Em geral, se temos nossas concepções confrontadas, tendemos a permanecer com o pensamento estabelecido. Raramente abrimos mão de uma opinião formada, não obstante a razoabilidade de argumentos contrários. A filosofia considera a argumentação uma ferramenta base de trabalho. Sócrates inventou o melhor método argumentativo, a maiêutica, que consiste em perguntar ao interlocutor, não em afirmar-lhe algo.
Multiplicando perguntas, Sócrates conduzia o
conversante a determinadas respostas. Assim, como as conclusões restavam advindas
do seu colocutor, o filósofo obtinha com mais facilidade adesão às suas
proposições. Não obstante a eficácia do procedimento, ou até mesmo por culpa
dela, sobrou a Sócrates um pequeno incidente: ele foi condenado à morte sob a
acusação de corromper a juventude e ofender os deuses com suas ideias.
Embora a persuasão seja necessária para o
trânsito de juízos e para a própria vida em comum, persuadir não é tarefa
fácil. Usualmente se supõe que pessoas de escassa inteligência ou
intelectualmente parcas são menos suscetíveis. Não é assim; antes, pelo
contrário: quem é inteligente e estruturou seus pensamentos no senso comum
tende a usar a inteligência e a estrutura conceitual para mantê-los, esgrimindo
falação com maestria.
Assinado por Tauriq Moosa, papodehomem.com.br
publicou Os perigos de ser inteligente, que edito: conforme “recente texto de
Jonah Lehrer no New Yorker, ‘a inteligência parece piorar as coisas’. Isso se
dá porque, como concluíram Richard West e seus colegas, ser mais inteligente
não faz com que você seja melhor em transcender visões injustificadas e crenças
ruins que naturalmente acabam fazendo parte da sua vida.
Pessoa mais inteligentes são mais capazes de
justificar a si mesmas e as suas inconsistências ou falhas óbvias, enquanto
provavelmente censurariam interlocutores que exibissem tolices equivalentes.
São as piores nesse aspecto porque não conseguem reconhecer os seus
condicionamentos e enganos graças a uma camada complexa e profunda de
justificativas que contaram a si mesmas e que manobram com habilidade”.
Mesmo quem é dado ao bom hábito da leitura
muita vez reproduz esse mau costume. Há quem resuma os estudos à confirmação do
que já pensa; não se põe sob checagem, decifrando a vida em uma rota de mão
única. Talvez de feitios assim advenham as “bolhas”: aglomerados fanatizados de
favoráveis à mesma causa. Nesses casos, a defesa de posições extrapola em
ataques já não a adversários de ideias, mas a inimigos ideológicos.
Enfim, gente inteligente, intelectualmente convicta e com aptidão de raciocínio, mais se munida de “certos” dados, argumenta melhor contra críticas, inclusive as adequadas. Inteligência, contudo, nem sempre abona correção. Em muitos casos, ela só faz a pessoa ficar melhor em se haver por certa. Eu sugeriria, assim, que você desfrute de sua inteligência, contudo, indague seus saberes. Seja: que cultive uma metódica modéstia intelectual.
Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Psicanalista e Jornalista.
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