Um
problema cada vez mais comum, o vício em drogas é um processo de sofrimento
para muitas famílias, no entanto, não é irreversível; especialista explica a
condição
O tempo todo ouvimos, na televisão e nos jornais, sobre o vício em drogas. Seja em filmes que romantizam os casos, como Scarface ou até mesmo nas inúmeras reportagens que vemos diariamente sobre a “Cracolândia” e o tráfico de entorpecentes. No entanto, o lado humano é pouco observado nesses casos, assim como a maneira que o vício nessas substância afeta a vida de cada uma dessas pessoas, que certamente não queriam estar nessa posição.
A dependência de químicos pode afetar pessoas de qualquer idade, gênero ou classe social, para se ter uma ideia, o Ministério da Saúde registrou no último ano 400 mil atendimentos a pessoas com transtornos devido ao uso de drogas. Porém, muito mais do que números, famílias são perdidas pelo abuso de drogas. Recentemente, ganhou repercussão na mídia a história da técnica de enfermagem Vanessa Sales que, ao tentar ajudar sua filha viciada, também se viciou pela substância conhecida como K9, uma droga sintética que faz com que os usuários fiquem travados como zumbis.
Segundo a psicóloga e especialista em
Psicologia Clínica pela PUC de SP, Vanessa Gebrim, o vício em drogas está ligado ao sistema de
recompensas do nosso cérebro. “O principal mecanismo que desencadeia o vício é
o sistema de recompensa cerebral junto à neuroadaptação. Nosso cérebro sofre
alterações anatômicas quando viciado, assim como mudanças em seu funcionamento
químico e na comunicação entre os neurônios, que está associada ao aprendizado.
Isso é possível graças à plasticidade do cérebro. Assim, o vício transforma
os circuitos neurais, reorganizando-os de forma a atribuir mais valor àquilo
que lhe dá prazer”, explica.
A cronologia de um vício
Para os familiares, amigos e a própria pessoa nessa situação, pode ser difícil reconhecer um vício no início, é comum o discurso de “posso parar quando quiser”, ainda assim alguns fatores indicam que uma pessoa pode estar passando por uma adicção. “Falta de motivação para estudar e trabalhar, mudanças no comportamento, irritabilidade, olhos vermelhos, muito tempo longe de casa ou perda de objetos de valor podem indicar o uso desenfreado de psicoativos”, enumera a psicóloga.
Os piores efeitos, contudo, estão na pessoa que está passando por esse momento, que vai precisar de uma rede de apoio e ajuda para lidar com as consequências. “o indivíduo apresenta sintomas físicos diante da abstinência da substância química.Por outro lado, a dependência psicológica refere-se a um estado de mal-estar que se manifesta após a pessoa interromper o uso de uma droga. Ou seja, a ausência de determinada substância promove uma reação negativa no cérebro. Quando uma pessoa está sob o efeito da droga acontece uma diminuição da tensão, da ansiedade, elevação da euforia e outras sensações agradáveis. Porém, o cérebro condiciona esses efeitos à presença da substância no organismo”, revela.
Além disso, a vida social e
profissional é afetada profundamente. “Vários são os impactos no desempenho
profissional. Os mais comuns são: perda da qualidade de trabalho e diminuição
da produtividade e outros impactos na vida pessoal e social como o
descontrole emocional, menor capacidade de raciocínio e concentração,
destruição dos neurônios, que diminuem a capacidade de pensar e realizar
atividades, desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como depressão ou esquizofrenia
e isolamento da família e sociedade”, diz Vanessa.
Reinserção na sociedade
Para passar por isso, o trajeto é longo, mas possível, é necessário muita força para ficar longe dos estímulos e evitar recaídas. “A dependência química é considerada uma doença crônica, progressiva, sem cura, porém, tratável. Apesar da possibilidade de tratamento, a recaída durante o período de recuperação pode atingir de 40% a 60% dos pacientes. O dependente químico precisa de uma fase terapêutica contínua, a qual proporcionará resultados a longo prazo”, mostra.
Além de esforço, é essencial que o
círculo social também esteja engajado em reverter o quadro, quando mais cedo
medidas forem tomadas, melhor. “Os familiares têm o papel de dar apoio, sem
julgamentos, e ajudar o paciente na sua reabilitação. No entanto, há casos em
que a família pode facilitar o tratamento ou prejudicá-lo — se for conivente
com as ideias do dependente de burlar nesse processo, por exemplo. Também é
fundamental que as pessoas saibam lidar com a codependência, ou seja, o
desenvolvimento dos mesmos sintomas de quem sofre com o vício”, finaliza
Vanessa Gebrim.
Vanessa Gebrim -
Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu
desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia
de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias
que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de
pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É
precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR,
Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas
modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito
cerebral. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e
trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio
das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos,
casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome
do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, orientação de
pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares,
luto, entre outros
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