Entenda como funciona, quem pode doar
e quais são os métodos utilizados
A doação de medula óssea pode
representar a única chance de cura para milhares de pacientes com doenças
hematológicas graves, como linfoma, leucemia e mieloma. No entanto, ainda há
muitas dúvidas e receios que afastam potenciais doadores, seja por mitos ou
pela falta de informação sobre o processo. Para esclarecer os principais
pontos, a hematologista Camila Gonzaga, médica do Instituto de Oncologia de
Sorocaba (IOS), respondeu às dúvidas mais comuns sobre o tema.
1. Só é possível doar medula óssea para alguém da família?
Mito. Embora a compatibilidade entre
familiares seja maior, também é possível encontrar doadores não aparentados por
meio do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME). “A compatibilidade
é verificada por meio de um exame de tipagem HLA, e a doação pode ser feita por
um voluntário cadastrado em bancos de dados nacionais e internacionais”,
explica.
2. Qual é a idade ideal para se cadastrar?
A faixa etária ideal para se cadastrar é entre 18 e 35 anos. “A razão para o cadastro ser preferencialmente até os 35 anos é que as células-tronco de doadores mais jovens tendem a ter melhor qualidade e menor chance de complicações para o receptor”, explica a médica. Já a idade máxima para um doador de medula óssea depende do contexto: se o doador é aparentado (familiar) ou não-aparentado (voluntário de registro).
“Para doadores aparentados não existe
um limite de idade absoluto. Há estudos que mostram que até mesmo pessoas com
60 ou 70 anos podem ser consideradas, desde que em boas condições clínicas. Já
para voluntários cadastrados em registros nacionais e internacionais, o limite
prático geralmente é de 60 anos”, detalha Dra. Camila.
3. A doação é dolorosa?
Segundo a médica, a dor associada à doação é muito menor do que se imagina, e hoje existem dois métodos: punção direta para aspiração da medula óssea, e aférese de sangue periférico, muito similar a uma doação de sangue. A coleta por aspiração direta de medula óssea é um procedimento de aproximadamente 90 minutos, realizado em centro cirúrgico, sob anestesia geral. “Nos dias seguintes, é comum sentir uma dor localizada leve, similar a um desconforto de uma queda ou de um esforço físico intenso, que é perfeitamente controlada com analgésicos comuns e desaparece em poucos dias", explica.
Já na coleta por aférese, que é o método mais comum atualmente, o
doador recebe por alguns dias uma medicação que estimula a liberação de
células-tronco da medula para a corrente sanguínea. No dia da doação, o sangue
é retirado através de um acesso venoso. O sangue passa por uma máquina que
filtra as células-tronco, devolvendo o restante ao doador. “Nesse cenário, a
dor é mínima. A medicação que estimula as células tronco pode causar alguns
efeitos temporários, como dores ósseas ou musculares, semelhante a uma gripe,
que desaparecem logo após a doação. O próprio procedimento de aférese é
indolor, podendo causar apenas o incômodo da picada da agulha", afirma a
hematologista.
4. O doador precisa ficar internado ou afastado do trabalho?
Depende do método utilizado. Na punção
direta, recomenda-se internação de 24 horas e afastamento de até uma semana em
casos de atividades físicas intensas. Já na aférese, o procedimento é ambulatorial,
dura de 3 a 4 horas e permite retorno às atividades no dia seguinte. “Em ambos
os casos, o doador é acompanhado pela equipa médica e recebe todas as
orientações para uma recuperação tranquila, afirma.
5. A doação enfraquece o organismo do
doador?
“Absolutamente não. A medula óssea é
um tecido com uma incrível capacidade de autorregeneração. Em poucas semanas, a
medula do doador estará completamente recuperada e produzindo sangue normalmente",
diz a médica. Na aspiração direta, apenas uma pequena fração da medula é
retirada (cerca de 5% ou menos), e o corpo repõe rapidamente. Já na aférese, a
medula permanece intacta.
6. Qual é a probabilidade real de ser chamado para doar depois do cadastro?
“A probabilidade é considerada baixa, mas não é impossível. Estima-se que as chances variem de 1 em 100 mil a 1 em 400 mil para encontrar um doador compatível não aparentado", diz a médica. Isso acontece porque a compatibilidade para medula óssea é determinada por um conjunto complexo de genes (HLA), muito mais específico do que o tipo sanguíneo. A chance de duas pessoas não aparentadas serem compatíveis é rara.
“No entanto, essa baixa probabilidade é exatamente a razão pela qual é tão importante se cadastrar: quanto mais pessoas estiverem no cadastro, maior a chance de um paciente encontrar seu doador compatível”, finaliza Dra. Camila.
Instituto de Oncologia de Sorocaba
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