Psicóloga
explica sobre o real sentido do termo e quais as medidas necessárias para
entender o paciente
Bêbado, drogado e viciado.
Quem nunca ouviu estes termos sendo utilizados para julgar uma pessoa?
O fato é
que essas poderosas palavras são empregadas de maneira errada quando designadas
para descrever um distúrbio ou problema de saúde.
O uso abusivo de substâncias
como álcool e outras drogas deve ser retratado como “dependência química”,
termo um tanto quanto recente desde a sua origem. Foi apenas em 1964 que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu o termo "dependência"
para substituir os termos "vício" e 'habituação'. Mais tarde, em
1967, o termo “alcoolismo” ingressou pela primeira vez no Código Internacional
de Doenças (CID-8).
“Até então não se entendiam
as dependências como uma doença, mas sim como um desvio de caráter, falta de
personalidade ou de força de vontade. Muitas vezes os usuários eram chamados de
bêbado, viciado, drogado entre tantos outros termos pejorativos”, explica a
psicóloga da clínica curitibana Quinta do Sol, Marina Vidal Stabile.
A dependência, seja ela qual
for, não se desenvolve por uma escolha, mesmo porque o dependente não tem
controle sobre este desenvolvimento, já que o uso continuado de qualquer
substância psicoativa provoca uma modificação no funcionamento cerebral. “O
termo ‘dependência química’ pode ser usado em referência a dependência de
múltiplas substâncias psicoativas ou com referência específica a determinado
medicamento ou classe de drogas”, detalha.
Embora a doença da
dependência seja aplicável a todas as classes de substâncias psicoativas, há
diferenças entre os sintomas de dependência característicos de cada substância.
Um dependente químico e/ou alcoólico tem um desejo incontrolável de consumir a
droga, aumentando a quantidade do uso com o passar do tempo para se conseguir o
mesm o efeito.
“Surgem sintomas de
desconforto psíquicos e físicos quando ela interrompe ou diminui o uso, e, para
diminuir este desconforto, ela continua usando a substância. Frequentemente a
pessoa usa mais droga e por mais tempo do que pretendia. Pode haver uma tentativa
ou o desejo de parar ou diminuir o uso, mas ainda sem sucesso”, pontua a
psicóloga.
A mudança do comportamento
dependente é uma caminhada carregada de conflitos, sendo essencial a utilização
de todas as condições disponíveis para auxiliar o sujeito a se engajar num
processo de recuperação. Apontar o dedo e estabelecer julgamentos não é
saudável, por isso, procure ajudar pacientes e pessoas com estes perfis. “O
engajamento e não acomodação dos familiares, a identificação preventiva, a
busca de auxílio especializado e o acompanhamento de longo prazo são aliados da
caminhada bem-sucedida”, finaliza Marina.
Números
De acordo com a OMS, o uso
abusivo de álcool resulta em 2,5 milhões de mortes a cada ano, sendo que 320
mil jovens com idade entre 15 e 29 anos morrem de causas relacionadas ao
álcool, resultando em 9% das mortes nessa faixa etária e, pelo menos, 15,3
milhões de pessoas têm transtornos por uso de substâncias psicoativas.
Estas e outras pesquisas
mostram que o uso de substâncias psicoativas (especialmente cocaína, crack e
drogas sintéticas) aumentou mais – proporcionalmente - no Brasil do que em
outros países do mundo. O Brasil é o terceiro maior consumidor de estimulantes
e o uso ilícito de drogas entre mulheres é aproximadamente um terço do uso
entre homens.