Outro dia desses, em uma ativação de marca, observei
uma criança encostando o rosto em uma parede feita de tecidos texturizados. Ela
fechou os olhos e sorriu, entregue às sensações e ao momento. O espaço era
bonito, mas o que realmente a fez sorrir, tocou seu emocional e ficou marcado
foi o toque. E ali me dei conta, mais uma vez, de um lembrete poderoso: as
experiências mais memoráveis são aquelas que despertam os sentidos e provocam
emoções genuínas.
Há tempos sabemos que os sentidos são atalhos diretos para a
memória. Mas, em um mundo saturado por telas, lives, feeds e filtros, onde
parecer no virtual domina sobre o ser real, reconectar-se com o mundo físico
tornou-se um diferencial competitivo. Em 2025, o marketing sensorial voltou com
força, e não se trata apenas de intuição, mas de dados concretos. É um retorno
às origens, mas com a tecnologia no bolso.
Segundo relatório publicado recentemente pela Value
Market Research, o mercado global de análise
sensorial e experiência do consumidor deve alcançar a marca de US$11,49 bilhões
até 2033, partindo dos US$5,72 bilhões que o mercado atingiu em 2024, ou seja é
uma projeção de crescimento anual a uma taxa de 8,06%. Já o setor focado no
design de embalagens sensoriais deve alcançar os US$26,65 bilhões até 2030,
segundo relatório da Research
and Markets. Um levantamento da Deloitte aponta que 82% dos consumidores lembram mais de marcas que
ativaram múltiplos sentidos em suas campanhas. Ou seja, podemos dizer que a
antiga máxima foi atualizada: não basta pensar que “a primeira impressão é a
que fica”, é preciso compreender que “a primeira emoção é a que conecta”.
No Cannes Lions 2025, o sensorial branding foi
protagonista. Um dos cases premiados foi da marca japonesa de sorvetes
Morinaga, que transformou suas lojas em ambientes imersivos baseados em ASMR: o
som suave da casquinha quebrando, o leve murmúrio do freezer ligado, o tilintar
das colheradas. Tudo isso harmonizado com aromas de baunilha e menta em uma
coreografia quase cinematográfica, um espetáculo que falava diretamente aos
sentimentos através de uma sinfonia sensorial. O resultado? Filas, memória
afetiva e, claro, buzz.
No Brasil, temos observado marcas de beleza incorporando
fragrâncias personalizadas em ativações, e até instituições financeiras
utilizando texturas diferenciadas nos ambientes de atendimento para transmitir
conforto e confiança. O tradicional jingle, por sua vez, continua presente, mas
agora ele surge com tecnologia 8D e áudio binaural - é teoria da neurociência
aplicada, ampliando sua capacidade de imersão.
Entre os cinco sentidos, olfato e tato vêm se destacando nas
ativações sensoriais. O olfato, por sua ligação direta com o sistema límbico,
responsável por emoções e memórias, possui um poder evocativo único. Já o tato
nunca esteve tão em alta. Por mais avançadas que sejam as tecnologias de
imersão virtual, ainda não criaram a substituta para a sensação de “pegar para
sentir”. É o tradicional instinto do “ver com as mãos” que, não à toa, é tão
natural para as crianças, enquanto descobrem e exploram o mundo à sua volta,
criando suas primeiras conexões, agregando valor e significados às coisas.
E não estou falando de ativações milionárias, não. Uma embalagem
com relevo, uma instalação com piso tátil ou até mesmo um convite perfumado são
exemplos acessíveis de como gerar conexão sensorial real. O marketing
sensorial, nesse sentido, se mostra inclusivo e democrático.
No contexto pós-pandemia e diante do avanço da inteligência
artificial, há uma busca crescente pelo que é real. Por mais que o mundo
virtual esteja aí e tenha seu fascínio, o contato sensorial passou a ser uma
forma de ressignificar o físico. Atualmente, é muito menos sobre gerar curtidas
ou fotos para o Instagram e mais sobre estar presente e sentir, de fato.
Uma ativação sensorial eficaz não é a mais chamativa ou
extravagante, que grita aos olhos com luzes piscantes, ou aos ouvidos
com música de impacto apenas. É a que nos sussurra direto ao coração,
através também dos olhos e ouvidos, mas especialmente do nariz e da pele,
gerando uma conexão sutil e pessoal, mas profunda, intensa e duradoura.
Para o segundo semestre de 2025, o mercado aposta forte em
experiências sensoriais mais integradas. Grandes eventos como o SXSW Latam e o
Rio2C já anunciaram espaços dedicados ao sensorial como eixo estratégico. E
marcas dos setores de alimentos, turismo e bem-estar devem liderar esse
movimento explorando também elementos comestíveis, aromáticos e até gustativos,
afinal, degustação é também uma poderosa ferramenta de marketing sensorial.
Minha aposta pessoal? Entender o perfil sensorial do seu
consumidor e promover experiências personalizadas. Esta pode ser a chave para
garantir conexões únicas e inesquecíveis com sua marca, porque ninguém sente as
coisas da mesma forma, e a emoção mora nos detalhes.
Marketing sensorial pode ser perfume, mas não é perfumaria! É
estratégia. É neurociência aplicada. É um convite para as marcas desconectarem
o piloto automático e voltarem a se conectar com o que realmente importa: a
emoção humana.
Se um simples toque pode desencadear o sorriso sincero de uma
criança e transformar uma parede em memória afetiva, imagine o que uma
experiência multissensorial completa pode fazer pelo vínculo entre marca e
consumidor.
Nos encontramos por aí, de preferência, com todos os sentidos despertos.
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