Talvez você se lembre do nome de quem matou
Odete Roitman, mas ninguém sabe dizer, até hoje, quem matou PC Farias no
chamado “crime que abalou o país”. A história está repleta de casos de
corrupção em que o corrupto se dá muito mal. A maioria? Quem sabe?
O significado do termo por si só já apresenta
seus dentes, pois “corrupta”, em latim, é a junção das palavras “cor” (coração)
e “rupta” (quebra ou rompimento). Algo que, de cara, não me parece provocar um
resultado bom ou convidativo: romper com o coração.
A origem do termo está no latim, mas a
prática é muito mais antiga que a língua. Fico espantado quando vejo pessoas
associarem a corrupção aos brasileiros. Olhe em volta, viaje à China para
conhecer as fábricas de trabalho escravo de um quarto da população do planeta
ou jogue um feixe de luz sobre a indústria bélica americana. Procure entender o
que acontece na Somália, Líbia, Coréia do Norte, Venezuela, Camboja ou
República do Congo.
Outro
dia, em uma mesa de bar, um suíço questionou uma colombiana sobre como era a
vida na Colômbia em contato com os traficantes. Ela, com calma e uma lucidez
cortante, respondeu que quem deveria conhecer os traficantes era ele, pois é na
Suíça que eles depositam todo dinheiro e encontram cobertura para o que fazem.
Muito firme o ponto de atenção dela e isso tem um nome, chama-se: corrupção. A
história nos apresenta líderes de países “desenvolvidos” da Europa mestres
nessa “arte”.
O que fazer com todo este dinheiro? Alguns
dirão: “para comprar o poder!” Mais poder? Poder para roubar? Roubar para
poder? De certo, alguém já lhe fez a deliciosa pergunta: “o que você faria caso
ganhasse uma bolada rechonchuda na loteria? O que faria se amanhã
depositássemos um bilhão de reais em sua conta?”.
Muitos podem ainda ter o cuidado de
questionar: “mas será um bilhão de reais que pertencem a mim ou um bilhão de
dinheiro sujo, roubado dos cofres públicos?”. Considero uma boa pergunta, pois
muda completamente a situação do beneficiado. Mas a dúvida inicial persiste: o
que fazer com um valor tão colossal?
O despropósito dos valores é proporcional à
falta de propósito na vida dos corruptos. Não há finalidade alguma, o rombo que
se faz no cofre público é sem propósito. Sim! Para entender qual o propósito de
cada uma na vida, é preciso pensar sobre os valores mais elevados e a aspiração
individual de algo que valha a pena ser vivido.
Perceba que não há nesse momento um
questionamento à falta de caráter ou cobrança por mais integridade, retidão e
princípios, mas, sim, a constatação da importância do propósito de vida
particular de cada um, aquilo que Aristóteles chama de ética – ou seja,
reconhecer aquilo a que se aspira e dirigir-se nesse sentido. Na rota contrária
a isso, o mundo contemporâneo demonstra ser capaz de produzir uma legião de
líderes sem noção, razão, motivo, critério, senso, discernimento ou juízo.
Momento em que paramos para pensar: quem é
essa pessoa? O que ela quer de verdade? Estamos no tempo certo para distinguir
sucesso de felicidade! Afinal, quantas pessoas o mundo já produziu com uma
carreira de sucesso e tremenda infelicidade?
Mais
uma face desse espelho distorcido que engana a tantos: olhe no rosto daquele
que você julgar corrupto, tente buscar um sinal de felicidade e não
encontrarás! Agora, pense em alguém que você considera muito feliz, e o que
aparece? Vamos lá! Busque na memória alguém de suas relações que você nomearia
como uma pessoa “exemplo de felicidade”, e veja o que encontra: propósito de
vida, altruísmo e generosidade.
Alvaro Fernando - autor do livro
“Comunicação e Persuasão – O Poder do Diálogo”, no qual demonstra a importância
comunicacional de virtudes como propósito de vida, altruísmo e generosidade.
Fernando é premiadíssimo compositor de trilha sonora, vencedor de três leões em
Cannes, duas medalhas em New York Festival e três estatuetas no London
Festival.
Há
mais de 25 anos no mercado, atua com os principais anunciantes dentro e fora do
país. http://www.alvarofernando.com.br/