mail interno copiado para então CEO Peter Voser afirma: "Etete pode cheirar o dinheiro. Se com quase 70 anos ele vira a cara para $ 1.2 bi (sic) ele é completamente doido. Mas eu acho que ele sabe que é dele.”

Para Shauna Leven, Diretora de Campanhas Contra a Corrupção da Global Witness, "Este é um grande escândalo – ele deve desencadear uma mudança. Durante muito tempo, as companhias de petróleo mais poderosas e lucrativas do mundo tentaram passar por líderes empresariais responsáveis, ao mesmo tempo em que roubavam aos países seus bens mais preciosos. Poderíamos salvar inúmeras vidas em todo o mundo se as pessoas comuns pudessem se beneficiar da riqueza de seus próprios recursos naturais. Os responsáveis
​​da Shell poderiam ir para a prisão por essas decisões. A empresa e seus tomadores de decisão individuais neste caso precisam enfrentar a justiça. A aplicação da lei na Itália, na Nigéria, no Reino Unido, nos EUA, nos Países Baixos e na Suíça precisa cooperar para garantir que isso aconteça", acrescenta.

No entanto, a responsabilidade é apenas uma parte da solução, de acordo com a  Global Witness. Este escândalo da Shell não é um caso isolado.  A indústria de petróleo, gás e mineração é a mais corrupta do planeta, de acordo com a OCDE. Shauna Leven lembra que "Mais de 30 grandes economias, incluindo as do Reino Unido, Canadá, Noruega, EUA e todos os países da União Europeia agora têm leis em vigor que exigem que as empresas de petróleo, gás e mineração divulguem o que estão pagando qualquer governo projeto por projeto. Se essas leis estivessem em vigor no momento do acordo, a Shell teria que declarar publicamente estes pagamentos.  É muito pouco provável que quisessem fazer isso. Dar visibilidade a acordos corruptos como a da OPL 245 impede as empresas multinacionais de conspirar com os funcionários gananciosos do governo para enriquecer às custas das pessoas comuns."

Um porta-voz da Shell disse a Finance Uncovered: "Dado que este assunto está sob investigação, seria inadequado comentar sobre pontos específicos. Contudo, com base na nossa revisão do processo do procurador de Milão e em todas as informações e dados disponíveis à Shell, não acreditamos que exista uma base para processar a Shell. Além disso, não temos conhecimento de nenhuma evidência para apoiar um caso contra qualquer empregado anterior ou atual da Shell”. Se for provado que a empresa de Etete pagou subornos relacionados ao negócio da OPL 245, “a posição da Shell é que nenhum desses pagamentos foi feito com seu conhecimento, autorização ou em seu nome ", disse a empresa. Veja a resposta completa do Shell aqui.

Eni disse à Global Witness que não era apropriado debater o mérito das alegações, já que os processos estavam pendentes. Eles notaram "declarações imprecisas e descaracterizações do registro, incluindo, por exemplo, a descrição da estrutura da aquisição OPL 245", continuando "nenhum dos contratos relativos à transação de 2011 foi executado secretamente ou projetado para" ocultar "a  transação". Veja a resposta completa da Eni aqui.

Ambas as empresas afirmaram ter encomendado investigações separadas e independentes. "Nenhuma conduta ilegal foi identificada", disse Eni, alegando que "concluiu a transação com o governo nigeriano sem o envolvimento de intermediários". A Shell disse que tinha compartilhado as principais conclusões da sua investigação sobre a OPL 245 com as autoridades competentes e que "não acreditamos que exista uma base para processar a Shell."

Em janeiro Goodluck Jonathan divulgou uma declaração dizendo que ele "não foi acusado, indiciado ou responsabilizado por coletar de forma corrupta dinheiro na forma de propinas ou subornos " no caso de OPL 245. 





Ava Lee 

Oliver Courtney  






Nota:

Em 2011, a Shell e a gigante italiana Eni pagaram US $ 1,1 bilhão por um bloco de petróleo sabendo que o dinheiro iria para uma empresa de fachada de propriedade de um notório ex-ministro nigeriano do petróleo, Dan Etete, que havia sido condenado por lavagem de dinheiro. Etete havia se premiado com o bloco enquanto estava no cargo sob o ex-ditador militar Sani Abacha, através da Malabu Oil and Gas, uma empresa que ele secretamente possuía.

Os relatórios anuais da Shell dão poucos detalhes sobre o acordo da OPL 245, apesar do enorme potencial do bloco de petróleo. Mas com 9 bilhões de barris de "reservas prováveis", o bloco poderia aumentar as "reservas comprovadas de petróleo" da Shell - um número-chave para os acionistas - em um terço.

