No mês das crianças, o período entre 12 e 18 de outubro é marcado como a Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância. De acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, analisados em estudo produzido pelo comitê científico do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), o Brasil registra 673 casos diários de violência contra crianças de 0 a 6 anos (28 por hora).
Para a médica pediatra, fundadora do Espaço Zune e
especialista em Disciplina Positiva pela Discipline
Positive Association, Loretta Campos, a
parentalidade positiva vem ganhando espaço, mas ainda há um caminho desafiador
a ser percorrido. “Carregamos muito do que vivenciamos na nossa infância e da
forma como fomos criados. Entender que para ser firme é possível ser gentil
ainda é um questionamento frequente entre os pais. Mas, acredito sim que a
parentalidade positiva vem se fortalecendo ao longo do tempo”, argumenta.
Violência na primeira infância
De fato, a violência na primeira infância acontece predominantemente dentro de casa. Os dados apurados por meio do Disque 100 - linha que recebe denúncias de violação de direitos humanos, inclusive envolvendo crianças - apontam que 84% das agressões contra crianças registradas diariamente têm pais, padrastos, madrastas ou avós como suspeitos.
Para a pediatra, é necessário refletir sobre o sentimento que nossa forma de educar causa. Ela ressalta que é possível ter firmeza sem perder a gentileza, posicionamento central na parentalidade positiva. “Jane Nelsen questiona: ‘Por que para educar precisamos fazer com que o outro se sinta pior?’. É possível educar sem agredir física ou verbalmente a criança”, afirma a médica que é educadora parental e pós-graduanda em Parentalidade e Comportamento Infantil.
Como Loretta explica, é importante entender que por trás de todo comportamento há uma necessidade a ser atendida e isso torna os cuidadores mais empáticos com a criança. Além disso, entender a maturação neurológica de cada fase da infância também é fundamental, pois possibilita educar sem diminuir o outro ou desconstruir esse indivíduo, deixando que ele desenvolva plenamente essa maturidade emocional.
Punição ineficaz ou prejudicial
“É muito comum ouvir a frase: ‘Eu apanhei e sobrevivi. Virei gente’. Contudo me pergunto se esse indivíduo consegue expressar suas emoções, se precisa sempre agradar ao outro para se sentir amado, se consegue ter uma boa relação com os pais ou se um dia de convívio já gera discussões, como está a sua autoestima. Enfim, carregamos muito da nossa criança interior. Nosso papel como pais na construção desse ser humano organizado emocionalmente é importantíssimo. Por isso, educar é tão desafiador”, pontua.
A especialista salienta que castigos e punições não têm a eficácia esperada e ainda levam a prejuízos como a desconexão com os pais, gerando sentimentos como raiva, baixa autoestima e medo. Ela reforça que os pais precisam estar conectados com seus filhos para que eles possam sentir segurança e buscar apoio.
A médica frisa que a parentalidade positiva demanda mais
do que evitar condutas violentas com os filhos. Dentre seus pilares
estão ainda a conexão entre pais e filhos, o respeito
mútuo, a comunicação não violenta e efetiva,
a responsabilidade e autodisciplina,
a solução de problemas e cooperação. “A geração dos nossos
filhos hoje traz a internet, o acesso rápido a informações, o uso de
eletrônicos, a mãe muitas vezes ativa profissionalmente. É preciso também nos
permitir pensar ‘fora da caixa’ para que a nova realidade não comprometa a
saúde emocional da família”.
Pedriatra, pais e atenção às crianças
A melhor forma de manter a firmeza sem perder a gentileza e recorrer a atitudes violentas, é ouvir as necessidades da criança. A especialista explica que tanto o pediatra, que é o médico da família, e precisa interpretar as queixas da criança para compreender o ambiente familiar, como os pais precisam praticar a escuta ativa. Com ela, é possível saber a razão da mudança de comportamento e até avaliar a necessidade de buscar o suporte de outros profissionais como psicólogos, por exemplo.
Por fim, Loretta reforça que não existe
um manual a ser seguido e recomenda a busca de muita informação, grupos de pais
e mães, palestras ou mesmo a leitura de livros. “Não
nascemos pais, aprendemos a ser. Como todo aprendizado, é preciso buscar o
conhecimento. Na parentalidade isso não deve ser diferente”,
completa.
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