Macacos jovens ajuntam-se, formam bandos, saem às algazarras e agridem outros que encontram em situação desvantajosa pelo caminho. Esses macacos despertam atenção sobre si. Obter atenção, no caso, é vantagem evolutiva: propicia mais acasalamentos, logo, reprodução. Macacos ostentosos tendem a reproduzir macacos tais e quais.
Humanos jovens fazem o mesmo,
inclusive servindo-se de recursos tecnológicos. Além de gritos, brigas e
agressões em grupo, música em alto volume e veículos barulhentos. Rapazes com
esses hábitos ainda são mais sorteados pelas garotas do que aqueles que primam
pela elegância na aproximação. Sim, há exceções. Falo do comportamento padrão.
Macacos jovens atacam e surram outros
macacos jovens que estejam mais fragilizados. Fazem isso gratuitamente, sem
nada em disputa. As vantagens evolutivas de manter acuados espécimes de menor
vigor físico explicam o comportamento. Evolutivamente, macacos
“bem-comportados” reproduzem-se menos.
Primatas privilegiados pela evolução,
os machos (principalmente, mas não só) humanos, sobretudo na adolescência, agem
do mesmo modo. Não seria exatamente esse o comportamento que adolescentes
reproduzem nos territórios em que se aglomeram e se exibem? Creio que a esse
ancestral procedimento deu-se, agora, o nome de bullying.
Essas atitudes prevalecidas não são as
típicas de dominâncias em competição. Ocorre prevalecimento de valentões sobre
vítima em situações desvantajosas. É um assédio covarde. Comumente, se
confrontados, os atacantes não se dispõem ao enfrentamento.
Seja como seja, nessa prática
(bullyng) há alguém, muitas vezes uma vítima preferencial, sendo física e
moralmente insultado de forma cruel, gratuita e reiterada. Ora bem, não somos
macacos. Alguma providência deve ser tomada.
Saímos da selva, porém, preservamos
conteúdos primitivos. Na adolescência, a referência é o bando. O indivíduo quer
se fazer valer perante a turma, de preferência na turma. Então, se há
intervenção do adulto, embora ela seja protetora, dela decorre mais humilhação
ao humilhado, pois se lhe comprova a própria incapacidade, e dá-se, ao ver do
acudido, razão aos agressores.
A proteção interventora impossibilita
a afirmação da identidade do perseguido por ele mesmo: foi salvo, não se
salvou. Claro, esclarecimentos podem ajudar, todavia não suprem a condição
genética, o orgulho próprio e a relevância social conquistada, determinantes da
afirmação individual frente ao grupo.
Pode-se retrucar: membros de famílias
mais estruturadas provocam menos situações desse tipo. De fato, famílias
estruturadas civilizam melhor (reprimem comportamentos, Freud), fornecem mais
aportes culturais, enquanto famílias à margem dessas possibilidades deixam
brotar com mais facilidade condições humanas primitivas.
A educação familiar, todavia, muitas
vezes só vige sob fiscalização direta, o que raramente é possível. O que
importa dizer, de toda forma, é que escolas acumulam adolescentes, como a internet
também o faz. Em ambientes em que se aglomerem jovens, esses problemas
brotarão; eles compõem a condição humana.
Embora juvenil, a violência que
permeia episódios de bullying é brutal. A família, a escola e o Estado são
meios legítimos e relevantes para interferir, proteger, punir. Entretanto, não
recompõem a subjetividade, não recuperam a autoestima da vítima. Tenho comigo,
há muito tempo, outro eficiente jeito de arrostar situações dessa natureza: ser
forte.
Fortes têm a compostura oriunda da própria força. A
sujeição sistemática à opressão despoja a dignidade. É justo defender-se
altivamente. As artes marciais são um “lugar” de calibragem pessoal. Seja
gentil com a existência da sua criança: praticantes de artes marciais
assenhoreiam-se mais e melhor das próprias circunstâncias.
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