Em dezembro de 2016, as acusações de lavagem de dinheiro foram apresentadas pela Nigéria contra Dan Etete e o ex-Procurador-Geral da Nigéria e Ministro da Justiça Mohammed Adoke. Em uma declaração em dezembro de 2016, Mohammed Adoke disse: "Espero, no momento oportuno, me disponibilizar para me defender da acusação, qualquer que seja". Ele também enfatizou que não se beneficiou do acordo, o qual, segundo ele, salvou o governo de uma quebra de contrato em que a Shell estava reivindicando US$ 2 bilhões. Ele chamou as acusações de "planos orquestrados para me levar ao descrédito público a fim de satisfazer os desejos e caprichos de alguns interesses poderosos na missão de vingança".

A declaração completa de Mohammed Adoke está disponível em  http://thenationonlineng.net/malabu-will-come-defend-adoke/  


Eni publicou vários comunicados de imprensa sobre o acordo OPL 245, disponíveis em https://www.eni.com/en_IT/media/2017/02/eni-further-forensic-investigations-confirm-no-illegal-conduct-in-acquisition-of-opl-245-licence   







Aumento da violência muda os hábitos dos brasileiros



Segundo especialista em segurança, Glauco Splendore, consumo e tráfico de drogas impulsionam crimes

 

A sensação de insegurança vivida pela população parece crescer a cada dia. Pesquisa recente, denominada “Retratos da sociedade brasileira – Segurança Pública”, realizada pelo IBOPE em 141 municípios brasileiros revela que quase sete em cada dez brasileiros (68%) consideram a situação da segurança no Brasil ruim ou péssima (eram 51% em uma pesquisa similar realizada em 2011). O percentual é ainda mais alto se levada em consideração a percepção dos moradores das cidades periféricas (80%). Comparando com três anos, 60% acreditam que a situação no país, em 2017, está pior. Os reflexos: os cidadãos e as próprias entidades têm buscado alternativas para garantir a proteção, seja individual ou coletiva.

O levantamento, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CDI), mostrou que quatro em cada dez famílias tiveram alguma vítima de assalto no último ano e que 86% dos brasileiros atribuem às drogas o aumento da violência nas cidades. Além disso, sete em cada dez pessoas afirmaram ter mudado hábitos para se prevenir contra a violência.

Para o especialista em segurança e sócio da Splendore Blindagem – empresa que atua no segmento de blindagem de veículos -, Glauco Splendore, as pessoas estão mais cautelosas e têm evitado, de diversas formas, a exposição ao risco. “As famílias têm equipado suas casas e veículos buscando algum tipo de blindagem contra o terror. Instalam alarmes, grades e a contratação de diversos seguros extras, além de investir, cada vez mais na blindagem veicular”, destacou. 

Segundo ele, o aumento do tráfico e consumo de drogas, sobretudo o crack, tem trazido uma onda de assaltos e agressões em proporções inéditas. “Basta dizer que hoje, há um crescimento bastante significativo de assaltos a veículos e latrocínios (roubo seguido de morte) justamente para sustentar o vício. Também nota-se, sob esta mesma lógica argumentativa, uma altíssima incidência relacionada ao roubo de celulares e residências”, diz. 

Dados recentes da Secretaria de Segurança Pública (SSP), em São Paulo, apontam que, somente no mês de fevereiro de 2017, foram registrados 296 casos de homicídio - um aumento de 3,14% em referência ao mesmo mês de 2016. Já os latrocínios, subiram bem mais. São 34 casos, contra 24. Mais de 40% de elevação, se comparados a fevereiro de 2016. 


Blindagem veicular

Uma das grandes mudanças, detectadas pelo especialista em segurança, Glauco Splendore, acerca das medidas tomadas pela sociedade para garantir a proteção, é a blindagem de veículos. Além de investimentos crescentes de empresas públicas e privadas neste procedimento, é cada vez mais frequente a participação das famílias brasileiras.

Segundo informações obtidas junto ao Exército Brasileiro, em 2016, foram blindados 18,5 mil veículos. São Paulo é responsável por 70% desta frota. “Antes, a blindagem era um privilégio exclusivo de artistas e da classe política. Hoje, empresários e famílias de classe média têm optado intensamente por esta prática”, destaca Splendore, que afirma que o segmento de blindagem deverá ter um crescimento de até 20% em 2017.

O especialista esclarece, ainda, que a blindagem mais comum é o nível III-A, que protege contra qualquer armamento de mão e exige a autorização do Exército. Ele não indica a blindagem para todo o tipo de veículo. “É aconselhável que o automóvel tenha um motor mais potente (a partir de 1.4), pois o veículo fica em torno de 160 quilos mais pesado”.

A blindagem veicular resolve a sensação de insegurança?

Segundo Splendore, a blindagem, desde que bem feita, traz uma tranquilidade à medida que garante a sobrevivência de quem transita em um carro, mas a segurança plena só é possível com políticas públicas que enfrentem o tráfico de drogas e a criminalidade de forma eficaz.

 

 

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