Pesquisar no Blog

quinta-feira, 25 de maio de 2023

O vício em drogas: conseguimos perceber quando alguém está viciado?

Um problema cada vez mais comum, o vício em drogas é um processo de sofrimento para muitas famílias, no entanto, não é irreversível; especialista explica a condição

 

O tempo todo ouvimos, na televisão e nos jornais, sobre o vício em drogas. Seja em filmes que romantizam os casos, como Scarface ou até mesmo nas inúmeras reportagens que vemos diariamente sobre a “Cracolândia” e o tráfico de entorpecentes. No entanto, o lado humano é pouco observado nesses casos, assim como a maneira que o vício nessas substância afeta a vida de cada uma dessas pessoas, que certamente não queriam estar nessa posição. 

A dependência de químicos pode afetar pessoas de qualquer idade, gênero ou classe social, para se ter uma ideia, o Ministério da Saúde registrou no último ano 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos devido ao uso de drogas. Porém, muito mais do que números, famílias são perdidas pelo abuso de drogas. Recentemente, ganhou repercussão na mídia a história da técnica de enfermagem Vanessa Sales que, ao tentar ajudar sua filha viciada, também se viciou pela substância conhecida como K9, uma droga sintética que faz com que os usuários fiquem travados como zumbis. 

Segundo a psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, Vanessa Gebrim, o vício em drogas está ligado ao sistema de recompensas do nosso cérebro. “O principal mecanismo que desencadeia o vício é o sistema de recompensa cerebral junto à neuroadaptação. Nosso cérebro sofre alterações anatômicas quando viciado, assim como mudanças em seu funcionamento químico e na comunicação entre os neurônios, que está associada ao aprendizado. Isso é possível graças à plasticidade do cérebro. Assim,  o vício transforma os circuitos neurais, reorganizando-os de forma a atribuir mais valor àquilo que lhe dá prazer”, explica. 

 

A cronologia de um vício  

Para os familiares, amigos e a própria pessoa nessa situação, pode ser difícil reconhecer um vício no início, é comum o discurso de “posso parar quando quiser”, ainda assim alguns fatores indicam que uma pessoa pode estar passando por uma adicção. “Falta de motivação para estudar e trabalhar, mudanças no comportamento, irritabilidade, olhos vermelhos, muito tempo longe de casa ou perda de objetos de valor podem indicar o uso desenfreado de psicoativos”, enumera a psicóloga. 

Os piores efeitos, contudo, estão na pessoa que está passando por esse momento, que vai precisar de uma rede de apoio e ajuda para lidar com as consequências. “o indivíduo apresenta sintomas físicos diante da abstinência da substância química.Por outro lado, a dependência psicológica refere-se a um estado de mal-estar que se manifesta após a pessoa interromper o uso de uma droga. Ou seja, a ausência de determinada substância promove uma reação negativa no cérebro. Quando uma pessoa está sob o efeito da droga acontece uma diminuição da tensão, da ansiedade, elevação da euforia e outras sensações agradáveis. Porém, o cérebro condiciona esses efeitos à presença da substância no organismo”, revela.  

Além disso, a vida social e profissional é afetada profundamente. “Vários são os impactos no desempenho profissional. Os mais comuns são: perda da qualidade de trabalho e diminuição da produtividade e outros impactos na vida  pessoal  e social como o descontrole emocional, menor capacidade de raciocínio e concentração, destruição dos neurônios, que diminuem a capacidade de pensar e realizar atividades, desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como depressão ou esquizofrenia e isolamento da família e sociedade”, diz Vanessa.

 

Reinserção na sociedade  

Para passar por isso, o trajeto é longo, mas possível, é necessário muita força para ficar longe dos estímulos e evitar recaídas. “A dependência química é considerada uma doença crônica, progressiva, sem cura, porém, tratável. Apesar da possibilidade de tratamento, a recaída durante o período de recuperação pode atingir de 40% a 60% dos pacientes. O dependente químico precisa de uma fase terapêutica contínua, a qual proporcionará resultados a longo prazo”, mostra.  

Além de esforço, é essencial que o círculo social também esteja engajado em reverter o quadro, quando mais cedo medidas forem tomadas, melhor. “Os familiares têm o papel de dar apoio, sem julgamentos, e ajudar o paciente na sua reabilitação. No entanto, há casos em que a família pode facilitar o tratamento ou prejudicá-lo — se for conivente com as ideias do dependente de burlar nesse processo, por exemplo. Também é fundamental que as pessoas saibam lidar com a codependência, ou seja, o desenvolvimento dos mesmos sintomas de quem sofre com o vício”, finaliza Vanessa Gebrim.

 

Vanessa Gebrim - Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, orientação de pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares, luto, entre outros

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados