Perder o interesse por algo, ao perceber que “deixou de ser uma novidade”, é um tipo de comportamento e hábito, muito comum entre as pessoas. Culturalmente, somos incentivados a desejar sempre o mais novo, o mais recente e o mais incrível.
Porém, quando essa
busca pelo novo se torna uma obsessão e a pessoa só sente prazer e motivação
por novidade e perde o interesse muito fácil, ela pode estar desenvolvendo um
tipo de traço de personalidade que chamamos de Neofilia.
Segundo a
psicanalista Andrea Ladislau, a neofilia não é considerada um transtorno
psicológico, mas uma tendência comportamental que identifica e classifica
indivíduos que estão sempre em busca de novas experiências, tecnologias, ideias
ou projetos, sempre potencializados pela impulsividade
"No
entanto, quando a novidade acaba, dando espaço para a rotina em um ciclo de
repetições, o prazer vai embora e entra em cena a frustração e o
desânimo", explica a especialista.
Segundo Andrea, os
Neófilos – pessoas que sofrem com a Neofília – são inconformistas e costumam
estar em constante busca por estímulos e motivações diversas para alimentar o
próprio prazer. Odeiam rotinas e padrões e sofrem quando não conseguem enxergar
novidade no que estão fazendo ou planejando.
"No
entanto, podemos destacar que a Neofilia não possui apenas aspectos negativos.
Ela provoca o que chamamos de “pulsão de vida” que é o que faz o indivíduo se
sentir vivo, produtivo e capaz de ser um instrumento de realizações e mudanças.
Nesse sentido, ele demonstra possuir altas habilidades criativas e inovadoras.
Por outro lado, psicologicamente falando, são impulsivos e se frustram com
muita facilidade, potencializando emoções e sentimentos conturbados como:
tristeza, irritabilidade e perda de foco", diz.
Entenda
os sintomas
Andrea complementa
que esse entediar-se com atividades que não remetam à novidade, é um dos
sintomas da Neofilia. Além disso, não estar satisfeito com a rotina e viver
envolvido em mudanças constantes em diversos campos da vida, também são fatores
consideráveis a serem observados.
"Outro
ponto clássico é a dificuldade de se manter em relacionamentos fixos e
prolongados, pois quando a relação cai na rotina, ela deixa de ser atrativa e
prazerosa. Os Neófilos também estão sempre trocando de emprego e alternando
hobbies e atividades em curtos espaços de tempo. E tanto o brilho nos olhos,
quanto o foco, se perdem com muita facilidade, ao se ver envolvido em projetos
únicos e de longo prazo. O prazer está no fato de assumir riscos que
possibilitem experimentar o inédito, a todo custo" acrescenta a também
neuropsicóloga.
Mas, como saber,
em que momento, essa busca por novidades se torna um problema? Quando ela vira
uma obsessão e apresenta uma intensidade que torna as conquistas rasas e
temporárias.
A resposta segundo
a especialista é quando a rotina se torna uma vilã e a insatisfação crônica
começa a interferir nas escolhas e nas relações pessoais.
"Ou
seja, tudo que é alicerçado em excessos, gera culpa e insegurança. E esse
excesso de impulsividade pode revelar uma personalidade fóbica e avessa ao
aprofundamento das relações humanas, comprometendo sua capacidade de manter
compromissos e relacionamentos", afirma.
O tratamento para
a Neofilia é a terapia e o autoconhecimento para descobrir onde estão os gatilhos
que só revertem prazer se houver o “novo”.
"É
preciso entender quais os padrões estão enraizados e os motivos pelos quais a
estabilidade emocional e pessoal, de forma inconsciente, não fazem parte do
comportamento do indivíduo. Portanto, a leveza e o equilíbrio podem ser
alcançados, através da autoconsciência e do desenvolvimento e planejamento de
estratégias de autocontrole", finaliza.
Enfim, a Neofilia
é mais comum do que se imagina e trabalhar a atenção plena com o objetivo de
reduzir a impulsividade, a insatisfação e provocar a “vivência do agora”, sem
sofrer pela busca constante do “novo”, são ações fundamentais para conseguir
mitigar os efeitos negativos deste tipo de comportamento, de forma a estimular
a criatividade e os desejos, através de hábitos saudáveis e estáveis.
"Portanto, o desejo intenso e excessivo por novidade, anda de mãos dados com a impulsividade e gera a dispersão e a desconexão consigo e com os outros", finaliza.
Andrea Ladislau - doutora em Psicanalise Contemporânea, Neuropsicóloga. Graduada em Letras - Português/ Inglês, Pós graduada em Psicopedagogia e Inclusão Digital, Administração de Empresas Administração Hospitalar. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro
Instagram: @dra.andrealadislau
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