“É comum que a esponja concentre até mais coliformes fecais do que o próprio vaso sanitário”, alerta Paula Eloize
Na rotina doméstica, a esponja de lavar louça parece um símbolo de limpeza. É ela que passa por pratos, copos, talheres, bancadas e até o fogão. Mas o que pouca gente sabe — e menos ainda coloca em prática — é que esse objeto inofensivo pode ser um dos maiores vetores de contaminação dentro de casa.
Pesquisas microbiológicas revelam que a esponja de cozinha pode abrigar milhões de bactérias por centímetro cúbico, incluindo microrganismos perigosos como Salmonella, Escherichia coli (E. coli) e Listeria monocytogenes. Em comparação, é comum que a esponja concentre até mais coliformes fecais do que o próprio vaso sanitário.
Paula Eloize, mestre em segurança dos alimentos pela Universidade de Lisboa, faz um alerta claro: “A umidade, o acúmulo de resíduos orgânicos e a temperatura ambiente criam um ambiente ideal para a multiplicação de bactérias. E o pior: essa contaminação é invisível aos olhos”, diz.
Segundo ela, a percepção equivocada de que a esponja “limpa”
contribui para o problema. “Na verdade, em muitos lares, a esponja está
espalhando contaminação por toda a cozinha. Ao reutilizar a mesma esponja para
lavar talheres, limpar a pia e secar respingos do chão, por exemplo, estamos
ampliando os pontos de risco”, avisa.
Risco real, mesmo com aparência limpa
Uma das grandes armadilhas é a aparência. Mesmo sem cheiro forte ou manchas visíveis, a esponja pode estar colonizada por bactérias. “Você não precisa ver a sujeira para saber que ela está ali. Isso vale para a esponja e para outros itens domésticos, como panos de prato e tábuas de corte”, reforça Paula Eloize.
Ela explica que a contaminação cruzada começa justamente nesses pequenos descuidos: uma esponja suja encostada num prato lavado, um pano úmido usado para limpar o balcão onde se vai preparar salada, ou uma faca que corta carne crua e logo depois legumes.
“O ambiente doméstico não costuma seguir protocolos de
higienização, como ocorre em cozinhas profissionais. Isso torna ainda mais
importante a conscientização e o cuidado com esses objetos que usamos todos os
dias sem perceber os riscos envolvidos”, destaca.
Quando trocar? E como higienizar?
Apesar de muitas pessoas acreditarem que ferver a esponja ou levá-la ao micro-ondas resolva o problema, a eficácia desses métodos é limitada. “Algumas bactérias são resistentes ao calor e podem sobreviver, especialmente quando a higienização não é feita com regularidade.
A recomendação mais segura continua sendo a troca frequente — pelo menos uma vez por semana, ou antes, se houver mau cheiro, descoloração ou textura comprometida”, orienta a especialista.
Além disso, o ideal é que cada função tenha sua própria
esponja: uma para lavar louça, outra para limpar superfícies e outra para o
fogão, por exemplo. Isso reduz o risco de disseminação de microrganismos entre
áreas diferentes da cozinha.
Riscos à saúde
As consequências da contaminação por esponjas sujas vão muito além de um simples desconforto gastrointestinal. “Estamos falando de infecções que podem evoluir para quadros graves, com febre alta, vômitos, diarreia intensa, desidratação e, em casos extremos, hospitalização. Grupos de risco, como crianças, idosos e gestantes, são ainda mais vulneráveis”, explica Paula Eloize.
Segundo ela, os mesmos cuidados que se exige de restaurantes e cozinhas industriais precisam ser adotados no ambiente doméstico. “Segurança dos alimentos começa em casa. Não basta confiar no visual ou no hábito. É preciso rever práticas que se tornaram automáticas, mas que colocam em risco a saúde da família inteira”.
Diante dos dados e dos riscos reais, a mensagem é direta: aquela esponja na beira da pia pode estar mais suja do que parece. E a prevenção começa com ações simples, mas conscientes — como trocar, separar e higienizar corretamente.
“Se a gente consegue mudar o olhar sobre a esponja, muda também a forma como cuidamos da nossa cozinha. E isso impacta diretamente na prevenção de surtos alimentares dentro do lar, que hoje, infelizmente, lideram as estatísticas no Brasil”, conclui Paula Eloize.
Nenhum comentário:
Postar um comentário