O Dia das Crianças é uma data especial, que nos faz lembrar da importância de cuidar dos pequenos em nossa sociedade. No entanto, muitas vezes, a forma como celebramos essa data pode estar longe do que as crianças realmente precisam. Em um mundo cada vez mais dominado por dispositivos eletrônicos de última geração e distrações digitais, é crucial refletir sobre como podemos oferecer às crianças o que elas verdadeiramente necessitam.
Você já parou para pensar
sobre o que realmente a sua criança necessita de você?
Ao observarmos uma criança, imediatamente nos vêm à
mente imagens de vitalidade, alegria, ânimo e determinação. Associamos a
infância à energia inesgotável, sinceridade e brincadeiras cheias de barulho.
No entanto, ao mesmo tempo em que temos essa visão positiva da infância, não
podemos ignorar os preocupantes dados que emergem em nossa sociedade contemporânea.
Nos dias de hoje, testemunhamos um aumento
alarmante no diagnóstico de problemas de saúde mental em crianças, uma
realidade que antes era incomum. Ansiedade, depressão, distúrbios alimentares,
ideação suicida e uma autoestima debilitada são cada vez mais comuns entre os
pequenos.
Diante dessas constatações, surge uma pergunta
angustiante: como passamos da imagem otimista e cheia de vitalidade da infância
para essa triste realidade de problemas de saúde mental em nossas crianças? É
uma questão que exige reflexão e ação para entender as causas e buscar soluções
que promovam um ambiente mais saudável e equilibrado para o desenvolvimento
infantil.
A natureza demonstra uma sabedoria incrível ao nos
fazer os filhotes mais dependentes da classe de mamíferos. Essa dependência
permite que nosso cérebro se desenvolva e cresça plenamente. À medida que
amadurecemos, continuamos dependentes do cuidado de outros adultos, não apenas
em termos físicos, mas também emocionais. Hoje, a ciência confirma que o
contato constante com os pais nos primeiros meses de vida é fundamental para um
desenvolvimento cerebral saudável em crianças.
Às vezes, concentramos nossa atenção em detalhes como
o enxoval, o quarto ou eventos como chás de revelação, sem refletir sobre o que
realmente importa para um bebê. O que eles realmente precisam é de pais
presentes, emocionalmente preparados e equilibrados para a jornada da
paternidade. Esses bebês necessitam de muito colo e carinho para se sentirem
seguros, além de exposição ao sol, atividades ao ar livre e um ambiente repleto
de amor, doação e, especialmente, tempo.
Os primeiros anos de vida de uma criança são
cruciais para o desenvolvimento de habilidades sociais, autoestima e confiança.
A ligação emocional que se forma entre pais e filhos durante esse período é
alicerce para o futuro. Portanto, à medida que enfrentamos a jornada da
parentalidade, é essencial lembrar que o que realmente importa é o amor,
carinho, dedicação e tempo que estamos dispostos a investir em nossos filhos.
Isso não apenas nutre seu crescimento saudável, mas também cria vínculos
emocionais duradouros que enriquecem suas vidas e as nossas.
O choro da criança é sua linguagem inicial, a forma
pela qual ela se expressa e comunica seus sentimentos, necessidades e
desconfortos. No entanto, em algumas situações, podemos nos deparar com a
tendência de suprimir rapidamente esse choro, como se fosse uma inconveniência
a ser evitada. Negligenciar a presença e a dedicação dos pais, juntamente com a
importância do choro como meio de comunicação da criança, pode ter efeitos
negativos a longo prazo no bem-estar emocional.
Além disso, muitas vezes, as crianças são
desestimuladas a falar ou expressar suas emoções, pois isso pode atrapalhar os
pais que estão trabalhando em home office. Correr e brincar são
atividades essenciais para o desenvolvimento físico e social, mas essas
atividades são frequentemente restringidas devido a preocupações em fazer barulho
para não incomodar os vizinhos de baixo ou ao ambiente inadequado, como
restaurantes sem área para crianças.
Por vezes, a tecnologia é usada como um “paliativo”
para manter as crianças silenciosas. No entanto, essa não é a maneira como os
seres humanos se desenvolvem. O desenvolvimento ocorre quando as crianças podem
correr, pular, brincar e socializar. Além disso, as crianças imitam os
comportamentos dos adultos ao seu redor.
É importante lembrar que, se queremos que nossas
crianças adquiram hábitos saudáveis, precisamos nos tornar modelos. Se nossos
filhos estão constantemente vendo os adultos ao seu redor consumindo tecnologia
durante as refeições, como podemos esperar que eles façam o contrário? Se não
cumprimentamos nossos vizinhos, como podemos esperar que nossos filhos
desenvolvam habilidades sociais sólidas? As refeições em família à mesa são um
momento especial para conexão, um momento em que todos podem se sentar,
conversar e compartilhar suas experiências do dia. Além disso, comer juntos promove
hábitos alimentares saudáveis e a valorização da comida como uma oportunidade
de nutrição e socialização, tornando-se um momento de gratidão.
Da mesma forma, o acompanhamento escolar é uma
forma de demonstrar interesse pelo desenvolvimento educacional das crianças.
Estar envolvido na educação delas, participando de reuniões escolares e
ajudando com a lição de casa, mostra que valorizamos não apenas seu crescimento
intelectual, mas também seu bem-estar emocional.
É importante ressaltar que os pais desempenham o
papel de parceiros da escola, não concorrentes ou clientes exigentes. Delegar
atividades de cunho pessoal e familiar para uma instituição de ensino pode ser
visto e sentido pela criança como falta de interesse e afeto, provocando um
sentimento de menos valia e negligência. Portanto, a cooperação e parceria
entre família e escola são fundamentais para o desenvolvimento saudável e feliz
das crianças.
À medida que o Dia das Crianças se aproxima,
convido você a uma reflexão profunda sobre suas atitudes e exemplos que tem
transmitido aos seus filhos. Pergunte a si mesmo: “Quais valores minhas ações
estão passando para meu filho?”.
Neste dia especial, considere dar às crianças o que
elas realmente necessitam: amor, carinho, dedicação e tempo. Esses elementos
não só nutrem um crescimento saudável, como também criam vínculos emocionais
profundos que enriquecem a vida de todos.
Como pais e cuidadores, somos os modelos de
comportamento que nossos filhos observam e imitam. Portanto, vamos aproveitar
esta oportunidade para refletir sobre como podemos atender às necessidades
naturais de nossas crianças em um mundo em constante transformação, assegurando
que nossas ações e escolhas estejam alinhadas com os valores que desejamos
transmitir.
Feliz Dias das Crianças.
Nathalia de Paula - psicanalista clínica e educadora parental especializada em terapia emocional de famílias e terapia integrativa do sono infantil. Além disso, ela é co-fundadora e gestora do Instituto Lumina Educacional desde 2017, uma escola de ensino regular com educação infantil e fundamental.
@nathaliadepaula.parental
@nasuapsique
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