Por 62 votos a 1, parlamentares aprovaram projeto que busca reduzir participação acionária e controle do Estado na companhia de saneamento
Cléber Gonçalves e Matheus Batista - Foto: Rodrigo Costa e Rodrigo Romeo |
Os parlamentares da Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo aprovaram, em sessão extraordinária
realizada nesta quarta-feira (6), o projeto que autoriza o Governo do Estado a
realizar medidas de desestatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo (Sabesp). A proposta foi aprovada com 62 votos favoráveis e 1
contrário.
Encaminhado para a análise do
Poder Legislativo pelo governador Tarcísio de Freitas, o Projeto
de Lei 1.501/2023 buscava a
autorização do Parlamento para que o Executivo possa negociar sua participação
acionária na companhia e, assim, transferir o controle operacional da empresa à
iniciativa privada. Atualmente, o Estado detém 50,3% do capital da empresa.
Investimentos e fundo para a universalização
A principal premissa da proposta
reside na ampliação do acesso ao saneamento básico para a população paulista a
partir da transferência de gestão e maior participação de investimentos
privados na companhia.
O Governo pretende antecipar em
quatro anos a universalização do saneamento básico - que, de acordo com o Marco
Legal do Saneamento, aprovado pelo Congresso Nacional em 2020, deve ser
alcançada até 2033. De acordo com o texto do projeto, com a desestatização, a
Sabesp terá R$ 10 bilhões a mais
em investimentos durante o período.
O projeto de lei aprovado também
estabelece que uma parte dos recursos gerados no processo de desestatização seja
revertida em obras de saneamento básico e na redução da tarifa para os
consumidores. O texto legal prevê que pelo menos 30% do valor líquido da
operação seja destinado a essa área, verba que deverá ser aplicada no Fundo de
Apoio à Universalização do Saneamento no Estado de São Paulo (Fausp).
Tramitação
A proposta deu entrada na Casa em
18 de outubro deste ano e tramitou em regime de urgência. Durante a tramitação,
o projeto recebeu 173 emendas parlamentares que buscavam acrescentar ou alterar
dispositivos da matéria e quatro substitutivos, todos contrários à
desestatização da companhia.
A discussão que culminou na
aprovação desta noite teve início ainda em novembro, em reunião conjunta das
comissões de Constituição, Justiça e Redação; Finanças, Orçamento e
Planejamento; e Infraestrutura da Alesp.
O grupo colegiado aprovou o
relatório do deputado Barros Munhoz (PSDB) que, além de ser favorável a
desestatização da Sabesp, incorporou 26 emendas parlamentares ao texto do
projeto - com destaque para a garantia da estabilidade dos atuais servidores da
companhia por um período de seis meses após a efetiva desestatização da
empresa.
Antes de ser pautada em Plenário,
a proposta foi tema de uma audiência pública convocada pelo presidente da
Alesp, deputado André do Prado, e realizada no Plenário Juscelino Kubitschek. O
evento contou com a presença de pessoas e grupos organizados favoráveis e
contrários à medida.
Durante a última sessão realizada
nesta quarta-feira (6), a votação chegou a ser suspensa e a galeria esvaziada,
após uma parte dos manifestantes comprometer a segurança e entrar em confronto
com a Polícia Militar. A discussão da proposta foi retomada após o
restabelecimento da ordem.
Discussão em Plenário
No Plenário, o processo de
discussão e votação da matéria se arrastou por três dias, tendo começado na
última segunda-feira (4), e foi marcado pelos posicionamentos dos deputados de
diferentes partidos e opiniões.
Durante os encaminhamentos da
votação, o deputado Barros Munhoz (PSDB) defendeu a medida, como importante
para melhorias na qualidade de vida da população. "Vamos [...] confiar no
Tarcísio, que é um grande governador, que tem uma história de vida, que não
faria uma aventura. Está fazendo algo difícil, mas que é pelo bem de São Paulo",
disse.
O líder do Governo na Alesp,
deputado Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), enalteceu a medida e
agradeceu o apoio dos pares. "Esses deputados que estão aqui têm
compromisso com o cidadão paulista. Querem levar serviços públicos de qualidade
também para a população que ainda não tem serviços de qualidade."
Já os parlamentares contrários à
medida, questionaram pontos prometidos pelo projeto, como a redução da tarifa e
a antecipação da universalização do saneamento. "O Estado pretende
utilizar parte do dinheiro arrecadado com a venda da própria Sabesp para
subsidiar a tarifa. Tal projeto não mostra sustentabilidade por si só, já que o
dinheiro é finito", afirmou o deputado Reis (PT).
Para a deputada Andréa Werner
(PSB), a transferência do controle da Sabesp para a iniciativa privada pode ser
negativa para a população. "A Sabesp combina dois pontos essenciais, que,
sob a perspectiva do mercado, são a receita da catástrofe. Um deles é que o que
ela oferece é água e saneamento básico, que é um bem essencial. O outro é que a
Sabesp é um monopólio e a gente vai estar falando de privatizar um
monopólio", disse.
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