O endocrinologista Leonardo Álvares e a nutricionista Adriana Pellogia, professores do Centro Universitário São Camilo – SP, falam sobre a dificuldade da população em prevenir o diabetes e quais hábitos devem ser adotados no tratamento e também para a prevenção da doença
O intervalo de 10 anos é
tempo suficiente para ver transformações em um cenário tão mutável quanto o da
Saúde. Nem todas, porém, são positivas. Foi ao longo deste tempo que a
quantidade de pessoas com diabetes no Brasil aumentou em 26,61%. A informação
foi divulgada pela Federação Internacional de Diabetes, em seu décimo Atlas do
Diabetes, de 2021.
Agora, com a proximidade do
Dia Nacional do Diabetes, em 26 de junho, abre-se espaço para uma dúvida:
o que pode ter influenciado a alta de novos diagnósticos? Em casos de diabetes
do tipo 2, de acordo com o endocrinologista Leonardo Álvares, o aumento está
ligado à maior dificuldade da população em realizar medidas
preventivas.
“Na maioria das vezes, os
alimentos contendo carboidratos simples e açúcar refinado são mais baratos do
que aqueles mais saudáveis e com baixo índice glicêmico, sendo, portanto, mais
acessíveis para certa parte da população”, explica Álvares, que também é
professor de Medicina do Centro Universitário São Camilo – SP.
A falta de prática de
exercícios físicos aliada às atividades habituais do dia a dia e lazer cada vez
mais passivas, segundo ele, são fatores contribuintes para o baixo gasto
energético – padrão este que foi fortalecido pelos dois anos de
pandemia, devido tanto às restrições de mobilidade e atividades, como pela
piora dos índices socioeconômicos da população. “Ao se sobreporem, o excesso do
ganho calórico e baixo gasto energético resultam em aumento de peso e,
consequentemente, obesidade, que é um grande fator de risco para o diabetes”,
diz o médico.
As consequências
O especialista avalia que, no
cenário de saúde pública do País, esse aumento de casos é alarmante em virtude
das complicações trazidas pelo diabetes, como doenças oftalmológicas, renais,
infarto agudo do miocárdio, e acidente vascular cerebral, entre outras. “Essas
são importantes causas de incapacitações e afastamentos relacionados ao
trabalho, e até mesmo de aumento de mortalidade. Da mesma forma, mais gastos no
sistema público de saúde são observados na população mais doente”,
pontua.
Recomendações
Nesse contexto, o
endocrinologista reforça que a melhoria do padrão alimentar e a prática de
atividade física são fundamentais para a prevenção da doença. “De forma muito
interessante, a Ciência já mostrou que a realização de atividade física reduz a
chance de desenvolvimento de diabetes tipo 2, mesmo que não haja grande impacto
no peso”, observa Leonardo Álvares.
Para aqueles que utilizam
medicações para tratamento do diabetes tipo 2, o uso regular conforme
prescrição médica é fundamental, além de visitas periódicas aos profissionais
de saúde.
Novos hábitos
Como o tratamento de pessoas
com diabetes e pré-diabetes está diretamente ligado à alimentação, é
necessário que pacientes recém-diagnosticados revejam alguns de seus hábitos.
Uma das práticas indicadas pela nutricionista Adriana Pellogia, professora de
Nutrição do Centro Universitário São Camilo – SP, é o fracionamento das
refeições diárias. Segundo ela, para estabilizar a glicemia (nível de açúcar no
sangue) é preferível que essas refeições sejam menores e distribuídas ao longo
do dia, para que não ocorram picos de glicemia elevada.
“Se olharmos o cuidado que as
pessoas com diabetes têm, deveria ser o mesmo cuidado de toda a população
brasileira. Então, a alimentação não deve divergir do que deveria ter a
população geral”, destaca.
A nutricionista recomenda
intercalar as principais refeições do dia – café da manhã, almoço e jantar –
com pequenos lanches. Para estes, “é bom optar sempre por frutas, que
são fáceis de transportar, ou sementes como nozes, castanhas e avelãs em
pequenas quantidades; e frutas secas como damasco ou uva-passa. Esses alimentos
ajudam na saciedade porque possuem fibras”, diz.
Refeições principais
“Não precisa abandonar arroz e feijão no almoço ou no jantar. Preferencialmente é para optar por uma proporção de duas medidas de arroz para uma de feijão. Recomenda-se essa medida porque as proteínas que faltam no feijão estão presentes no arroz e vice-versa. Assim, eles se complementam”, detalha Pellogia.
A professora reforça que metade do prato deve
ser composto por vegetais coloridos, principalmente os escuros e amarelos, seja
na forma de salada ou vegetais cozidos. “Deve-se evitar vegetais com molhos que
podem ser muito calóricos e gordurosos, como molho branco ou gratinado, porque
acaba perdendo a essência do alimento. Carnes magras e variadas, como frango,
peixe, carne suína e bovina também podem ser incluídas, fazendo o
rodízio entre elas ao longo da semana, e ovo também”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário