Especialista
revela prós e contras do uso da testosterona em mulheres
A promessa é
tentadora: menos gordura corporal, músculos mais volumosos e definidos,
celulite praticamente inexistente, estrias atenuadas e libido nas alturas. Para
isso, segundo os simpatizantes do hormônio masculino testosterona, basta
fazer uso dele para sua vida mudar para melhor. Esse hormônio é produzido nos
testículos e nas glândulas suprarrenais. Ele é responsável por todas as
características sexuais dos homens – aparecimento de pelos, aumento dos
músculos, engrossamento da voz e utilização da gordura do corpo. Ainda está
ligado à libido, à agressividade e à disposição. A substância também é
produzida nas mulheres, nas glândulas suprarrenais e no ovário, mas em uma
quantidade 30 vezes menor.
Apesar dos supostos “benefícios”, os
médicos discordam dessa prática. “O uso indiscriminado desse hormônio
gera perigosos efeitos colaterais, e estes são, sem dúvida, mais
importantes do que os possíveis resultados benéficos”, acrescenta a
endocrinologista Yolanda Schrank, do Bronstein Medicina Diagnóstica. A lista de
reações adversas provocadas no corpo feminino pelo uso sem indicação da
testosterona é assustadora. “Entre elas destacam-se o
aparecimento de acne; o aumento dos pelos; o crescimento do clitóris; queda de
cabelo, podendo resultar em calvície de padrão masculino; retenção hídrica, que
provoca inchaço; e alterações no comportamento, o que costuma deixar a pessoa
mais agressiva”, explica Yolanda. Segundo ela, o pomo de adão, conhecido
como gogó, também cresce e resulta no engrossamento da voz.
Se a dose for muito elevada ou o tempo de uso se prolongar, o
quadro fica ainda mais complicado. “Pode ocorrer aumento dos glóbulos vermelhos
e de fatores de coagulação do sangue, o que eleva o risco de trombose venosa.
Além disso, pacientes em uso de testosterona, principalmente no caso
de formulações de uso oral, apresentam perfil lipídico mais aterogênico,
com diminuição do bom colesterol (HDL) e aumento do mau colesterol (LDL), e
maior risco de desenvolver hepatite e tumores benignos
e malignos do fígado”, enumera a especialista, que
lembra também que há efeitos relacionados à parte ortopédica. “A
substância deixa os músculos maiores e mais fortes, mas não tem a mesma ação
sobre os tendões, que podem não aguentar o peso”, diz.
Por isso, os médicos alertam as usuárias de que, quanto antes o
organismo parar de receber a testosterona, melhor. Se o tempo de ingestão for
curto, há mais chance de os efeitos colaterais regredirem, porém, quem
demora a se dar conta do estrago fica suscetível a outros tipos de problema.
“Ele não provoca dependência química, mas psicológica, o que pode estar ligado
à vigorexia, síndrome em que a pessoa tem uma preocupação exagerada com o corpo
ideal, com a distorção de sua imagem, de modo que se enxerga sempre muito magra
e fraca mesmo quando está musculosa”, esclarece a médica.
Não restam dúvidas de que lançar mão do hormônio sem
orientação médica é uma furada, mas será que existe uma maneira correta de
usá-lo? Para Yolanda, se for com objetivos estéticos, não. No entanto, um
profissional pode, sim, receitar o hormônio, como no caso de mulheres que
apresentam a chamada síndrome da insuficiência androgênica, muito comum após a
menopausa, que se manifesta clinicamente com a diminuição da função sexual e do
bem-estar, fadiga, emagrecimento, instabilidade vasomotora, alterações na
composição corporal e perda de massa óssea, sintomas que podem ser atribuíveis
a diferentes etiologias, muitas vezes dificultando o reconhecimento do
diagnóstico.
Uma prova terapêutica com reposição
de testosterona pode ser útil, devendo o hormônio, entretanto, ser suspenso
caso não haja melhora dos sintomas após seis meses de uso. Vale ressaltar que
não existem ainda estudos de longo prazo que mostrem a segurança da reposição
por mais de 24 meses. A avaliação da função hepática e dos lipídios é
recomendada em todas as mulheres candidatas à reposição de
testosterona, bem como a dosagem da testosterona no sangue durante o
período do uso, no intuito de evitar excessos na dose. Lembramos
ainda que a via de reposição transdérmica (cremes, adesivos, gel) deve ser
preferida à via oral, já que apresenta menos efeitos adversos. Por fim, toda
mulher em uso de reposição hormonal, seja feminina ou masculina, deve ser
submetida a uma avaliação individualizada, e seu uso não é recomendado
em pacientes com câncer de mama ou endométrio, doença cardiovascular e
doença hepática.