Conheça mais sobre esta doença rara e se informe sobre o atendimento oferecido pela rede Ebserh a quem tem ‘a pele como asas de borboletas’
A Epidermólise
Bolhosa (EB) é uma doença genética e hereditária, considerada rara, que provoca
formação de bolhas na pele em decorrência de atritos ou traumas. Estima-se que
aproximadamente 500 mil pessoas no mundo tenham a doença, que afeta cerca de
800 pessoas no Brasil, segundo dados da DEBRA Brasil, associação que objetiva
difundir conhecimentos sobre essa doença e auxiliar para que as
pessoas com EB tenham qualidade de vida e acesso aos tratamentos médicos
adequados.
“A
Epidermólise Bolhosa congênita é um defeito genético. Temos no mínimo 25 genes
estudados e documentados associados a ela. Esse número deve crescer, porque
temos descoberto nova mutação, que também pode levar a uma fragilidade cutânea,
uma apresentação clínica da epidermólise bolhosa congênita”, explica a
dermatologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Brasília
(HUB-UnB), Carmen Déa.
De acordo com
a especialista, a EB congênita tem algumas apresentações clínicas diferentes:
há formas mais leves, mais brandas, que são ditas formas simples, e as formas juncionais
e distróficas, que são as formas mais graves e são percebidas no
nascimento.
“A forma
simples pode não estar presente no nascimento, mas espera-se que ela surja nos
primeiros dois anos de vida. Ela se manifesta com o surgimento de bolhas e
pequenos traumas ao segurar a mãozinha da criança, segurá-la por baixo dos
braços e levantar a criança, então uma coisa que não provocaria uma lesão em
outra criança, nessa criança que tem Epidermólise Bolhosa vai provocar um descolamento
da camada mais superficial da pele e a formação de bolhas. A Epidermólise
Bolhosa se caracteriza por isso, uma fragilidade, essas bolhas são induzidas
por pequenos traumas”, detalha a dermatologista, Carmen Déa.
A doença pode
afetar homens e mulheres e pode ocorrer em todas as etnias e faixas etárias,
embora seja mais comum os sintomas se manifestarem já na primeira infância.
“Quando a gente fala da causa genética, elas são atribuídas a mutações em
cromossomos autossômicos, então não são nos cromossomos X ou Y (que definem o
sexo da criança)”, acrescenta a médica.
Consequências
e cuidados
Nas formas
mais leves a doença tende a melhorar com o avançar da idade, porque a pessoa
começa a se cuidar e entender melhor, e passa a ter menos formação de bolhas.
As formas mais agressivas vão evoluir com cicatrizes, fibroses, sequelas, e
muitas vezes com o comprometimento da função das mãos, dos pés e de outras
partes afetadas.
Segundo a
dermatologista Carmen Déa, a criança que desde pequenininha apresenta Epidermólise
Bolhosa pode ter um retardo no crescimento, porque ela está sempre com o
metabolismo acelerado, gastando muita energia e muitos nutrientes para
cicatrizar as lesões. Essas lesões comprometem as mucosas, a boca, o trato
gastrointestinal, então o paciente pode ter dificuldade em se alimentar,
levando a quadros de anemia e retardo do crescimento.
Quanto às
queixas dos pacientes, o prurido (coceira) é o mais frequente, então é preciso
controlar esse prurido com medicamentos específicos, até porque quanto mais a
pessoa com Epidermólise Bolhosa se coça, mais lesão pode ser produzida. Banhos
podem ser muito dolorosos, troca dos curativos, então nesses momentos
frequentemente são utilizados analgésicos e técnicas de distração das crianças.
Com o
tratamento e acompanhamento profissional adequados, é possível prever e até
evitar complicações. Por isso, o tratamento é multiprofissional e envolve
neonatologistas e intensivistas, pediatras, dermatopediatras e dermatologistas,
geneticistas, patologistas, otorrinolaringologistas, oftalmologistas,
dentistas, ortodentistas, especialistas em dor, neurologistas, psicólogos,
fonoaudiólogos e ortopedistas.
Apesar de ser
uma doença rara e grave, se houver diagnóstico precoce e o acompanhamento
adequado, os pacientes podem participar das atividades diárias com menos
restrições. Eles podem ir à escola, brincar, ir à praia e praticar esportes de
forma supervisionada e adaptada.
Existem
diferentes curativos especiais para o tratamento das feridas provocadas pela
doença disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
A servidora
pública federal Anna Carolina Ferreira da Rocha, 40 anos, nasceu com
Epidermólise Bolhosa e aprendeu a lidar com a doença. “Na infância foi
relativamente tranquilo porque eu tinha menos lesões, mas eu tinha compreensão
de que precisa ter alguns cuidados para não me machucar. Então, por exemplo, na
hora do recreio eu ficava num canto mais quieto, mais isolado, que tinha um
escorregador, tinha brinquedos, mas não era o lugar onde ficavam a maioria das
crianças, então ali eu conseguia me proteger um pouco mais, não me machucar na
época da escola”.
