Por mais que a escoliose seja um dos problemas de
coluna mais vistos no mundo, pouco ainda era compreendido na medicina acerca
das causas e influências de certas tipologias deste diagnóstico. Agora, uma
nova pesquisa identificou uma variante genética presente na escoliose
idiopática do adolescente, em uma descoberta que pode contribuir muito para o
desenvolvimento de tratamentos mais assertivos, personalizados e precoces que
garantam a qualidade de vida ao paciente.
De acordo com dados da própria OMS, cerca de 2% e
3% dos adolescentes em todo o mundo são afetados por essa patologia. Contudo,
suas causas ainda eram desconhecidas no ramo, o que tornava mais difícil sua
prevenção nesta faixa etária e elevava a importância do acompanhamento
periódico com profissionais especializados para sua identificação em estágios
iniciais.
Com este novo achado, por outro lado, esta
dificuldade pode estar prestes a ser eliminada. Conduzida por Antonio Eulalio
Pedrosa Araujo Junior, a pesquisa envolveu 202 pacientes diagnosticados com
escoliose idiopática do adolescente, além de 555 pessoas sem a doença, e
conseguiu captar uma diferença notória desta variante genética entre os casos
de presença e ausência do problema.
Além do fato dessa escoliose combinar diversos
fatores com teorias variadas sobre sua origem, incluindo questões genéticas,
erros metabólicos e alterações no crescimento ósseo, o estudo identificou que a
maioria dessas alterações genéticas estava em mulheres abaixo dos 18 anos, com
baixo peso ou com índice de massa corporal considerado normal.
Isso pode estar relacionado a dois fatores
principais: primeiro, pela sequência genética ser ligada ao cromossomo X, e
segundo, pela musculatura da mulher ser mais fraca, o que faz com que ela tenha
um anteparo contra a deformidade da coluna menor, pela musculatura ter menos
potência pela menor concentração de testosterona, o que leva a uma hipotrofia
muscular.
Também foi observado, ainda, que pacientes que
apresentavam uma sequência genética específica têm um maior risco de
desenvolver a doença. Isso faz com que a incidência desta patologia entre
pessoas da mesma família seja alta, corroborando, dessa forma, com o que já
vinha sendo identificado na parte clínica.
É claro que ainda precisamos aguardar e observar de
que forma essa descoberta será transportada aos consultórios. Porém, ela já
abre uma margem extremamente positiva para aperfeiçoar o diagnóstico desta
tipologia em adolescentes, possibilitando uma descoberta antecipada que evite
seu agravamento e piora da qualidade de vida aos pacientes.
Em um exemplo prático, a pesquisa pode viabilizar,
como exemplo, o desenvolvimento de algum teste genético específico para tratar
preventivamente pacientes que têm uma maior probabilidade de terem escoliose,
além de também abrir espaço para a execução de novos trabalhos científicos
voltados a verificar se a aplicabilidade desta sequência genética também pode
ser vista em outros tipos de escoliose e outras faixas etárias.
Mesmo ainda em estágio muito inicial, a descoberta desta variante genética é um passo importante no aprimoramento do diagnóstico e tratamento da escoliose idiopática em adolescentes, assim como sua expansão para outras tipologias deste problema, de forma que possamos ter cada vez mais métodos assertivos que garantam a saúde dos pacientes, em todas as faixas etárias.
Dr. Carlos Eduardo Barsotti - cirurgião ortopedista formado pela Faculdade de Medicina da USP, Mestre em Ciências da Saúde e Pós-graduado pela Harvard Medical School. Com mais de 19 anos de experiência na área, é um dos poucos profissionais do país a realizar intervenções de alta complexidade, principalmente na correção de escoliose. https://drcarlosbarsotti.com.br/
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