Anna Carolina
ressalta que a EB traz certas limitações, pois existe todo o trabalho de
prevenção necessário para não provocar mais lesões, mas que a doença não é um impedimento
para viver o mais plenamente possível. “Temos que nos adaptar a esta realidade
e viver bem com ela, sem fazer disso o foco da nossa vida. A Epidermólise
Bolhosa não me define. Não podemos deixar que ela impeça a gente de viver”.
Tratamento
no Distrito Federal
O
HUB-UnB/Ebserh oferece cuidados aos pacientes com EB há mais de 20 anos. O
serviço é considerado referência nacional e mundial no tratamento da doença,
com reconhecimento da EB-Clinet, rede global de centros especialistas em
EB, e apoio técnico-científico da Associação Debra Brasil. O hospital
também conta com a parceria da Associação de Parentes, Amigos e Portadores
de Epidermólise Bolhosa Congênita do Distrito Federal (Appeb).
Atualmente o
HUB atende 17 pacientes e o atendimento abrange acompanhamento ambulatorial e
durante a internação, dispensação de medicamentos, suplementos nutricionais e
coberturas para a pele. O serviço é prestado por uma equipe multidisciplinar,
que inclui: assistente social, dentistas, dermatologistas, endocrinologista,
enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudióloga,
gastroenterologistas, geneticista, neonatologista e nutricionistas.
“Os pacientes
recebem as coberturas (curativos) e os suplementos nutricionais, aqui mesmo no
hospital, abastecido pela SES-DF, evitando o deslocamento. Isso foi um pedido
da associação acatada pela direção do hospital”, afirma Ana Paula Zidório.
nutricionista e coordenadora da equipe multiprofissional para atendimento das
pessoas com EB no HUB.
Isso foi um
pedido da associação para administração do hospital Como o paciente já tem que
passar por muitas consultas aqui, facilitamos, entregando, as coberturas e os
suplementos no HUB mesmo”, disse Ana Paula Zidório.
Tratamento
no Mato Grosso
O ambulatório
de dermatopediatria do Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM-UFMT/Ebserh)
existe há mais de 10 anos e, no momento, acompanha sete crianças com
epidermólise bolhosa congênita.
A
dermatologista Ivana Garcia explica que os atendimentos são direcionados a
todas as doenças dermatológicas da faixa etária pediátrica, incluindo doenças
raras, como a epidermólise bolhosa.
“Crianças que
têm necessidade de acompanhamento específicos de outras áreas, como por exemplo
gastropediatria, ortopedia, pediatria geral ou nutrição são encaminhadas para
agendamento pela central de regulação”, esclarece a médica.
Daisy Nathali
Alves mora em Nova Bandeirantes (MT), a 1020 km da capital Cuiabá. Ela e seu
esposo, Claudecir, são pais de uma menina de 14 anos e um menino, de 9 meses.
Rafael Beeker Bremm, diagnosticado com Epidermólise Bolhosa (EB).
“Quando ele
nasceu, não tinha um diagnóstico certo, mas fomos encaminhados pra Cuiabá. Fiz
uma cesariana de emergência e não pude colocar ele no colo, de imediato, nem o
pai dele pode vê-lo. Fomos ver ele quase 2 da manhã e ele havia nascido às
16h... Mas de relance, no pouco tempo que vi, percebi que o pezinho dele
parecia não ter pele, era bem vermelhinho, com algumas bolinhas no rosto e no peito”.
Bebês com
ausência congênita de pele, formação de bolhas ou fragilidade na pele devem
fazer a confirmação do diagnóstico da EB por biópsia da
pele e imunofluorescência direta logo após o nascimento.
“Esse momento
foi um choque, um turbilhão. Mas hoje ele está aqui conosco: esperto, curioso,
inteligente. alegre, risonho, comunicativo! Todo mundo, se apaixona por ele,
fácil”, ressalta a mãe.
Daisy Nathali,
revela que não se apegou na forma que EB se manifestou - se tipo simples,
juncional ou distrófica. “Eu não me apeguei a isso. Ele é só um bebê com EB,
meu bebê borboleta”. E acrescenta: “Vou lhe ser muito sincera, isso é um mundo
novo para mim e para meu marido. Cada dia é uma adaptação diferente e eu me dou
muito bem com a condição dele. Mas é um dia de cada vez. Eu não penso como vai
ser quando ele estiver maiorzinho, nós quatro vamos crescer com ele. Cada etapa
será, como terá que ser. Nos preocupamos? Muito! Claro, que sim! Mas vamos
fazer de tudo para ele ter e ser igual a qualquer outra criança”.
As crianças com Epidermólise Bolhosa são conhecidas como “Crianças Borboletas”, pela fragilidade e delicadeza de sua pele. Em uma criança com EB as proteínas responsáveis pela união da pele sofrem alterações.
FONTES
Carmen Déa - Dermatologista do HUB-UnB
Ana Paula Zidório- nutricionista e coordenadora da equipe multiprofissional para atendimento das pessoas com EB no HUB
Ivana Garcia - dermatologista do HUJM-UFMT
Hospitais da rede Ebserh
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